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Invasão de terra improdutiva não é ilegal, diz novo procurador-geral
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O novo procurador-geral da
República, Claudio Fonteles, disse
que, se for realizada de forma pacífica, a invasão de terras improdutivas por trabalhadores rurais é
uma prática legal.
"As pessoas famintas, desesperadas, esfarrapadas, que não são
bandidos, marginais, não pertencem ao crime organizado e que
querem plantar para alimentar os
filhos entram normalmente numa terras dessas não para destruir, mas em movimento pacífico, como Mahatma Gandhi fazia.
Isso, a meu juízo, não é ilegal."
A declaração dele diverge do
que o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), ministro
Maurício Corrêa, falou anteontem, após receber deputados da
bancada ruralistas e dirigentes de
entidades que representam os
proprietários de terras.
Corrêa disse que a invasão de
terra, mesmo que improdutiva, é
ilícito civil e criminal, porque viola o devido processo legal, assegurado pela Constituição.
Ele acrescentou que esse foi o
entendimento firmado pelo conjunto dos ministros do STF, em
2002, no julgamento de uma ação
direta de inconstitucionalidade
proposta pelo PT contra a medida
provisória que proibiu a desapropriação de terras invadidas.
O presidente do Supremo disse,
por fim, que o Executivo tem o
dever de conter os excessos tanto
do MST (Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) quanto dos fazendeiros.
Leituras
Fonteles afirmou ontem que a
sua avaliação está fundamentada
na própria Constituição, particularmente na parte que dispõe sobre a função social da terra e autoriza a desapropriação de imóveis
considerados improdutivos.
Ele negou que o STF já tenha firmado uma posição sobre a ocorrência de crime na invasão de terra. "Eu não tenho essa leitura. O
direito permite mais de uma interpretação. Vamos ver aquela
que é mais adequada. O Judiciário
pacificará as leituras."
Fonteles foi nomeado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e
tomou posse há dez dias. A afirmação dele repercutiu mal no
STF. Um ministro disse, em caráter reservado, que ela pode estimular novas invasões. Ele lembrou que o papel do procurador-geral é zelar pelo cumprimento
das leis e da Constituição.
Ele também criticou ontem a invasão de terras produtivas e o
vandalismo e afirmou que a propriedade privada não é um direito
absoluto.
"Toda propriedade tem uma
função social, solidária. O latifúndio é uma enorme extensão de
terra improdutiva que a pessoa
tem por anos. Isso não é compatível com a Constituição."
O novo procurador-geral afirmou que a manutenção de "espaços enormes de terras improdutivas é inadmissível".
(SILVANA DE FREITAS)
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