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DÍVIDA
STF deve julgar nos próximos dias se Estado pode parcelar ou não o pagamento, conforme emenda constitucional
Precatórios ameaçam gestão Alckmin
JULIA DUAILIBI
DA REPORTAGEM LOCAL
SILVANA DE FREITAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Apesar de segurar a bandeira de
saneamento das contas públicas,
com a previsão de um superávit
de R$ 3 bilhões neste ano, o Estado de São Paulo não poderá mais
protelar o pagamento de precatórios, que neste ano alcançaram
mais de R$ 6 bilhões.
O STF (Supremo Tribunal Federal) deve julgar nos próximos
dias pedido de intervenção federal no Estado. São mais de 2.000
pedidos provenientes de credores
de precatórios (dívidas com o pagamento ordenado pela Justiça
depois de sentença definitiva).
O governador Geraldo Alckmin
(PSDB) tenta se livrar da obrigação de pagar imediatamente os
credores, apoiado em emenda
constitucional de setembro de
2000 que permitiu o parcelamento dessas dívidas por dez anos. Os
11 ministros do STF deverão decidir nos próximos dias se Alckmin
pode se apoiar nessa emenda. Em
outras palavras, irão julgar se concedem ou não liminar em ação de
inconstitucionalidade movida pela Confederação Nacional da Indústria contra o parcelamento.
Se a ação for julgada procedente, o Estado terá de se desdobrar
para pagar as dívidas, sob o risco
constante de intervenção federal.
O impacto seria imediato no propalado ajuste fiscal das contas
paulistas, além de afetar diretamente a imagem e os planos de
investimento em obras de Alckmin, principalmente -em ano
eleitoral- o impacto já se sentiria
no próximo orçamento, em 2002.
Ciente de que os precatórios podem ser uma mancha em sua gestão, Alckmin fez reuniões com
membros da Procuradoria Geral
do Estado na semana passada. Ligou também para o presidente da
Ordem dos Advogados do Brasil
de São Paulo, Carlos Aidar, anunciando a liberação de cerca de R$
60 milhões na semana passada
para o pagamento das dívidas.
O relator da ação, ministro Néri
da Silveira, está com o voto pronto para ser submetido aos colegas.
Um dos argumentos contra o parcelamento é que ele feriria o princípio da Constituição segundo o
qual as sentenças não podem ser
descumpridas ou modificadas depois que se tornam definitivas.
Remédio
Para São Paulo, a emenda é a solução para o pagamento das dívidas. A Procuradoria Geral do Estado move ação nesta semana no
STF para conseguir que a emenda
seja mantida. Segundo a procuradora-geral do Estado, Rosali de
Paula Lima, a emenda possibilitaria o pagamento neste ano de R$
500 milhões em precatórios não-alimentares (indenizações por desapropriações), que são aqueles
contemplados pelo parcelamento. Até abril, foram pagos R$ 175
milhões de precatórios alimentares (dívidas trabalhistas).
O governo paulista sente que a
situação está periclitante, principalmente devido à posição do novo presidente do STF. Polêmico,
Marco Aurélio de Mello já afirmou considerar "calote público"
o não-pagamento das dívidas.
Marco Aurélio quer tratamento
rigoroso para essa questão. Antes
mesmo de tomar posse, em 31 de
maio, ele pediu informações a tribunais de Justiça e regionais do
Trabalho do país sobre a situação
de inadimplência de cada Estado.
"Eles eram devedores sem medo. Mas agora Marco Aurélio
ameaça cumprir a lei, para isso
não virar faroeste", disse o advogado Vicente Renato Paulillo, da
Comissão Especial de Precatórios
da seção de São Paulo da OAB.
Os números mostram que o governo tem com o que se preocupar. O Estado tem pago menos da
metade do que consta do Orçamento para o pagamento dos precatórios. Em 1999, foi orçado R$
1,75 bilhão para essas dívidas. Foram liquidados R$ 894 milhões e
pagos R$ 393 milhões. Em 2000,
constava do Orçamento R$ 1,32
bilhão para o pagamento dos precatórios. Foram pagos R$ 490 milhões. Para os credores, a culpa é
do governo de Mário Covas
(1995-2001) e de Alckmin. Com a
estabilização da moeda, os valores
devidos ficaram menos defasados
e mais pesados no orçamento.
Valorização
Os precatórios viraram um problema grave para os governadores após o real. Antes, os valores
ficavam defasados entre a emissão e o seu eventual pagamento,
18 meses depois. A estabilidade
acabou com essa distorção.
"Falta vontade política para pagar. Na hora de falar em superávit,
todos se vangloriam. Superávit à
custa de quem?", perguntou José
Mário de Assis Moura, presidente
da Abracap (Associação Brasileira de Advogados dos Credores da
Administração Pública).
Os governadores Orestes Quércia (87-91) e Luiz Antonio Fleury
(91-94) beneficiaram-se da decretação de moratória em 88, para
que fosse incluído na Constituição o artigo 33 do Ato das Disposições Transitórias da Constituição Federal de 1988, que permitia
o parcelamento dos precatórios
existentes em até oito vezes.
Uma das bandeiras erguidas
contra as dívidas judiciais são os
vultosos valores que alcançaram
os precatórios ambientais, que,
representando mais da metade
dos precatórios não-alimentares,
atingiram em dezenas de casos
mais de R$ 1 bilhão.
O levantamento preliminar dos
dados já recebidos pelo STF revela
que há atraso no pagamento de
precatórios em praticamente todos os Estados, segundo a presidência do tribunal. O governo de
Goiás tem débito de 18 anos atrás.
Em São Paulo, o último precatório pago é de 1995. Há ainda pedidos de intervenção contra outros
19 Estados e o Distrito Federal.
Depois que a polêmica sobre o
parcelamento for resolvida, Marco Aurélio levará a julgamento
um caso sobre indenização por
causa da desapropriação de um
imóvel em Santos. Esse processo
definirá a posição do STF sobre a
intervenção em São Paulo.
Se aprová-la, o Supremo requisitará ao presidente Fernando
Henrique Cardoso que adote essa
providência por meio de decreto.
FHC recebeu na última sexta-feira ofício do STJ (Superior Tribunal de Justiça) requisitando a
intervenção no Rio por não-pagamento de precatório.
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