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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"
Ministros e líderes do partido se dividem ao reagir às acusações de compra de deputados, feitas pelo deputado Roberto Jefferson
Crise estremece relações entre o PT e Lula
CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL
A crise na base aliada estremeceu a relação do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva
com seu partido, o PT. Incomodada com a tentativa do governo
de limitar o problema ao partido,
a cúpula petista já não contém a
irritação, a começar com o ministro da Coordenação Política, Aldo
Rebelo (PC do B). Mas os petistas
Olívio Dutra (Cidades), José Dirceu (Casa Civil) e Jacques Wagner
(Secretaria do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social) não são poupados.
Ao comentar a entrevista do
presidente do PTB, Roberto Jefferson (RJ), à Folha -segundo a
qual o tesoureiro do partido, Delúbio Soares, distribuía mesada a
parlamentares da base-, Aldo
disse que esse não era um problema do governo, mas do PT. Os petistas reclamaram.
A frustração é latente no comportamento do secretário-geral
do PT, Sílvio Pereira. Por orientação do comando do PT, Pereira
silenciou sobre a entrevista de Jefferson que insinua sua participação num esquema de "mensalão".
Para preservar a imagem do
partido e do governo -dentro da
operação de "redução de danos"-, Pereira reprimiu o ímpeto de pedir licença da Executiva
Nacional do partido e conceder
uma entrevista, defendendo-se
das ilações. Nela, teria de falar de
suas atribuições na montagem do
governo, quando foi encarregado
de intermediar a disputa entre petistas e aliados por cargos.
Pereira -que foi contestado
publicamente pelo presidente do
PT, José Genoino, após admitir
que atuara no desenho do governo- tem revelado decepção em
seus desabafos.
"Depois de ver ministro pedindo o afastamento do Delúbio, depois do que vi nesta semana, não
confio em mais ninguém. Só na
minha família e em meus amigos", repete ele, muitas vezes com
os olhos cheios de lágrima.
Segundo petistas, seu mal-estar
é tamanho que Pereira até cogita a
possibilidade de não integrar a
chapa para a nova Executiva Nacional na disputa pela presidência
do PT, em setembro.
A interlocutores, Pereira confidenciou que pretendia reagir às
reportagens. Mas, até agora, só
Delúbio falou. No comando do
PT, o argumento é que só Delúbio
foi diretamente atingido por Jefferson. Lá, a ordem é evitar confronto com aliados.
Wagner e Olívio
Um integrante do comando do
partido duvidou ontem que Jacques Wagner tivesse coragem de
ir a São Paulo propor à Executiva
o afastamento de Delúbio, como
fez em entrevistas.
O PT também classificou de desastrosa a declaração de Olívio
Dutra, que atribuiu a crise "às
más companhias". Atribuída ao
próprio Lula, a proposta de afastamento de Delúbio azedou a relação entre governo e partido.
Em meio à crise, velhas mágoas
voltam à tona. Um exemplo foi
quando o secretário de Comunicação, Luiz Gushiken, pregou a
"despetização" do governo.
Ontem, em entrevista na sede
do PT, Genoino voltou a negar
qualquer rusga na relação com o
Palácio do Planalto. Mas mandou
um recado claro ao governo. Genoino disse que conversou com o
presidente Lula, mas que os dois
não discutiram o destino de Delúbio na estrutura do partido. "Conversamos sobre tudo. Menos sobre isso. Esse é um assunto da responsabilidade do PT", afirmou.
Questionado se Lula teria telefonado para Delúbio, Genoino recomendou que a pergunta fosse
endereçada ao presidente. E afirmou: "Não sou porta-voz do presidente Lula nem de Delúbio".
Apesar das críticas da esquerda
à política de aliança do governo,
Genoino reiterou a defesa desse
amplo arco: "Governamos com
aliados. Não é um caso isolado
que vai contaminar essa aliança".
Mais uma vez, Genoino negou
que integrantes do governo tenham sugerido o afastamento de
Delúbio e, citando o apoio da esquerda petista, afirmou que há
um clima de unidade do partido,
apesar da disputa por sua presidência. "O PT tem suas diferenças
quando avalia política de aliança e
conjuntura econômica. Mas a defesa do partido e o enfrentamento
dos nossos adversários criam um
clima de unidade", disse ele.
Na tarde de ontem, o comando
do partido escolheu a Casa de
Portugal como palco para o ato de
defesa do PT, no dia 17.
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