São Paulo, terça-feira, 10 de fevereiro de 2004

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JANIO DE FREITAS

O aventureiro

A recepção jornalística e política aos números do IBGE sobre a atividade industrial no primeiro ano Lula foi mais ligeira, como tem ocorrido a quase tudo que tem relevância, do que o merecido pelas revelações feitas. O conjunto de números que compõem o miolo da pesquisa é tão impressionante que vale, por si só, como caracterização do que é, de fato, o governo Lula.
Para não dizer que a produção industrial teve zero de crescimento, em comparação com o mau ano de 2002, da tumultuosa disputa eleitoral, o primeiro de Lula deu o resultado de 0,3%. Houve, é claro, setores com produção aumentada, de um ano para outro, e setores forçados ao oposto. E nesta contraposição está o fundamental, mais do que sobre o ano, sobre o governo Lula e o endossante Partido dos Trabalhadores.
Os setores industriais que condenaram o índice anual, dada a sua queda de produção e, portanto, de vendas, são, todos, voltados para o consumo da população em geral. Para citar alguns, o farmacêutico teve queda de 18,5%; o de roupas e calçados, redução de 12,5%; alimentos industrializados, cerca de 3% menos; produtos de plástico, menos 11%; tecidos, queda de 7%.
Há uma denúncia gritante nessas quedas de produção, cuja lista completa é muito maior: todas são referentes a produções que dependem do poder de compra da população, ou seja, do nível de emprego e do poder aquisitivo dos salários.
Os jornais preferiram comparar o ocorrido no primeiro ano Lula com o governo Fernando Henrique, concluir que 2003 foi o de pior desempenho desde 99, aquele da mudança no câmbio e cuja produção industrial caiu quase 1%. Mas, se considerados todos os resultados desde que o IBGE começou tal pesquisa em 1985, a conclusão é mais clamorosa: a queda em 2003 de 5,5% da produção dos chamados bens não-duráveis (os de consumo geral, como alimentos, remédios, roupas, higiênicos e assemelhados) não tem precedente. É a maior já registrada. O que significa que nem os devastadores anos de Collor chegaram a resultado tão perverso socialmente quanto o faz a política econômica do governo Lula.
Se isso não quer dizer algo muito importante, em muitos sentidos, então nada mais tem importância na relação entre governo e população, entre governo e presente e futuro do país. Jamais, porém, uma população e seu país deixaram de pagar por terem um governo administrativamente aventureiro e irresponsável socialmente.


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