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São Paulo, terça-feira, 10 de junho de 2003

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Dirceu diz que punirá deputados do "Grupo dos 30" que protestarem

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro da Casa Civil, José Dirceu, avisou a coordenação da bancada do PT na Câmara que punirá, tirando cargos e verbas, os deputados do chamado "Grupo dos 30" que participarem dos protestos do funcionalismo público nesta semana contra a reforma da Previdência. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva avaliza a ameaça de punição.
Dirceu também negociará com os moderados eventuais concessões na reforma para lhes dar a paternidade da suavização da proposta. Na semana passada, houve reunião de membros das principais tendências moderadas, a Articulação e o Movimento PT, para acertar ação conjunta contra o "Grupo dos 30".
Esse grupo é formado por 28 deputados -dos 30, 2 saíram- da esquerda petista que lançaram manifesto atacando a política econômica e as reformas tributária e previdenciária. Todas as tendências de membros desse grupo têm cargos no governo.
Ressalvando que não fala pelo governo, José Genoino, presidente do PT, tem restrição à presença de membros do "Grupo dos 30" nos protestos: "Politicamente é ruim e errado, porque é um ato contra uma proposta do governo". Ele confirma que a Articulação, tendência majoritária no PT à qual pertence, assim como Dirceu e Lula, deseja "maior aproximação com o Movimento PT", grupo formado por moderados e membros da esquerda petista que não hostilizam abertamente o governo. Juntas, Articulação e Movimento PT têm cerca de 50 dos 92 deputados federais do partido.
A Folha apurou que o ministro da Casa Civil resolveu jogar duro porque considera que agora as reformas entram na sua fase decisiva: passam às comissões especiais da Câmara, nas quais haverá discussão de conteúdo. É nessa fase que as propostas mais podem ser modificadas. O governo planeja manter os principais pontos dos projetos que enviou, mas se mostra aberto a uma negociação com os moderados do PT.
Uma concessão em estudo, como revelou a Folha na semana passada, é criar uma regra de transição para a aposentadoria dos servidores. Pelo projeto de reforma da Previdência, o servidor público, no caso dos homens, precisará ter idade mínima de 60 anos e 35 de contribuição para se aposentar. Para as mulheres, a regra prevê 55 anos de idade mínima e 30 de contribuição.
Como as regras atuais estabelecem idade mínima de 53 anos para o homem e de 48 para a mulher, os moderados querem que o governo crie regra de transição. A medida agradaria o funcionalismo, um dos mais tradicionais setores da base social petista.
Ao se comprometer a dar aos moderados a paternidade de eventuais mudanças nas reformas, Dirceu quer dar um recado à esquerda petista: ela será isolada do centro do poder se continuar a atacar o governo. Desde a semana passada, emissários do ministro da Casa Civil têm procurado membros do "Grupo dos 30" para levá-los a recuar.


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