São Paulo, quinta-feira, 10 de março de 2005

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ESTILO SEVERINO

Impresso terá menos espaço para notícias e mais para discursos

Jornal da Câmara cede ao baixo clero

RANIER BRAGON
FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Vinte e um dias depois de assumir a presidência da Câmara com o apoio dos chamados "deputados de pouca expressão política", Severino Cavalcanti (PP-PE) interveio no "Jornal da Câmara" e, atendendo aos apelos do "baixo clero", ordenou a ampliação do espaço reservado aos discursos dos parlamentares.
O "baixo clero" é formado por deputados que dificilmente recebem destaque na mídia nacional e, por isso, dependem da estrutura de comunicação da Câmara para poder aparecer.
A direção do jornal anunciou ontem que reduzirá o tamanho dos textos noticiosos -como os que divulgam decisões plenárias, trabalho em comissões e seminários- para que "deputados tenham seus discursos e ações parlamentares devidamente divulgados". Nos pronunciamentos, que terão espaço nobre no tablóide de oito páginas e circulação diária de 10 mil exemplares, fala-se de tudo: ataques ou elogios ao governo, menções a adversários e aliados locais, discursos sobre obras, homenagens etc.
A intervenção foi anunciada anteontem em plenário por Severino, depois de reclamações de deputados que não tiveram o discurso relatado no jornal. Esse é o caso de Lincoln Portela (PL-MG) e Antonio Carlos Pannunzio (PSDB-SP). "Tomarei providências drásticas para que não aconteçam mais fatos como esse. Todos os deputados têm os mesmos direitos.", afirmou o presidente.
Em nota publicada ontem no jornal, noticia-se que a mudança "contempla orientação do presidente Severino Cavalcanti no sentido (...) [de] uma mais ampla e correta divulgação da atuação dos deputados".
O diretor da Secretaria de Comunicação Social da Câmara, Ademir Malavazi, negou a intervenção, afirmando que já vinha sendo estudada uma reforma gráfica com o objetivo de aproveitar melhor os espaços do jornal. Ele disse que, atendido o princípio de que não haverá privilégio, será mantido o critério de relevância jornalística para a seleção dos discursos que irão à publicação.
Essa é a segunda vez em pouco mais de dois anos que o jornal -distribuído por todo o Congresso e disponível na internet (www.camara.gov.br)- sofre ingerência da direção política da Casa. Na gestão de João Paulo Cunha (PT-SP), o jornal foi obrigado a se retratar de um erro que, a rigor, não cometeu.
A "falha" teria sido a publicação de uma condenação em primeira instância, por trabalho escravo, sofrida pelo deputado Inocêncio Oliveira (PMDB-PE), então 1º vice-presidente da Casa.
A decisão de Severino revela uma das facetas de seu estilo, a de escutar pacientemente todas as reclamações de deputados, lobistas e cidadãos que diariamente lotam seu gabinete.
Isso tem levado o deputado a se ausentar de uma das suas principais funções: a de presidir as sessões de votação, tarefa até agora relegada ao seu vice, José Thomaz Nonô (PFL-AL), e a Inocêncio, hoje 1º secretário.


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