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JUDICIÁRIO
Presidente do STF alega que magistrados corretos trabalham nos fins de semana
Médicos recomendam 60 dias de férias aos juízes, diz Corrêa
SILVANA DE FREITAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente do Supremo Tribunal Federal, Maurício Corrêa,
disse que os juízes precisam preservar o direito a 60 dias de férias
anuais "até por recomendação
médica". Corrêa fez essa afirmação em pelo menos duas das entrevistas que deu ontem para falar
sobre o Dia da Justiça, comemorado com feriado no Judiciário.
Questionado sobre a origem da
recomendação, ele disse ter presenciado um diálogo de "um médico que conhece bem as atividades do Poder Judiciário" com outro juiz, mas não revelou o nome
de nenhum deles. "Eu estava presente e achei aquela observação
correta, porque ninguém sabe
que o juiz correto trabalha de madrugada, nos finais de semana e
não tem direito a hora extra", declarou durante entrevista à tarde.
Segundo o ministro, o volume
excessivo de trabalho obriga o juiz
a trabalhar nas férias. "Durante as
chamadas férias, ele fica quase todo o tempo com processos em casa. Sou testemunha instrumental
disso, eu faço isso."
Na primeira entrevista em que
se referiu à "recomendação médica", concedida de manhã à rádio
CBN, ele afirmou que "o juiz tem
de ter um período maior para descansar, porque não pára de pensar". À emissora, ele declarou: "Já
ouvi muito médico dizer isso".
Corrêa disse porém que caberá
ao Congresso definir a questão.
As férias de 60 dias estão previstas
na Lei Orgânica da Magistratura
Nacional, de 1979. A Câmara discutia a possibilidade de reduzir
esse período para 30 dias, alterando o projeto enviado pelo STF ao
Congresso para estabelecer uma
nova lei orgânica, mas Corrêa retirou o texto para reformulá-lo.
Controle externo
Representantes da Justiça trabalhista estão reunidos em Brasília
desde ontem para discutir, pela
primeira vez, a necessidade de
criação de um órgão de fiscalização do Poder Judiciário e a possibilidade de participação de representantes da sociedade civil.
A iniciativa é da Anamatra (Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho), que
definirá hoje uma posição sobre
esse tema, depois de consultar
seus integrantes.
"Estamos discutindo a idéia de
criação de um conselho democrático, formado por juízes de todas
as instâncias e com a participação
da sociedade civil", declarou o
presidente da entidade, Grijalbo
Coutinho.
Desde a Assembléia Nacional
Constituinte, o chamado controle
externo sempre contou com a
oposição dos juízes, mas as pressões para a sua adoção aumentaram neste ano em razão do surgimento de investigações em que
magistrados são acusados de participar de esquemas de corrupção, como a Operação Anaconda,
da Polícia Federal.
Corrêa afirmou ontem que os
juízes já estão submetidos a controle por meio do julgamento de
processos judiciais, referindo-se a
ações penais em tramitação.
O ministro do STF e atual presidente do TSE (Tribunal Superior
Eleitoral), Sepúlveda Pertence,
disse que as principais causas da
lentidão da Justiça são o excesso
de formalismo, o custo exagerado, a estrutura deficiente e o baixo
número de juízes.
Pertence citou a criação de juizados especiais, onde são julgadas
causas de pequeno valor financeiro, como exemplo bem sucedido
de reforma do Judiciário, particularmente em razão da informatização, que garantiria rapidez à
tramitação das ações.
"Temos experiências de pleno
êxito da Justiça Federal em São
Paulo, onde processos são resolvidos virtualmente, sem papel, sem
autos. Com isso, estão conseguindo solucionar um número imenso de pequenas questões, todas de
relevo excepcional para o cidadão
comum", declarou.
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