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ANÁLISE
Tucano retoma tática de 2002
Para evitar polarização com Lula, tucano atualiza tese da continuidade sem continuísmo
MAURICIO PULS
DA REDAÇÃO
De 2002 a 2010, o discurso de
campanha de José Serra
(PSDB) não mudou muito: seu
eixo continua sendo a "continuidade sem continuísmo".
Antes, Serra não conseguia se
desvencilhar da continuidade;
agora, não pode se opor a ela.
No último dia 19 de março,
em entrevista a um apresentador de televisão, Serra confirmou sua candidatura ao Planalto, mas fez questão de elogiar o
atual presidente: "O Lula fez
dois mandatos, está terminando bem o governo. O que nós
queremos para o Brasil? Que
continue bem e até melhore".
O ex-governador paulista
tenta com isso escapar da dificuldade de enfrentar um governo bem avaliado (76% de aprovação contra 4% de reprovação
no último Datafolha). Em resumo, defende a continuidade
("que continue bem") sem continuísmo ("e até melhore").
Paradoxalmente, essa é a
mesma estratégia que o tucano
usou em 2002, quando era ministro da Saúde de Fernando
Henrique Cardoso. Identificado com um governo mal avaliado (35% de reprovação contra
24% de aprovação), começou
sua campanha com o slogan
"nada contra a estabilidade, tudo contra a desigualdade".
Ou seja, Serra prometia manter a inflação sob controle
-uma conquista do Plano
Real-, mas, ao mesmo tempo,
acenava com uma sensível mudança de rumo na política econômica, para fazer o país voltar
a crescer e distribuir a renda.
Essa proposta não convenceu a maioria do eleitorado,
que parecia claramente decidido pela necessidade de mudança. Mas que tipo de mudança?
Três opções de mudança
Com uma plataforma centrada na criação de empregos e no
combate à miséria, Lula sempre liderou as pesquisas no primeiro turno, mas chegou a ser
seriamente ameaçado por duas
candidaturas bem menos "radicais" que a do PT: Roseana
Sarney, do PFL, partido que
apoiava FHC desde sua primeira campanha à Presidência; e
Ciro Gomes, do PPS, ex-governador tucano do Ceará e ministro da Fazenda durante a implantação do Plano Real.
A partir de setembro de 2001,
Roseana Sarney (PFL) subiu de
forma consistente nas pesquisas de intenção de voto, chegando a 23% em fevereiro, e
empatou com Lula (26%). Num
eventual segundo turno, Roseana venceria por 51% a 39%.
Mas a pefelista teve sua candidatura abortada por uma
operação da Polícia Federal,
que no dia 1º de março apreendeu R$ 1,34 milhão na empresa
Lunus, que pertencia a Roseana e a seu marido. "Se querem
mesmo fazer do José Serra presidente da República a qualquer preço, é melhor fechar o
Congresso e nomeá-lo, como se
fazia na ditadura militar", disse
a governadora, que obrigou o
PFL a romper com FHC. Mas
suas intenções de voto caíram
tanto que ela por fim desistiu.
Lula voltou a subir, e Serra
imediatamente assumiu o segundo lugar nas pesquisas, mas
sem superar a marca de 22%. A
campanha seguiu assim até
que, em julho, Ciro disparou:
chegou a 28%, enquanto Lula
caía para 33%. Nas projeções
para o segundo turno, Ciro bateria Lula por 48% a 44%.
Quando começou a campanha na TV, em agosto, o PSDB
bombardeou Ciro até ele despencar nas pesquisas, graças a
um vídeo no qual o candidato
do PPS xingava de "burro" o ouvinte de uma rádio na Bahia.
Só restou então ao eleitorado
que rejeitava FHC o confronto
simples entre o "continuísmo"
(Serra) e a "mudança" (Lula), já
que os tucanos tinham eliminado todas as opções de "mudança sem radicalismo". Serra passou ao segundo turno com 23%
dos votos válidos, mas perdeu
no segundo por 39% a 61%.
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