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ELIO GASPARI
FFHH não se deixará fritar
Ao seu estilo, FFHH tomou
uma decisão: não se deixará
fritar. Ele sabe que chegou ao
poder amparado na perna gorda do conservadorismo nacional e que essa astuciosa jibóia,
capaz de digerir ditaduras e
democracias, demagogos e
doutores, frita presidentes debilitados com a naturalidade
com que mulher de bodegueiro
frita sardinha.
Fritaram o general Figueiredo (aquele que saiu pelos fundos do palácio) e José Sarney
(aquele que na última semana
de governo nem passaporte diplomático conseguiu). Fernando Collor, que não quis ficar na
frigideira, foi para a máquina
de moer carne e serviram-no
como almôndega.
FFHH pode vir a ser frito se o
conservadorismo que com tanta competência encantou vier a
descobrir que ele deixou de ser
a melhor opção para impedir
uma vitória de Lula.
Seu enfraquecimento e a ressurreição de Lula indicam que
a eleição terá um segundo turno. Até aí não aconteceu muita
coisa, pois Lula é visto como
perdedor experimentado. Se isso fosse pouco, carrega consigo
a mala de intolerância e mistificação do engenheiro Leonel
Brizola. Se a derrota petista
fosse realmente inexorável, estaria tudo bem, mas há alguns
fatores inquietantes.
Tanto em 1989 quanto em
1994, Lula foi derrotado por
adversários ascendentes. Desta
vez, ele está em alta, enquanto
o presidente está em queda.
Apostar numa queda de Lula é
coisa fácil, mas ter que apostar
também numa ascensão de
FFHH pode ser muito risco para uma jibóia conservadora.
Uma das esperanças dos
marqueteiros do Planalto é o
medo de última hora da classe
média. Ela ameaça votar em
Lula, mas, quando chega a hora decisiva, prefere qualquer
coisa a ele. Assim foi em 1989 e
em 1994, mas desta vez há um
complicador. Chama-se Ciro
Gomes.
Os votos que não tiverem coragem de acompanhar Lula até
a urna não precisarão voltar
para FFHH. Poderão parar no
meio do caminho, num candidato capaz de se apresentar como depositário das virtudes
dos dois (o Real de FFHH e o
oposicionismo de Lula). É verdade que, enquanto FFHH e
Lula saíram da luta contra a
ditadura, Ciro nasceu no PDS
e, enquanto ocupou o Ministério da Fazenda, foi feliz condômino da fase de manipulação
eleitoral do Plano Real. Infelizmente, recordações desse tipo
acabam se tornando irrelevantes numa campanha eleitoral.
Por enquanto, Ciro Gomes está disputando a lanterna com
Enéas, mas bastará uma faísca
para que sua candidatura apareça como terceira via, onda
rosa, novo rosto ou seja lá o
que for.
Essa faísca pode estar sendo
produzida pelo próprio Planalto, pois a sua tática de satanização de Lula chega a ser infantil. Está claro que o candidato petista vem sendo engordado por eleitores que resolveram se afastar de FFHH. Esse
pessoal não está zangado porque ficou fora do Proer, mas
porque lhe ofereceram mais
empregos e puseram-lhe a pecha de trambolho sem condições de empregabilidade.
Mudaram de ponto de vista
muito mais por decepção do
que por revolta. Se alguém os
convencer de que o sapo barbudo é a encarnação de Asmodeu,
eles não precisarão voltar para
a sala de aula do professor
Cardoso. Têm um Ciro à mão.
Bastará um murmúrio da rua
indicando que esse movimento
está em curso para que todas
aquelas forças que se aliaram a
FFHH (e Collor) para barrar o
caminho de Lula passem a ver
no ex-ministro da Fazenda um
novo Messias.
FFHH acredita na sua capacidade de recuperação e tudo
indica que ela seja muito
maior do que se supõe. Teme,
porém, que seus aliados resolvam fazer um seguro de suas
vidas à custa de sua existência.
Teme sobretudo que esses aliados o deixem a pé caso a situação econômica do país venha a
exigir mais pílulas amargas.
Resulta claro que hoje lhe falta
suporte político para continuar
candidato e baixar um pacote
semelhante ao que produziu
em outubro passado. Nesse caso, entre o pacote e a candidatura, fica com o pacote e sai do
palácio como o presidente que
governou com as menores taxas de inflação da segunda metade do século.
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