São Paulo, domingo, 10 de janeiro de 1999

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FIM DE LEGISLATURA
Parlamentares não-reeleitos entregam suas salas nop Congresso em troca de emprego a seus funcionários
Deputados negociam gabinetes e assessores

LUCIO VAZ
da Sucursal de Brasília

Deputados não reeleitos estão negociando a entrega dos seus gabinetes e apartamentos funcionais em troca de emprego para seus funcionários e da compra de aparelhos eletroeletrônicos que estão nos apartamentos. O "mercado negro" de gabinetes envolve deputados e funcionários.
Os gabinetes e apartamentos deveriam ser entregues à direção da Câmara no final do mandato, mas os deputados os negociam como se fossem seus proprietários. Deputados que entregam os apartamentos antes do prazo recebem R$ 3.000 de gratificação.
Os deputados novos entram na negociação para garantir gabinetes do Anexo 4, porque eles são maiores e contam com banheiro. Os gabinetes do Anexo 3 não têm banheiros e acabam sendo entregues aos deputados mais novos.
No caso dos apartamentos, eles procuram assegurar a posse daqueles que têm melhor localização e estão mais conservados. Quando não há acordo entre os deputados, os gabinetes e os apartamentos que restam são sorteados entre os novos deputados.
O repórter da Folha telefonou para vários deputados e se apresentou como assessor de um deputado do PPB de Tocantins interessado em um gabinete. O deputado Elias Murad (PSDB-MG) tentou negociar o gabinete e o apartamento em troca de emprego para seus funcionários.
"Eu tenho uma proposta de um deputado do Acre que está propondo ficar com um ou dois funcionários do gabinete e também ficar com o apartamento e a governanta. Eu tenho uma governanta que é uma coisa extraordinária", adiantou o deputado.
Questionado se o salário da governanta (R$ 600) poderia ser pago com a verba do gabinete (R$ 20 mil), respondeu: "Pode. Ela está pelo gabinete". Murad garantiu que o acordo seria "homologado" pelo 4º secretário, Efraim Morais (PFL-PB), e que "é tudo 100% legal".
Mais adiante, o deputado tentou negociar aparelhos de sua propriedade que estão no apartamento (televisão, ar-condicionado, aspirador de pó). "Isso dá, no máximo, em torno de R$ 800."

Aumento de verba
O repórter telefonou para a deputada Alzira Éwerton (PSDB-AM), identificando-se também como assessor de um deputado, e tentou negociar a entrega do seu aparamento. Uma assessora da deputada havia informado que ela havia indicado a contratação de duas funcionárias.
"É. A Sandra, que é a minha chefe de gabinete, e a outra é a minha filha (Mariane Pires). Se eu puder, passo para uma pessoa do PPB. Os outros que entraram em contato comigo são do PFL, e eu não gostaria de passar para ninguém do PFL", disse Alzira.
No gabinete da deputada, a assessora Sandra Souza afirmou que a contratação das duas funcionárias comprometeria pouco da verba de gabinete: apenas R$ 4.000. E disse que a verba deverá ser aumentada.
"Vou te dar uma informação que foi repassada para a deputada pelo líder do PSDB, Aécio Neves (MG). Quando tiver a eleição da Mesa, a verba de gabinete vai para R$ 30 mil. Isso é com certeza, porque é para garantir a reeleição do Michel Temer", afirmou Sandra.
Questionada sobre o aumento, Alzira afirmou: "Há uma previsão de aumentarem para R$ 30 mil na próxima legislatura". Ela confirmou que ouviu a informação de Aécio. "Foi, exato. Disse que há uma previsão de aumento para R$ 30 mil".
Equipe No gabinete de Euler Ribeiro (PFL-AM), o assessor Rivaldo Rodrigues colocou as condições para a entrega do apartamento: "Nós somos uma equipe de cinco. O que o Euler está propondo é o seguinte: o interesse dele é passar o gabinete com a estrutura e com essa equipe".
Rodrigues informa que é economista, com mestrado na Fundação Getúlio Vargas. E acrescenta: "A prática é essa aqui no Congresso, porque existe uma situação social terrível em relação ao desemprego".
A assessora Regina Pereira, do gabinete de Valdenor Guedes (PPB-AP), disse que o deputado está negociando o gabinete: "O deputado estava negociando. Não sei como ficou. Ele vai negociar com a gente". Sobre o apartamento, disse: "Ele vai passar para a mesma pessoa".
O deputado Murilo Pinheiro (PFL-AP) fez diferente, segundo afirmou a assessora Lúcia de Souza: "Ele deixou o gabinete na minha mão. E eu passei para um deputado do Paraná, o Airton Rovena (PDT). Era só eu mesma".
Os funcionários e o gabinete de Fernando Torres (PSDB-AL) foram prometidos para João Caldas (PMN-AL), segundo afirmou a assessora Lídia Dantas. Célia Mendes (PPB-AC) teria prometido o gabinete e dois funcionários para Lincoln Portela (PST-MG), segundo afirmou a assessora Eva Mattos.



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