São Paulo, quarta-feira, 10 de julho de 2002

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NO AR

Diante de Garotinho

NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA

As entrevistas do Jornal Nacional, agora resta claro, são menos para conhecer os presidenciáveis e mais uma prova para William Bonner e Fátima Bernardes.
O teste de ontem, feito com o profissional de populismo que é Anthony Garotinho, foi demais para ambos.
Diante de perguntas hesitantes sobre segurança pública no Rio e aumento do salário mínimo, seus temas preferidos, o presidenciável não demorou a dominar o palco do JN.
Na primeira questão, repetiu números de seu governo e disse que Benedita da Silva perdeu a autoridade. Na segunda, prometeu elevar o mínimo como fez no Rio -e disse que FHC, que prometeu, não fez.
Não se ouviu uma única intervenção que constrangesse Garotinho, pelo contrário. Ele fez seu discurso como faria no horário eleitoral, livre -até olhando para a câmera, não para os apresentadores.
O primeiro sinal de resistência só foi surgir nos últimos segundos, quando Bonner cobrou e tirou de Garotinho a autorização para mostrar fitas censuradas pelo candidato -supostamente revelando corrupção.
E já anunciou que o JN vai pôr as fitas no ar. O âncora reage. Só precisa de tempo.
 
Foi quase unânime, de Boris Casoy a Franklin Martins, de Rita Camata a Geraldo Alckmin, dos capixabas no JN à Anistia Internacional. Na CBN, Franklin Martins:
- A repercussão foi a pior possível para o governo.
Falava da derrubada da intervenção no Espírito Santo.
A decisão evidenciou, para Boris Casoy, o fracasso de oito anos de planos federais para a segurança. Nada bom para José Serra.
O presidente e o procurador-geral da República não quiseram comentar, no JN. A defesa da derrubada da intervenção sobrou para o governador, atrevido:
- Não aceito que interventor pise no Espírito Santo.
Na mesma linha, surgiu na TV o presidente pefelista da Assembléia Legislativa capixaba -ele que "foi indiciado pela CPI do Narcotráfico", segundo o Jornal da Record.
Festejou a vitória da "ordem", com arrogância:
- Eu nunca perdi nenhuma. Os meus adversários são poucos, fracos e burros.
 
Ah, segundo o site da Globo, quem também se declarou contra a intervenção foi Ciro Gomes, ao receber o apoio do presidente pefelista.
Ciro disse que a intervenção seria "uma violência".



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