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São Paulo, quinta-feira, 10 de julho de 2003

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NA EUROPA

Em conversa no avião presidencial, Genro diz que governo não discute apenas propostas do PT para a Previdência

Lula diz só não negociar "cerne" da reforma

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A LISBOA

O governo aceita negociar a reforma previdenciária no Congresso, desde que seja preservado o que Tarso Genro, coordenador do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, chama de "cerne" da proposta oficial.
O "cerne" é representado "pelo caráter redistributivo, pela eliminação dos privilégios e pela questão fiscal", explica Genro (questão fiscal, na verdade, é o reforço ao caixa do governo).
A decisão ficou clara em conversa de mais ou menos cinco horas, a bordo do avião presidencial que levou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e comitiva a Lisboa, para uma "visita de Estado", que oficialmente começa hoje.
Os governadores Ronaldo Lessa (PSB-AL) e Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) puxaram a conversa, na mesa em que estavam, além de Lula, o próprio Tarso Genro e o porta-voz da Presidência, André Singer. Lessa lamentou a situação virtualmente falimentar de seu Estado, para dizer quão importante é a reforma para Alagoas, sob o ponto de vista fiscal.
Lula, então, defendeu a negociação, desde que seja obedecido o respeito ao "cerne" da reforma mencionado por Genro.
O coordenador do CDES diz também que o governo aceitará negociar propostas não apenas da bancada do PT no Congresso, mas também de outras bancadas, o que, em tese, pode arrastar a votação da reforma por muito tempo. O governo havia insinuado, a princípio, que pretendia vê-la votada já no primeiro semestre.
Tarso Genro nega, porém, que o governo tenha fixado o primeiro semestre como prazo e até torce para que haja "uma surpresa positiva" e o Congresso vote o texto "nos próximos dois meses".
A Folha observou que parece excesso de otimismo, em se considerando que um dos três pilares que o governo pretende manter (o suposto caráter redistributivo da proposta original) causa polêmica mesmo entre os petistas.
"Apenas entre os petistas que vocês jornalistas chamam de a esquerda do PT", retrucou o secretário. "Eu os chamo de petistas que discordam da proposta do governo, porque, de esquerda, somos todos", completou.
A conversa com Genro deu margem a perguntas contendo embutidos dois tipos divergentes de interpretação: ou o governo decidira manter-se firme na sua proposta, ao não abrir mão do "cerne", ou recuara, ao aceitar a negociação.
Genro, como era previsível, recusou qualquer das duas interpretações. Diz que a negociação é própria do Congresso Nacional e que o "cerne" pode ser atingido por outros mecanismos que não estejam na proposta oficial. Só não quis dizer quais. "Não vou entrar em aspectos pontuais."



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