Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ENTREVISTA
Depois de ter pedido de cassação arquivado pelo Senado, Antonio Carlos Magalhães afirma ser humilde e elogia Lula
Só Deus pode tirar minha força, diz ACM
ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Depois de renunciar ao mandato na Legislatura passada sob acusação de fraudar o painel de votação e passar os últimos meses sob
fortes suspeitas de ser o mandante
dos grampos da Bahia, o senador
Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), 75, tenta voltar à tona e elogia o presidente Luiz Inácio Lula
da Silva. ACM diz que tem "enorme apreço" por Lula e conta que,
num jantar com senadores, o presidente foi muito gentil e lhe deu
um conselho: "Conte até dez!".
Diz que governos, Legislativos e
pessoas não têm poder para destruí-lo politicamente: "Só Deus".
Folha - O sr. acaba ou não politicamente?
Antonio Carlos Magalhães - Só
Deus pode acabar com a minha
força na Bahia. Daí porque meus
adversários estão sempre tentando me tirar do Congresso. Eu
atuando, eles serão sempre derrotados. Elegemos o governador, 23
deputados federais e a mesma
proporção nos estaduais. Quem
tem uma bancada assim dificilmente acaba.
Folha - O sr. renunciou por causa
da fraude do painel e sofre acusação grave de grampos da Bahia. Isso não enfraquece qualquer um?
ACM - Não, porque na Bahia sabem que não estou no assunto do
grampo, como a mídia nacional
diz. Não há depoimento com provas de que eu tive envolvimento.
Folha - E a Adriana Barreto?
ACM - Ela disse que eu havia dito
a ela que iria grampear, mas ela
sabe que não é exato. Nosso relacionamento era muito cordial até
novembro passado.
Folha - Quem teria poder para fazer mais de mil grampos na Bahia?
ACM - Você deveria perguntar à
Justiça, que é quem dá ou nega as
autorizações.
Folha - Algumas foram falsificadas.
ACM - Falsificadas não por lá,
mas na TIM-Maxitel ou coisa
equivalente. Eu não sei. Uns
grampos são ilícitos e outros não.
Na Bahia, houve alguns grampos
errados, mas a grande maioria ali
deve ser coisa certa.
Folha - É mera coincidência que,
entre os grampeados, estejam adversários políticos seus, filha de
adversário político seu, ex-namorada sua?
ACM - Ex-namorada? Não acho
absolutamente correto estigmatizar pessoas como a dra. Adriana,
com quem tive boas relações pessoais, não afetivas.
Folha - E a coincidência?
ACM - Essas coisas precisam ser
apuradas e estão sendo apuradas.
O dr. Geddel [Vieira Lima, deputado pelo PMDB-BA", o dr. Benito [Gama, ex-deputado" e o dr.
Pellegrino [Nelson Pellegrino, líder do PT na Câmara" nunca
apontaram uma coisa concreta.
Folha - Muitos leitores ficaram irritados com o resultado no Senado,
dizendo que houve compadrio e
acusando José Sarney.
ACM - Essa é a sua tese e a de outros jornalistas, e vocês envenenam as pessoas com notícias. O
Sarney só cumpriu o seu dever,
apesar de meu amigo fraternal.
Folha - O sr. comemorou o resultado na casa dele?
ACM - Não, em lugar nenhum.
Folha - Mas o sr. foi para lá depois
da decisão?
ACM - Não. A Bahia se reuniu na
casa do César Borges, e fui para lá.
Folha - E a inclusão de um desafeto pessoal do então governador César Borges entre os grampeados?
ACM - Eles trocaram sopapos
num estádio de futebol, por causa
de torcida.
Folha - E, depois, na Assembléia.
A inclusão do senador não pode
reabrir o caso, piorar as coisas?
ACM - Essa pessoa [o deputado
Marcelo Nilo] que acusa o César
Borges já apanhou muito de outros deputados. Já está habituado.
Folha - O sr. foi saudado na convenção do PFL e até deu autógrafos. Vai emergir?
ACM - Eu serei cada vez mais humilde.
Folha - O sr. é humilde?
ACM - Posso não parecer, mas
sou. Depois de tantas vezes que
você me atacou, sempre mantive
com você boas relações. Se eu fosse o "leão" da Bahia, me zangaria.
Folha - O Planalto e o PT trabalharam a seu favor?
ACM - Se trabalharam, foi tão silencioso que ninguém viu. Tanto
que eles votaram contra.
Folha - Tem troco?
ACM - Não, porque tenho enorme apreço pelo presidente Lula,
com quem me encontrei num
jantar de senadores. Nesse jantar,
houve coisas interessantes. Ele me
tratou muito bem e conversou
três vezes comigo em separado.
Numa delas, me deu um conselho: "Conte até dez".
Folha - Como o sr. entendeu o
conselho?
ACM - Eu entendi assim: "Seja
mais calmo, aguente firme".
Texto Anterior: Justiça: Brindeiro arquiva décimo inquérito contra Palocci Próximo Texto: Folha entrega fitas de grampo a delegado da PF Índice
|