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ANDAR DE BAIXO
Bloqueio de cerca de R$ 6,5 bilhões anunciado pelo governo na semana passada também deverá atingir investimentos
Saúde deve perder R$ 1,2 bi em novo corte
SÍLVIA MUGNATTO
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Apesar de ter anunciado que
preservaria os gastos em investimentos, esse tipo de despesa dificilmente não será afetado pelo
corte de cerca de R$ 6,5 bilhões
anunciado pelo governo. Mais: ao
cortar despesas de custeio, a área
social será atingida. A Saúde deve
perder R$ 1,2 bilhão.
Os Poderes Legislativo e Judiciário e o Ministério Público também deverão ter de fazer cortes
em suas despesas de custeio e investimentos, estimadas no total
em R$ 3,1 bilhões.
Segundo apurou a Folha, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva já
foi informado de que será impossível manter intocados os R$ 12
bilhões previstos para investimentos no Orçamento deste ano.
Parte dos R$ 3 bilhões que serão
cortados das emendas parlamentares se refere justamente a gastos
em investimentos. O governo
anunciou que cortaria outros R$
3,5 bilhões em custeio.
O ministro-chefe da Secretaria
Geral da Presidência, Luiz Dulci,
disse ontem em reunião com a
bancada do PT na Câmara que a
"expectativa do governo" é gastar
os R$ 12 bilhões de investimento.
Leitura dos petistas: é bem diferente de dizer que vai gastar.
Os investimentos são todas as
despesas novas (obras e projetos
que o governo federal fará pela
primeira vez). Os gastos de custeio se referem à manutenção da
máquina pública e aos projetos
em andamento. Ou seja, pegam
de passagens aéreas a despesas
nas áreas social e de infra-estrutura, além de outros Poderes.
Um exemplo: se o governo vai
recapear uma estrada que já existe, isso é despesa de custeio. Se vai
construir um trevo novo nessa estrada, é gasto de investimento.
Daí ser irracional do ponto de vista administrativo preservar os investimentos em 100% e cortar
apenas em custeio.
Lula fez o anúncio que os investimentos seriam preservados devido às pressões eleitorais de políticos do PT e de partidos aliados e
também ao desejo de gerar empregos com obras e projetos novos. Mas já foi alertado de que
cortar em custeio pode ser tão impopular quanto passar a tesoura
nos investimentos. Ao falar dos
cortes, o ministro da Fazenda,
Antonio Palocci Filho, fez um
exercício retórico, evitando até
usar a palavra contingenciamento
(bloqueio de recursos) para minimizar desgaste na imprensa.
A assessoria do ministro do Planejamento, Guido Mantega, disse
que o detalhamento dos cortes
deverá ser divulgado amanhã. O
corte de cerca de R$ 6,5 bilhões no
Orçamento de R$ 413,5 bilhões foi
decidido na sexta-feira. O consultor de orçamento José Fernando
Cosentino, da Câmara dos Deputados, disse ser muito difícil cortar tudo do custeio da máquina
pública como anunciou Palocci.
Tirando as despesas obrigatórias dos ministérios da Saúde e da
Educação, sobram R$ 26,6 bilhões
de custeio que podem ser cortados. Outros R$ 12,3 bilhões são investimentos. Mas Cosentino disse
que existe espaço para corte de até
R$ 1,2 bilhão na Saúde.
É que o governo enviou o Orçamento de 2004 com um PIB (Produto Interno Bruto) de R$ 1,731
trilhão, estimando um crescimento de 1,8% do PIB de 2003 em relação a 2002. Mas o crescimento do
ano passado deve ser menor, se
houver. Portanto, os valores de
2004 também serão menores.
Com isso, as despesas de saúde
vinculadas ao crescimento do PIB
por causa de uma emenda constitucional serão menores.
Os técnicos envolvidos nos cortes dizem que há muitas emendas
de parlamentares para vinculação
de receitas extras a gastos nos ministérios da Educação e Saúde.
Nesse caso, as emendas estão ligadas ao custeio da máquina.
Os grandes grupos de despesas
de custeio, segundo os técnicos,
são as administrativas (compra
de materiais, informática, limpeza e vigilância, passagens aéreas) e
as transferências voluntárias
(convênios) a Estados e municípios. Por causa das mudanças nos
valores do PIB, Cosentino disse
que algumas despesas podem estar superdimensionadas no Orçamento aprovado pelo Congresso.
Os cortes serão feitos para atender a Lei de Responsabilidade Fiscal, que manda segurar a despesa
se a meta fiscal do ano, um ajuste
de R$ 41,8 bilhões para pagamento de juros, estiver ameaçada.
Colaborou JULIANNA SOFIA, da Sucursal de Brasília
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