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ESTILO SEVERINO
Impresso terá menos espaço para notícias e mais para discursos
Jornal da Câmara cede ao baixo clero
RANIER BRAGON
FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Vinte e um dias depois de assumir a presidência da Câmara com
o apoio dos chamados "deputados de pouca expressão política",
Severino Cavalcanti (PP-PE) interveio no "Jornal da Câmara" e,
atendendo aos apelos do "baixo
clero", ordenou a ampliação do
espaço reservado aos discursos
dos parlamentares.
O "baixo clero" é formado por
deputados que dificilmente recebem destaque na mídia nacional
e, por isso, dependem da estrutura de comunicação da Câmara para poder aparecer.
A direção do jornal anunciou
ontem que reduzirá o tamanho
dos textos noticiosos -como os
que divulgam decisões plenárias,
trabalho em comissões e seminários- para que "deputados tenham seus discursos e ações parlamentares devidamente divulgados". Nos pronunciamentos, que
terão espaço nobre no tablóide de
oito páginas e circulação diária de
10 mil exemplares, fala-se de tudo:
ataques ou elogios ao governo,
menções a adversários e aliados
locais, discursos sobre obras, homenagens etc.
A intervenção foi anunciada anteontem em plenário por Severino, depois de reclamações de deputados que não tiveram o discurso relatado no jornal. Esse é o
caso de Lincoln Portela (PL-MG)
e Antonio Carlos Pannunzio
(PSDB-SP). "Tomarei providências drásticas para que não aconteçam mais fatos como esse. Todos os deputados têm os mesmos
direitos.", afirmou o presidente.
Em nota publicada ontem no
jornal, noticia-se que a mudança
"contempla orientação do presidente Severino Cavalcanti no sentido (...) [de] uma mais ampla e
correta divulgação da atuação dos
deputados".
O diretor da Secretaria de Comunicação Social da Câmara,
Ademir Malavazi, negou a intervenção, afirmando que já vinha
sendo estudada uma reforma gráfica com o objetivo de aproveitar
melhor os espaços do jornal. Ele
disse que, atendido o princípio de
que não haverá privilégio, será
mantido o critério de relevância
jornalística para a seleção dos discursos que irão à publicação.
Essa é a segunda vez em pouco
mais de dois anos que o jornal
-distribuído por todo o Congresso e disponível na internet
(www.camara.gov.br)- sofre
ingerência da direção política da
Casa. Na gestão de João Paulo Cunha (PT-SP), o jornal foi obrigado
a se retratar de um erro que, a rigor, não cometeu.
A "falha" teria sido a publicação
de uma condenação em primeira
instância, por trabalho escravo,
sofrida pelo deputado Inocêncio
Oliveira (PMDB-PE), então 1º vice-presidente da Casa.
A decisão de Severino revela
uma das facetas de seu estilo, a de
escutar pacientemente todas as
reclamações de deputados, lobistas e cidadãos que diariamente lotam seu gabinete.
Isso tem levado o deputado a se
ausentar de uma das suas principais funções: a de presidir as sessões de votação, tarefa até agora
relegada ao seu vice, José Thomaz
Nonô (PFL-AL), e a Inocêncio,
hoje 1º secretário.
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