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São Paulo, terça-feira, 09 de dezembro de 2003

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VIAGEM AO ORIENTE

Chanceler palestino, Nabil Shaath, reuniu-se com Lula no Egito

Autoridade Palestina convida Brasil para negociação de paz

Alan Marques/Folha Imagem
O presidente Lula e a primeira-dama Marisa Letícia visitam as grandes pirâmides do Egito


FERNANDO RODRIGUES
ENVIADO ESPECIAL AO CAIRO

A ANP (Autoridade Nacional Palestina) convidou ontem o Brasil a integrar uma força-tarefa que ajudaria o grupo que é conhecido como Quarteto (EUA, Rússia, União Européia e ONU) para ajudar nas negociações de paz entre palestinos e israelenses.
O Brasil também deve abrir um escritório de representação ou uma embaixada em Ramallah, cidade da Cisjordânia onde está confinado o presidente da ANP, Iasser Arafat.
O convite foi feito pelo ministro das Relações Exteriores da ANP, Nabil Shaath, que teve ontem uma reunião de quase uma hora com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Palácio Kuba, a residência para hospedagem de autoridades estrangeiras no Egito.
O encontro deveria ter sido entre Lula e o primeiro-ministro palestino, Ahmed Korei. Porém Korei teve um revés nesta semana, com mais um fracasso em negociações de paz entre facções palestinas, entre as quais a extremista islâmica Hamas, e não pôde ir.
"Eu viajei oito horas de carro para este encontro com o presidente do Brasil e digo que foi recompensador", disse Shaath.
O Quarteto é um grupo quase inoperante, totalmente dominado pelos EUA. O convite da Palestina para que o Brasil integre uma força-tarefa é uma jogada política calculada da ANP. Lula e Arafat são conhecidos de longa data, tendo se encontrado no passado em Brasília, na Nicarágua e em Túnis.
A ANP quer formar um grupo de países interessados na sua causa para tentar forçar algumas decisões do Quarteto. O Brasil se entusiasmou com a proposta, pois quer dar mais visibilidade à política internacional do presidente Lula. "Precisamos ajudar mais essa Palestina", disse ele, ao sair do encontro com Shaath.

Fazer diferença
Para o ministro Celso Amorim (Relações Exteriores), não se trata de faturar politicamente. "A preocupação não é ocupar espaço, mas com alguma coisa que é vital para toda a humanidade", declarou após o encontro, ao qual também esteve presente. "Eles [palestinos] não estão brincando, não estão fazendo gracinha. Se chamaram o Brasil, é porque acham que o país pode fazer a diferença."
"Os EUA são apenas um quarto do Quarteto. Há outros países. Minha idéia para o Brasil é que, como países como a África do Sul e a Índia, passe a desempenhar um papel para acrescentar algo ao trabalho dos EUA e do Quarteto", disse o chanceler palestino.
Segundo Celso Amorim, o presidente Lula "reagiu bem" à idéia. "Agora temos de fazer os contatos diplomáticos necessários. Esse tipo de decisão tem de ser por consenso." A ANP ficou de falar com o Egito para que a comunidade árabe seja mobilizada a favor do Brasil nas negociações de paz.
Nabil Shaath entregou uma carta assinada por Iasser Arafat a Lula. Na correspondência, protocolar, há apenas a reafirmação da amizade entre os dois líderes, segundo relatou o portador.
A ANP ofereceu ao Brasil um imóvel em Ramallah para a abertura de um escritório brasileiro na cidade. Dos países latinos, apenas o Chile está no local. Seria mais uma demonstração de aproximação entre Lula e Arafat. Segundo Amorim, a decisão já está tomada -é necessário encontrar fundos para abrir a representação.
Hoje, Lula terá mais um encontro. Vai se avistar com o secretário-geral da Liga dos Estados Árabes, Amr Moussa. Depois, participa de uma sessão plenária dessa entidade, que congrega 22 países.
À tarde, Lula vai para o quinto e último país deste seu giro internacional. Embarca para Trípoli, na Líbia, onde vai se encontrar com o líder local, coronel Muamar Gaddafi. Chega de volta ao Brasil na quinta de madrugada.

Os repórteres FERNANDO RODRIGUES e ALAN MARQUES viajam no avião do governo por falta de opção de vôos comerciais para a cobertura jornalística


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