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PF acha ações de "offshore" com Norma
DA REPORTAGEM LOCAL
Dois certificados de ações ao
portador no valor total de US$ 50
mil em nome de uma empresa
"offshore" no paraíso fiscal das
Ilhas Virgens Britânicas, registrada sob o prosaico nome de Luz e
Vida Incorporation, são até agora
um enigma para a Polícia Federal
na Operação Anaconda.
Os documentos foram achados
no apartamento de São Paulo da
ex-mulher do juiz federal João
Carlos da Rocha Mattos Norma
Regina Emílio Cunha, mas os donos são desconhecidos.
A compra das ações, em duas
parcelas de US$ 25 mil, foi feita
em 10 de abril de 2000. Os certificados foram subscritos por um
diretor não identificado nominalmente de uma outra empresa, a
Waldorf Ltd..
Empresas "offshore" têm sido
usadas por brasileiros para ocultar dinheiro enviado do Brasil.
Como são submetidas a regras rígidas de sigilo em paraísos fiscais,
dificilmente os proprietários são
revelados. Com a "offshore" capitalizada, os donos podem abrir e
movimentar contas bancárias em
várias partes do mundo.
"Vagabundo"
Há outras referências a empresas "offshore" no decorrer da
Operação Anaconda.
Em conversa gravada pela própria Norma, o juiz Rocha Mattos
fica contrariado ao saber que ela
havia decidido fechar uma empresa desse tipo que havia aberto
anos atrás no Uruguai. Na gravação, o magistrado diz que pretendia colocar em nome da empresa
um apartamento no Uruguai que
seria dado pelo empresário Fausto Solano, sócio de uma corretora
de valores de São Paulo e réu em
ação na Justiça Federal.
Norma diz que mandou fechar
a "offshore" porque estava gastando mais de US$ 4.000 por ano
para mantê-la aberta "na mão daquele vagabundo". Não fica claro
a quem Norma se refere. Segundo
ela, o custo para fechamento da
empresa foi de US$ 6.000.
"Me fala uma coisa: quer dizer
que depois de todo aquele trabalho você fechou a "offshore'?",
pergunta o juiz Rocha Mattos, na
fita apreendida pela polícia.
Norma fica irritada. Ela conta
que por US$ 3.000 é possível abrir
outra "offshore" no Uruguai. Ela
então faz as contas: "Você quer
que eu pague 12 mil [dólares]? Ou
você prefere comprar uma nova
por três? Quanto que é mais barato, ô, idiota?".
O juiz lembra que "quem abriu
aquela "offshore" foi você [Norma]". Rocha Mattos pergunta por
que ela decidiu fechá-la. "Porque
você mandou!", grita Norma, ex-auditora da Receita Federal.
A terceira menção a uma "offshore" na Anaconda tem a ver com
o próprio apartamento em que
Rocha Mattos mora, sem pagar
aluguel, na rua Maranhão, em São
Paulo. O imóvel está em nome da
"offshore" Cadiwel -cujos donos também são ignorados.
Segundo a PF, além da Luz e Vida, nomes e informações sobre
outras empresas "offshore" foram encontrados no decorrer da
Operação Anaconda e teriam relação com as pessoas acusadas. O
trabalho da polícia agora seria
tentar localizar os proprietários
ou saber se há relação dessas empresas com outros escândalos que
envolvem lavagem de dinheiro.
Entre os papéis que estavam no
apartamento do empresário
Wagner Rocha, o Peru, também
preso na Operação Anaconda, os
policiais apreenderam relação de
empresas "offshore" da agência
do Banestado de Nova York.
O advogado de Norma Regina
Cunha, Paulo Esteves, disse desconhecer a apreensão dos papéis
em nome da Luz e Vida na casa de
Norma: "Nem tive notícias de que
pertence a ela".
(RV e MCC)
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