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São Paulo, sábado, 10 de maio de 2003

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ENTREVISTA

Depois de ter pedido de cassação arquivado pelo Senado, Antonio Carlos Magalhães afirma ser humilde e elogia Lula

Só Deus pode tirar minha força, diz ACM

ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Depois de renunciar ao mandato na Legislatura passada sob acusação de fraudar o painel de votação e passar os últimos meses sob fortes suspeitas de ser o mandante dos grampos da Bahia, o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), 75, tenta voltar à tona e elogia o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. ACM diz que tem "enorme apreço" por Lula e conta que, num jantar com senadores, o presidente foi muito gentil e lhe deu um conselho: "Conte até dez!".
Diz que governos, Legislativos e pessoas não têm poder para destruí-lo politicamente: "Só Deus".
 

Folha - O sr. acaba ou não politicamente?
Antonio Carlos Magalhães -
Só Deus pode acabar com a minha força na Bahia. Daí porque meus adversários estão sempre tentando me tirar do Congresso. Eu atuando, eles serão sempre derrotados. Elegemos o governador, 23 deputados federais e a mesma proporção nos estaduais. Quem tem uma bancada assim dificilmente acaba.

Folha - O sr. renunciou por causa da fraude do painel e sofre acusação grave de grampos da Bahia. Isso não enfraquece qualquer um?
ACM -
Não, porque na Bahia sabem que não estou no assunto do grampo, como a mídia nacional diz. Não há depoimento com provas de que eu tive envolvimento.

Folha - E a Adriana Barreto?
ACM -
Ela disse que eu havia dito a ela que iria grampear, mas ela sabe que não é exato. Nosso relacionamento era muito cordial até novembro passado.

Folha - Quem teria poder para fazer mais de mil grampos na Bahia?
ACM -
Você deveria perguntar à Justiça, que é quem dá ou nega as autorizações.

Folha - Algumas foram falsificadas.
ACM -
Falsificadas não por lá, mas na TIM-Maxitel ou coisa equivalente. Eu não sei. Uns grampos são ilícitos e outros não. Na Bahia, houve alguns grampos errados, mas a grande maioria ali deve ser coisa certa.

Folha - É mera coincidência que, entre os grampeados, estejam adversários políticos seus, filha de adversário político seu, ex-namorada sua?
ACM -
Ex-namorada? Não acho absolutamente correto estigmatizar pessoas como a dra. Adriana, com quem tive boas relações pessoais, não afetivas.

Folha - E a coincidência?
ACM -
Essas coisas precisam ser apuradas e estão sendo apuradas. O dr. Geddel [Vieira Lima, deputado pelo PMDB-BA", o dr. Benito [Gama, ex-deputado" e o dr. Pellegrino [Nelson Pellegrino, líder do PT na Câmara" nunca apontaram uma coisa concreta.

Folha - Muitos leitores ficaram irritados com o resultado no Senado, dizendo que houve compadrio e acusando José Sarney.
ACM -
Essa é a sua tese e a de outros jornalistas, e vocês envenenam as pessoas com notícias. O Sarney só cumpriu o seu dever, apesar de meu amigo fraternal.

Folha - O sr. comemorou o resultado na casa dele?
ACM -
Não, em lugar nenhum.

Folha - Mas o sr. foi para lá depois da decisão?
ACM -
Não. A Bahia se reuniu na casa do César Borges, e fui para lá.

Folha - E a inclusão de um desafeto pessoal do então governador César Borges entre os grampeados?
ACM -
Eles trocaram sopapos num estádio de futebol, por causa de torcida.

Folha - E, depois, na Assembléia. A inclusão do senador não pode reabrir o caso, piorar as coisas?
ACM -
Essa pessoa [o deputado Marcelo Nilo] que acusa o César Borges já apanhou muito de outros deputados. Já está habituado.

Folha - O sr. foi saudado na convenção do PFL e até deu autógrafos. Vai emergir?
ACM -
Eu serei cada vez mais humilde.

Folha - O sr. é humilde?
ACM -
Posso não parecer, mas sou. Depois de tantas vezes que você me atacou, sempre mantive com você boas relações. Se eu fosse o "leão" da Bahia, me zangaria.

Folha - O Planalto e o PT trabalharam a seu favor?
ACM -
Se trabalharam, foi tão silencioso que ninguém viu. Tanto que eles votaram contra.

Folha - Tem troco?
ACM -
Não, porque tenho enorme apreço pelo presidente Lula, com quem me encontrei num jantar de senadores. Nesse jantar, houve coisas interessantes. Ele me tratou muito bem e conversou três vezes comigo em separado. Numa delas, me deu um conselho: "Conte até dez".

Folha - Como o sr. entendeu o conselho?
ACM -
Eu entendi assim: "Seja mais calmo, aguente firme".


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