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Com Minc, governo dá 39% mais licenças ambientais
Demora do Ibama para liberar obras era a principal queixa contra Marina Silva
Ambientalistas dizem que
ministro cedeu à pressão
do governo para facilitar a liberação de licenças; ele diz ter encontrado burocracia
HUDSON CORRÊA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A concessão de licenças ambientais pelo Ibama (Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e
dos Recursos Naturais Renováveis) aumentou 39% após Carlos Minc assumir a pasta do
Meio Ambiente, em 27 de maio.
O licenciamento ambiental é
uma obrigação para a instalação de qualquer empreendimento e atividade potencialmente poluidores ou que degradem o ambiente, como ferrovias, hidrelétricas e rodovias.
A demora na concessão de licenças era a principal queixa
contra a ex-ministra Marina
Silva, e Minc entrou no governo
com a missão de destravar o
Ibama, do qual trocou o comando. Em julho passado, ele
anunciou medidas como o prazo máximo de 13 meses para todas as etapas de licenciamento.
Ambientalistas dizem que o
ministro cedeu à pressão política do governo para facilitar a liberação de licenças a empreendimentos, principalmente os
do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).
Minc disse ontem à Folha
que sofre pressões de ministros
para liberar obras, mas que não
cede. Ele afirmou ainda que encontrou muita burocracia no
Ibama, ao tomar posse.
"Não é o tempo que uma licença demora que atesta sua
qualidade. Você pode ficar dois
ou três anos rolando lero e dar
uma licença frouxa. A gente vai
continuar nessa linha. Vamos
avançar mais na simplificação
ambiental e mais ainda no rigor", afirmou Minc.
As estatísticas sobre licenciamento do Ibama apontam
que, de 27 de maio a 31 de dezembro, foram concedidas 324
licenças contra 233 no mesmo
período de 2007, ainda na administração de Marina.
Na comparação com todo o
ano de 2007, o Ibama expediu
374 licenças contra 469 durante 2008, um acréscimo de
25,4%. Os dados, porém, mostram que com Marina o instituto mantinha em 2008 o mesmo
ritmo. De janeiro a maio de
2007, foram 141 licenças. No
mesmo período do ano passado, 145 -aumento de 2,8%.
A assessoria de Marina disse
que não a localizou para falar
sobre o assunto.
Para o diretor-executivo do
Greenpeace, Marcelo Furtado,
as medidas do Ibama para acelerar processos comprometem
a qualidade das licenças. "A
nossa luz amarela se tornou
vermelha com a emissão de licenças como a de Angra 3", disse. "O licenciamento está mais
rápido com uma agenda política do plano do governo."
Um assessor de confiança de
Marina que trabalhou no ministério durante a gestão dela,
disse que a licença concedida a
Angra 3 é falha por não discorrer sobre o descomissionamento, ou seja, a descontaminação
e o desmantelamento da usina
após a vida útil. O Greenpeace
endossa a mesma crítica.
Angra 3 recebeu licença prévia, que aprova sua viabilidade
ambiental e localização, em 23
de julho passado.
Outro processo que motivou
críticas a Minc foi a concessão
de licença de instalação (autoriza o início das obras) para a
hidrelétrica de Jirau, no rio
Madeira, em Rondônia.
O Ministério Público Federal
e ONGs entraram na Justiça
contra a licença, dizendo que
houve mudança em 9,2 km do
eixo da barragem da usina sem
estudo de impacto. A Justiça de
Rondônia chegou a atender o
pedido, mas a licença voltou a
valer em dezembro por decisão
do Tribunal Regional Federal.
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