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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ HORA DA IMPUNIDADE
Deputados que recomendaram punição a mensaleiros reclamam de "humilhação"
Conselho de Ética vive crise após absolvição de mais dois
FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A absolvição de dois deputados
ontem, no plenário da Câmara
dos Deputados, gerou a maior crise desde o início das denúncias do
"mensalão" entre os deputados
que integram o Conselho de Ética.
Acusações, ameaças de renúncia e
um inédito racha entre os membros do conselho foram as conseqüências das duas votações.
Antes mesmo do início da sessão do conselho rodinhas de deputados se formavam para reclamar de "humilhação", "falta de
respeito" e "escárnio", em referência às absolvições dos deputados Professor Luizinho (PT-SP) e
Roberto Brant (PFL-MG). Deputados chegaram a defender o fim
do voto secreto em julgamentos
de colegas.
O conselho, composto por 15
membros titulares e 15 suplentes
de vários partidos, havia dado pareceres pelas cassações dos dois
deputados. O mesmo havia acontecido na absolvição de Romeu
Queiroz (PTB-MG). Além deles,
também escapou em votação o líder do PL, Sandro Mabel (GO).
O deputado Júlio Delgado (PSB-MG), que relatou o processo contra José Dirceu (PT-SP), chegou a
falar em renúncia coletiva do conselho, como forma de protesto.
Depois, recuou, dizendo que os
conselheiros deveriam repensar
sua participação no órgão. "Isso
aqui está virando encenação." Cezar Schirmer (PMDB-RS), que relata o processo contra João Paulo
Cunha (PT-SP), respondeu: "Encenação, não! Eu não me prestaria
a esse papel". "Estamos fazendo
papel de bobos", insistiu Delgado.
No final da tarde, aconteceu a
primeira renúncia. O deputado
Colbert Martins (PPS-BA), suplente no conselho, anunciou seu
afastamento. "Para que vou fazer
uma avaliação que depois é desconsiderada pelos meus pares?"
Ressaca
O nervosismo aumentou após
uma trapalhada do presidente do
conselho, Ricardo Izar (PTB-SP).
"Estamos frustrados, de ressaca.
A grande maioria dos deputados
não conhecia os processos. Não é
fácil trabalhar meses e meses e ver
isso desconsiderado", disse.
Assim mesmo, Izar, sem maiores explicações, decidiu que a leitura do relatório do processo contra o petista José Mentor (SP) seria feita na semana que vem e não
ontem, como era o previsto.
Isso apesar de a pauta distribuída aos deputados e à imprensa dizer que a reunião de ontem era
para "apresentação, leitura, discussão e votação do parecer". Tudo pronto, os parlamentares foram surpreendidos com a informação de que a sessão não ocorreria. Pressionado, Izar disse que
atendia a um pedido de Mentor.
Deputados desconfiaram de
uma manobra do petista para jogar seu processo para o final da fila e evitar ter o caso votado "a
quente". "Alguém está querendo
esfriar o caso", disse Orlando
Fantazzini (PSOL-SP). "Estamos
sob o impacto dos eventos de ontem. Cachorro mordido por cobra tem medo até de lingüiça",
disse Chico Alencar (PSOL-RJ).
Foi preciso o próprio Mentor
aparecer para oferecer uma explicação. "O acerto é votar na semana que vem por problemas de
agenda de meu advogado", disse.
A inclusão na pauta de ontem seria por uma firula regimental: caso contrário, venceria o prazo de
cinco sessões para isso, o que poderia anular o processo.
Em tom exaltado, o deputado
Edmar Moreira (PFL-MG) inquiriu Julio Delgado a respeito de
uma declaração em que censurava o fato de o pefelista ter apoiado
a absolvição dos deputados. Delgado repetiu a crítica: "Costumávamos votar juntos, mas V. Exa.
ultimamente tem adotado outras
posições. O nosso povo conterrâneo de Juiz de Fora é que vai julgar isso". Moreira explodiu: "Não
faço desse conselho palanque eleitoral e não aceito recado político!"
As absolvições dos envolvidos
com o "mensalão" foram criticadas pelo senador Delcídio Amaral
(PT-MS): "Respeito o posicionamento do plenário, mas nessa batida vai ficar cada vez mais difícil
andar nas ruas".
Comemorações
Professor Luizinho e Roberto
Brant optaram pela companhia
de amigos e familiares para celebrar, na madrugada de ontem. O
petista se reuniu com pessoas
próximas num apartamento funcional na Asa Sul. Entre os que
passaram por lá estavam o ministro Luiz Marinho (Trabalho), a
assessora especial da Presidência
da República Miriam Belchior, e o
prefeito João Avamileno (PT), de
Santo André, base eleitoral do deputado, além de parlamentares.
O evento foi fechado à imprensa
porque, segundo Luizinho, não
era uma comemoração. "Não vou
querer ficar fazendo festa com algo que não se pode festejar. Seria
uma falta de sensibilidade", disse.
Já o colega pefelista estava no bar
com sete irmãos, entre eles Fernando Brant, que é compositor e
um dos integrantes do "Clube da
Esquina".
Ontem pela manhã, Brant e Luizinho se encontraram rapidamente no Salão Verde da Câmara,
onde se cumprimentaram. O deputado petista chegou a dizer a
Brant que o discurso do pefelista o
havia ajudado.
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