São Paulo, terça-feira, 10 de julho de 2001

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Estudo da FGV sugere adoção de metas sociais

DA SUCURSAL DO RIO

O estudo da Fundação Getúlio Vargas sugere que o Brasil adote metas sociais de combate à pobreza, a exemplo do que faz com as metas de inflação.
"A política de combate à inflação tem sido bem sucedida, em parte pela fixação de metas inflacionárias a serem atingidas. Se o Banco Central é capaz de estipular metas para a inflação, não seria tão complicado para os governos adotar metas sociais", diz o economista Marcelo Neri.
Neri afirma que as metas sociais seriam uma maneira de estimular os governos e a sociedade a se comprometerem com a redução da pobreza, assim como é feito com a inflação e como está sendo feito, mais recentemente, com a economia de energia elétrica.
Para ele, a maneira mais simples de acompanhar o cumprimento das metas é comparar a evolução da porcentagem de indigentes.
Ao apresentar o estudo, Neri defendeu a eficácia de políticas de distribuição de renda, como o programa Bolsa-Escola, ou subsídios para pequenos produtores rurais e trabalhadores informais.
"Falta foco nas políticas de combate à miséria. Aumentar o salário mínimo, por exemplo, ajuda a diminuir a taxa de indigência, mas não é um método tão eficaz quanto um programa de renda-mínima para distribuir recursos, já que o reajuste do mínimo acaba aumentando o salário de quem já tem alguma renda", explica Neri.
A ampliação de programas de microcrédito para pequenos produtores rurais ou para trabalhadores informais é outra forma eficaz de destinar os recursos de combate à miséria aos que mais necessitam deles, segundo Neri.
O economista da FGV cita como justificativa para essa afirmação o fato de o estudo da FGV demonstrar que 56% dos indigentes vivem em famílias chefiadas por trabalhadores informais.
Segundo Neri, uma das dificuldades de se combater a alta concentração de renda no Brasil é alterar mecanismos já constituídos de distribuição desigual de recursos públicos. Ele cita que, do total de recursos da previdência social, 48% vão para os 10% beneficiários mais ricos.
"O reajuste diferenciado dos benefícios previdenciários é uma estratégia eficaz de diminuir a concentração no setor, com um aumento maior para quem está no piso, em vez do reajuste de todos os aposentados com o mesmo percentual", defende.
Ele disse que quem tem renda mensal per capita familiar de mais de R$ 1.100 já faz parte dos 10% mais ricos do Brasil.



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