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São Paulo, quinta-feira, 10 de julho de 2003

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Imigrantes são tema de Lula em Portugal

DOS ENVIADOS ESPECIAIS A LISBOA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou ontem às 23h43 (19h43 em Brasília) ao hotel Ritz, onde se hospedará em Lisboa para uma "visita de Estado" cheia de simbolismo, mas turvada pela mobilização de brasileiros em condição irregular, que cobram do presidente do Brasil um empenho junto ao governo português para resolver a sua situação.
Dois médicos começaram uma greve de fome diante da embaixada do Brasil, para chamar a atenção dos jornalistas.
"Somos especialistas, trabalhamos há 10 anos no Hospital São Marcos de Bragança, mas há seis anos nos foi imposto contrato de trabalho que viola nossa condição de especialistas, pelo simples fato de sermos brasileiros", reclama o pediatra José Barros de Brito, 42. Seu colega, Maurício Millet, 43, é cirurgião plástico.
Os dois foram levados para dentro do casarão, onde receberam alimentação, mas nem por isso o tema ficou marginalizado no conjunto da visita.
Até porque o Núcleo do PT em Portugal, com seus 1.200 simpatizantes, inclui o "desrespeito aos brasileiros" como um dos pontos que quer abordar no encontro que terá sábado com o presidente, conforme antecipa Manoel Pereira de Andrade, um dos três coordenadores-gerais do núcleo.
Professor da Escola Superior Agrária de Bragança (a 530 quilômetros de Lisboa), Pereira de Andrade, 46 anos, 12 de Portugal, tem situação legal, mas reclama da discriminação que afeta 15 mil brasileiros.
No total, a comunidade reúne 68 mil pessoas, um fluxo que se tornou mais intenso a partir do início dos anos 90 e recrudesceu depois que o real perdeu a quase paridade com o dólar, em 1999.
A diplomacia brasileira negocia com Portugal um acordo para permitir que os brasileiros que têm contrato de trabalho mas não têm visto de permanência possam obtê-lo nos consulados portugueses da Espanha, em vez de terem de voltar ao Brasil.
O acordo deve ser assinado durante a visita de Lula, que começa oficialmente às 10h30 de hoje (6h30 em Brasília), com a cerimônia de chegada na Torre de Belém, que servia de guia para os navegadores que voltavam das Índias e do Novo Mundo.
A visita tem um aspecto mais "simbólico e psicológico", segundo o ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim.
Na verdade, a visita foi cobrada pelo primeiro-ministro José Manuel Durão Barroso (conservador) em telefonema a Lula logo após a vitória eleitoral de outubro. Pediu, exatamente pelo simbolismo do relacionamento entre Brasil e Portugal, que a primeira viagem de Lula à Europa fosse a Lisboa.
Lula não atendeu ao pedido, pois já esteve na França, na Suíça e na Alemanha. Mas o fato de todas essas viagens terem recebido o rótulo de "visitas de trabalho", diplomaticamente menos simbólicas, permitiu que Portugal seja de fato a primeira "visita de Estado".
(CLÓVIS ROSSI E SÉRGIO LIMA)


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