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NA EUROPA
Em conversa no avião presidencial, Genro diz que governo não discute apenas propostas do PT para a Previdência
Lula diz só não negociar "cerne" da reforma
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A LISBOA
O governo aceita negociar a reforma previdenciária no Congresso, desde que seja preservado
o que Tarso Genro, coordenador
do Conselho de Desenvolvimento
Econômico e Social, chama de
"cerne" da proposta oficial.
O "cerne" é representado "pelo
caráter redistributivo, pela eliminação dos privilégios e pela questão fiscal", explica Genro (questão
fiscal, na verdade, é o reforço ao
caixa do governo).
A decisão ficou clara em conversa de mais ou menos cinco horas, a bordo do avião presidencial
que levou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e comitiva a Lisboa, para uma "visita de Estado",
que oficialmente começa hoje.
Os governadores Ronaldo Lessa
(PSB-AL) e Cássio Cunha Lima
(PSDB-PB) puxaram a conversa,
na mesa em que estavam, além de
Lula, o próprio Tarso Genro e o
porta-voz da Presidência, André
Singer. Lessa lamentou a situação
virtualmente falimentar de seu
Estado, para dizer quão importante é a reforma para Alagoas,
sob o ponto de vista fiscal.
Lula, então, defendeu a negociação, desde que seja obedecido o
respeito ao "cerne" da reforma
mencionado por Genro.
O coordenador do CDES diz
também que o governo aceitará
negociar propostas não apenas da
bancada do PT no Congresso,
mas também de outras bancadas,
o que, em tese, pode arrastar a votação da reforma por muito tempo. O governo havia insinuado, a
princípio, que pretendia vê-la votada já no primeiro semestre.
Tarso Genro nega, porém, que o
governo tenha fixado o primeiro
semestre como prazo e até torce
para que haja "uma surpresa positiva" e o Congresso vote o texto
"nos próximos dois meses".
A Folha observou que parece
excesso de otimismo, em se considerando que um dos três pilares
que o governo pretende manter
(o suposto caráter redistributivo
da proposta original) causa polêmica mesmo entre os petistas.
"Apenas entre os petistas que
vocês jornalistas chamam de a esquerda do PT", retrucou o secretário. "Eu os chamo de petistas
que discordam da proposta do
governo, porque, de esquerda, somos todos", completou.
A conversa com Genro deu
margem a perguntas contendo
embutidos dois tipos divergentes
de interpretação: ou o governo
decidira manter-se firme na sua
proposta, ao não abrir mão do
"cerne", ou recuara, ao aceitar a
negociação.
Genro, como era previsível, recusou qualquer das duas interpretações. Diz que a negociação é
própria do Congresso Nacional e
que o "cerne" pode ser atingido
por outros mecanismos que não
estejam na proposta oficial. Só
não quis dizer quais. "Não vou
entrar em aspectos pontuais."
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