São Paulo, sábado, 10 de abril de 2010

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ANÁLISE

Tucano retoma tática de 2002

Para evitar polarização com Lula, tucano atualiza tese da continuidade sem continuísmo

MAURICIO PULS
DA REDAÇÃO

De 2002 a 2010, o discurso de campanha de José Serra (PSDB) não mudou muito: seu eixo continua sendo a "continuidade sem continuísmo". Antes, Serra não conseguia se desvencilhar da continuidade; agora, não pode se opor a ela.
No último dia 19 de março, em entrevista a um apresentador de televisão, Serra confirmou sua candidatura ao Planalto, mas fez questão de elogiar o atual presidente: "O Lula fez dois mandatos, está terminando bem o governo. O que nós queremos para o Brasil? Que continue bem e até melhore".
O ex-governador paulista tenta com isso escapar da dificuldade de enfrentar um governo bem avaliado (76% de aprovação contra 4% de reprovação no último Datafolha). Em resumo, defende a continuidade ("que continue bem") sem continuísmo ("e até melhore").
Paradoxalmente, essa é a mesma estratégia que o tucano usou em 2002, quando era ministro da Saúde de Fernando Henrique Cardoso. Identificado com um governo mal avaliado (35% de reprovação contra 24% de aprovação), começou sua campanha com o slogan "nada contra a estabilidade, tudo contra a desigualdade".
Ou seja, Serra prometia manter a inflação sob controle -uma conquista do Plano Real-, mas, ao mesmo tempo, acenava com uma sensível mudança de rumo na política econômica, para fazer o país voltar a crescer e distribuir a renda.
Essa proposta não convenceu a maioria do eleitorado, que parecia claramente decidido pela necessidade de mudança. Mas que tipo de mudança?

Três opções de mudança
Com uma plataforma centrada na criação de empregos e no combate à miséria, Lula sempre liderou as pesquisas no primeiro turno, mas chegou a ser seriamente ameaçado por duas candidaturas bem menos "radicais" que a do PT: Roseana Sarney, do PFL, partido que apoiava FHC desde sua primeira campanha à Presidência; e Ciro Gomes, do PPS, ex-governador tucano do Ceará e ministro da Fazenda durante a implantação do Plano Real.
A partir de setembro de 2001, Roseana Sarney (PFL) subiu de forma consistente nas pesquisas de intenção de voto, chegando a 23% em fevereiro, e empatou com Lula (26%). Num eventual segundo turno, Roseana venceria por 51% a 39%.
Mas a pefelista teve sua candidatura abortada por uma operação da Polícia Federal, que no dia 1º de março apreendeu R$ 1,34 milhão na empresa Lunus, que pertencia a Roseana e a seu marido. "Se querem mesmo fazer do José Serra presidente da República a qualquer preço, é melhor fechar o Congresso e nomeá-lo, como se fazia na ditadura militar", disse a governadora, que obrigou o PFL a romper com FHC. Mas suas intenções de voto caíram tanto que ela por fim desistiu.
Lula voltou a subir, e Serra imediatamente assumiu o segundo lugar nas pesquisas, mas sem superar a marca de 22%. A campanha seguiu assim até que, em julho, Ciro disparou: chegou a 28%, enquanto Lula caía para 33%. Nas projeções para o segundo turno, Ciro bateria Lula por 48% a 44%.
Quando começou a campanha na TV, em agosto, o PSDB bombardeou Ciro até ele despencar nas pesquisas, graças a um vídeo no qual o candidato do PPS xingava de "burro" o ouvinte de uma rádio na Bahia.
Só restou então ao eleitorado que rejeitava FHC o confronto simples entre o "continuísmo" (Serra) e a "mudança" (Lula), já que os tucanos tinham eliminado todas as opções de "mudança sem radicalismo". Serra passou ao segundo turno com 23% dos votos válidos, mas perdeu no segundo por 39% a 61%.


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