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Imigrantes são tema de Lula em Portugal
DOS ENVIADOS ESPECIAIS A LISBOA
O presidente Luiz Inácio Lula
da Silva chegou ontem às
23h43 (19h43 em Brasília) ao
hotel Ritz, onde se hospedará
em Lisboa para uma "visita de
Estado" cheia de simbolismo,
mas turvada pela mobilização
de brasileiros em condição irregular, que cobram do presidente do Brasil um empenho
junto ao governo português
para resolver a sua situação.
Dois médicos começaram
uma greve de fome diante da
embaixada do Brasil, para chamar a atenção dos jornalistas.
"Somos especialistas, trabalhamos há 10 anos no Hospital
São Marcos de Bragança, mas
há seis anos nos foi imposto
contrato de trabalho que viola
nossa condição de especialistas, pelo simples fato de sermos
brasileiros", reclama o pediatra
José Barros de Brito, 42. Seu colega, Maurício Millet, 43, é cirurgião plástico.
Os dois foram levados para
dentro do casarão, onde receberam alimentação, mas nem
por isso o tema ficou marginalizado no conjunto da visita.
Até porque o Núcleo do PT
em Portugal, com seus 1.200
simpatizantes, inclui o "desrespeito aos brasileiros" como um
dos pontos que quer abordar
no encontro que terá sábado
com o presidente, conforme
antecipa Manoel Pereira de
Andrade, um dos três coordenadores-gerais do núcleo.
Professor da Escola Superior
Agrária de Bragança (a 530 quilômetros de Lisboa), Pereira de
Andrade, 46 anos, 12 de Portugal, tem situação legal, mas reclama da discriminação que
afeta 15 mil brasileiros.
No total, a comunidade reúne 68 mil pessoas, um fluxo que
se tornou mais intenso a partir
do início dos anos 90 e recrudesceu depois que o real perdeu a quase paridade com o
dólar, em 1999.
A diplomacia brasileira negocia com Portugal um acordo
para permitir que os brasileiros
que têm contrato de trabalho
mas não têm visto de permanência possam obtê-lo nos
consulados portugueses da Espanha, em vez de terem de voltar ao Brasil.
O acordo deve ser assinado
durante a visita de Lula, que começa oficialmente às 10h30 de
hoje (6h30 em Brasília), com a
cerimônia de chegada na Torre
de Belém, que servia de guia
para os navegadores que voltavam das Índias e do Novo
Mundo.
A visita tem um aspecto mais
"simbólico e psicológico", segundo o ministro de Relações
Exteriores, Celso Amorim.
Na verdade, a visita foi cobrada pelo primeiro-ministro José
Manuel Durão Barroso (conservador) em telefonema a Lula logo após a vitória eleitoral
de outubro. Pediu, exatamente
pelo simbolismo do relacionamento entre Brasil e Portugal,
que a primeira viagem de Lula
à Europa fosse a Lisboa.
Lula não atendeu ao pedido,
pois já esteve na França, na Suíça e na Alemanha. Mas o fato
de todas essas viagens terem
recebido o rótulo de "visitas de
trabalho", diplomaticamente
menos simbólicas, permitiu
que Portugal seja de fato a primeira "visita de Estado".
(CLÓVIS ROSSI E SÉRGIO LIMA)
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