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São Paulo, terça-feira, 09 de dezembro de 2003

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PF acha ações de "offshore" com Norma

DA REPORTAGEM LOCAL

Dois certificados de ações ao portador no valor total de US$ 50 mil em nome de uma empresa "offshore" no paraíso fiscal das Ilhas Virgens Britânicas, registrada sob o prosaico nome de Luz e Vida Incorporation, são até agora um enigma para a Polícia Federal na Operação Anaconda.
Os documentos foram achados no apartamento de São Paulo da ex-mulher do juiz federal João Carlos da Rocha Mattos Norma Regina Emílio Cunha, mas os donos são desconhecidos.
A compra das ações, em duas parcelas de US$ 25 mil, foi feita em 10 de abril de 2000. Os certificados foram subscritos por um diretor não identificado nominalmente de uma outra empresa, a Waldorf Ltd..
Empresas "offshore" têm sido usadas por brasileiros para ocultar dinheiro enviado do Brasil. Como são submetidas a regras rígidas de sigilo em paraísos fiscais, dificilmente os proprietários são revelados. Com a "offshore" capitalizada, os donos podem abrir e movimentar contas bancárias em várias partes do mundo.

"Vagabundo"
Há outras referências a empresas "offshore" no decorrer da Operação Anaconda.
Em conversa gravada pela própria Norma, o juiz Rocha Mattos fica contrariado ao saber que ela havia decidido fechar uma empresa desse tipo que havia aberto anos atrás no Uruguai. Na gravação, o magistrado diz que pretendia colocar em nome da empresa um apartamento no Uruguai que seria dado pelo empresário Fausto Solano, sócio de uma corretora de valores de São Paulo e réu em ação na Justiça Federal.
Norma diz que mandou fechar a "offshore" porque estava gastando mais de US$ 4.000 por ano para mantê-la aberta "na mão daquele vagabundo". Não fica claro a quem Norma se refere. Segundo ela, o custo para fechamento da empresa foi de US$ 6.000.
"Me fala uma coisa: quer dizer que depois de todo aquele trabalho você fechou a "offshore'?", pergunta o juiz Rocha Mattos, na fita apreendida pela polícia.
Norma fica irritada. Ela conta que por US$ 3.000 é possível abrir outra "offshore" no Uruguai. Ela então faz as contas: "Você quer que eu pague 12 mil [dólares]? Ou você prefere comprar uma nova por três? Quanto que é mais barato, ô, idiota?".
O juiz lembra que "quem abriu aquela "offshore" foi você [Norma]". Rocha Mattos pergunta por que ela decidiu fechá-la. "Porque você mandou!", grita Norma, ex-auditora da Receita Federal.
A terceira menção a uma "offshore" na Anaconda tem a ver com o próprio apartamento em que Rocha Mattos mora, sem pagar aluguel, na rua Maranhão, em São Paulo. O imóvel está em nome da "offshore" Cadiwel -cujos donos também são ignorados.
Segundo a PF, além da Luz e Vida, nomes e informações sobre outras empresas "offshore" foram encontrados no decorrer da Operação Anaconda e teriam relação com as pessoas acusadas. O trabalho da polícia agora seria tentar localizar os proprietários ou saber se há relação dessas empresas com outros escândalos que envolvem lavagem de dinheiro.
Entre os papéis que estavam no apartamento do empresário Wagner Rocha, o Peru, também preso na Operação Anaconda, os policiais apreenderam relação de empresas "offshore" da agência do Banestado de Nova York.
O advogado de Norma Regina Cunha, Paulo Esteves, disse desconhecer a apreensão dos papéis em nome da Luz e Vida na casa de Norma: "Nem tive notícias de que pertence a ela". (RV e MCC)


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