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Tasso critica e vê risco de "anarquia'
ELIANE CANTANHÊDE
Diretora da Sucursal de Brasília
O governador Tasso Jereissati
(PSDB-CE) criticou duramente a
moratória da dívida mineira e advertiu que o governo federal não
pode aceitar, em hipótese alguma,
renegociar nessas condições: "Seria o princípio da anarquia".
Na sua opinião, o presidente Fernando Henrique Cardoso tem
"obrigação" de exigir o cumprimento do contrato de renegociação da dívida mineira.
Se abrisse o precedente de renegociar sob ameaça da moratória,
todos os demais Estados e até os
municípios se sentiriam à vontade
para usar a mesma forma de pressão. "Seria o fim da autoridade, da
hierarquia, do bom-senso", disse.
Jereissati classificou a decisão do
governador Itamar Franco (MG)
de "impensada e inconsequente" e
anunciou que ela receberá o repúdio dos demais governadores governistas.
Quinze deles, incluindo o vice-governador de São Paulo, Geraldo
Alckmin, confirmaram presença
numa reunião, na terça-feira, em
São Luiz (MA).
"Nós vamos mostrar à opinião
pública nacional e à comunidade
internacional que (a decisão de
Itamar) se trata de uma atitude totalmente isolada", antecipou Jereissati, por telefone.
"A grande maioria dos governadores vai dizer que vai cumprir
suas obrigações contratuais, dentro das leis e das regras democráticas", acrescentou.
Ele admitiu que muitos desses
governadores estão insatisfeitos
com a situação econômica e defendem a renegociação com o governo federal: "Mas ninguém concorda com a moratória".
²
Crise federativa
Não há unanimidade entre os governadores aliados ao Palácio do
Planalto sobre como conduzir a renegociação, e os de oposição vão se
reunir à parte, no dia 18, justamente em Belo Horizonte.
É por isso que setores do governo
federal temem uma "crise federativa", com governadores brigando
contra governadores. Nesse caso, o
espírito bairrista poderia levar as
populações a defenderem seus
próprios Estados.
O efeito seria no comportamento
das bancadas do Congresso. Se
configurada a defesa de Minas, por
exemplo, como os deputados mineiros poderiam se posicionar a favor do Planalto?
Jereissati antecipa-se a essa dúvida, classificando a atitude de Itamar Franco como personalista,
não como de defesa dos interesses
do Estado.
"A moratória não é de Minas,
não é do governo, não é da população mineira. É simplesmente do
governador. Só se explica como
ação pessoal, não administrativa.
Ninguém ganha, todos perdem."
²
Contratos vantajosos
Ele lembrou que os contratos de
renegociação das dívidas entre o
governo federal e os Estados foram
institucionais. Foram aprovados
pelas Assembléias Legislativas e
depois pelo Congresso Nacional.
Além disso, destacou que eles foram "altamente vantajosos" para
os Estados, que deixaram de pagar
juros de mercado em torno de 30%
ao ano e passaram para patamares
entre 6% e 7%. Também conseguiram alongar os pagamentos para
até 30 anos.
Um exemplo é o Estado do Maranhão, que será sede da reunião de
governadores. O peso da dívida
com a União era de 19% da receita
líquida nos dois primeiros anos de
mandato da governadora Roseana
Sarney. Agora, é de 13%.
Em compensação, Roseana pagou R$ 565 milhões em dívidas
com a União nos quatro anos do
primeiro mandato. Esse valor é
mais da metade do que todos os
governantes pagaram entre 1974 e
98. Nesses 24 anos, já convertidos
em real, o Maranhão pagou um total de R$ 1,65 bilhão.
Se todos os Estados convivem
com dívidas acumuladas, juros altos, um processo considerado recessivo, Jereissati pergunta por
que, então, só Itamar Franco se
sentiu no direito de decretar moratória. "Não há análise racional possível", afirmou.
Ele disse admitir que um cidadão
comum possa achar que o governo
federal tem dinheiro para tudo,
pode resolver tudo, "mas não um
ex-presidente da República".
"Dinheiro não nasce no chão
nem cai do céu. A única maneira
de gerar mais dinheiro é aumentando imposto. Se o governo federal ceder, mais cedo ou mais tarde
a conta vai cair sobre a população", disse.
Opinou, também, que "a conta"
da moratória mineira vai recair
primeiro e concentradamente na
população mineira, "que vai ficar
sem dinheiro, sem crédito e sem
credibilidade".
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