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São Paulo, terça-feira, 09 de dezembro de 2003

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CASO SANTO ANDRÉ

Descrição feita pelo empresário não bate com fisionomia dos sequestradores; "eu estava muito nervoso"

Gomes se contradiz sobre retrato falado

LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

O empresário Sérgio Gomes da Silva, acusado pelo Ministério Público de São Paulo de ter encomendado o assassinato de Celso Daniel (PT), afirmou que fez o retrato falado de um dos criminosos que sequestraram o prefeito de Santo André apesar de não ter visto a fisionomia de nenhum deles. "No dia em que a fiz, eu estava muito nervoso", afirmou.
O rosto do agressor foi desenhado por peritos do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) da Polícia Civil sob a orientação de Gomes da Silva, dois dias depois de Celso Daniel ter sido encontrado morto a tiros, em 20 de janeiro do ano passado, em uma estrada de terra em Juquitiba (a 78 km de São Paulo).
Na época, o empresário afirmou ter visto de "relance" que o sequestrador era moreno, tinha 1,70 de altura, olhos e cabelos castanhos e aparentava idade entre 20 e 25 anos. Disse ainda que o homem estava com uma camiseta marrom clara quando "arrancou" Daniel da Pajero e levou o prefeito para um dos carros da quadrilha.
Passados quase dois anos da noite do crime, Gomes da Silva afirmou, no último sábado, quando aceitou conversar com jornalistas para rebater as acusações da Promotoria, não ter visto os sequestradores de Daniel.
"[No dia do sequestro] Eu estava muito nervoso. Meu carro estava sendo metralhado, não vi nada. E o lugar era absolutamente escuro", disse o empresário. Chamado pela polícia para fazer o reconhecimento dos homens presos, não identificou ninguém.
Sobre o retrato falado feito a pedido da Polícia Civil, o empresário disse que estava "muito nervoso" e "abalado" com o que havia acontecido a Daniel, a quem chama de irmão.

Desviar
Para os promotores criminais que investigam o assassinato do prefeito de Santo André, o retrato falado produzido pelo empresário tinha como finalidade única confundir a investigação.
De acordo com a Promotoria, o rosto desenhado por Gomes da Silva, após seis horas de depoimento no DHPP, não é semelhante a nenhum dos presos acusados de participar do sequestro e da morte de Daniel.
"Essa é mais uma das inúmeras contradições de Sérgio Gomes da Silva. Ele teve a oportunidade de se defender antes de ser acusado pelo Ministério Público, mas preferiu fazer uma manifestação pública depois da denúncia", afirmou o promotor criminal José Reinaldo Carneiro.
Na denúncia oferecida na última sexta-feira, a Promotoria acusou Gomes da Silva de contratar os homens da favela Pantanal para matar Daniel, que teria descoberto um esquema de propina na Prefeitura de Santo André, do qual o empresário faria parte.


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