São Paulo, sábado, 10 de julho de 2004

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INVESTIGAÇÃO

Equipe do Rio apura irregularidades em contratos com o BNDES e cumpre mandado de busca na casa de secretário petista

Operação da PF investiga dirigente do PT-MS

RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL

HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPO GRANDE

Uma equipe da Polícia Federal do Rio de Janeiro investiga em Campo Grande (MS), desde anteontem, supostas irregularidades envolvendo militantes do PT no Mato Grosso do Sul na assinatura de contratos com o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
A investigação está sob sigilo, mas a Folha apurou que a casa do secretário de Organização do PT do diretório estadual do Mato Grosso do Sul, Sandro César Fantini, em Campo Grande (MS), foi alvo de um mandado de busca e apreensão expedido pela Justiça Federal. Ele não foi preso ou detido. De acordo com a PF, outras apreensões devem ocorrer nos próximos dias no Estado.
Fantini foi procurado ontem pela reportagem para comentar a operação, mas não foi localizado. Foi informado por um militante do PT de que a reportagem queria falar com ele, mas não respondeu ao pedido de contato para uma entrevista (leia texto abaixo).
Os policiais federais -agentes e um delegado deslocados do Rio- apreenderam documentos na casa do dirigente petista e os levaram para a sede da Superintendência da PF em Campo Grande.
Fantini exerceu cargos de primeiro escalão no governo de Zeca do PT. Em 2001, foi presidente do Idaterra (Instituto de Desenvolvimento Agrário, Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural de Mato Grosso do Sul), órgão de relevo no Estado, palco freqüente de conflitos agrários. De 1999 a 2001, também no primeiro mandato de Zeca do PT (1999-2002), foi coordenador-geral de Articulações com os Municípios, responsável por acolher reivindicações de prefeitos.
Em julho de 2002, Fantini pediu desligamento do seu cargo de presidente do Idaterra para atuar na campanha de reeleição do governador Zeca do PT.
No comando de um dos principais setores do PT estadual, Fantini é responsável pela organização e o acompanhamento de todas as candidaturas a prefeito do partido no interior do Estado.
Fantini também ajuda na estruturação da campanha eleitoral do candidato do PT a prefeito de Campo Grande, o deputado federal Vander Loubet, sobrinho do governador José Orcírio Miranda dos Santos, o Zeca do PT, e ex-secretário estadual. O dirigente petista foi assessor do deputado, que ontem negou atuação de Fantini em sua campanha.
O delegado identificado apenas como "Santos Neto", da PF do Rio de Janeiro, responsável pelas apreensões, afirmou ontem em Campo Grande, por meio de um policial, que não daria entrevistas sobre o assunto. Informou, no entanto, que permanecerá na cidade na próxima semana.
"Ele se espantou ao saber que um assunto sigiloso já era do conhecimento da imprensa", informou o policial.
Para atuar no caso, Santos Neto e sua equipe ocupam uma sala na Superintendência da Polícia Federal em Campo Grande.
A assessoria da PF no Rio informou que a operação foi realizada pela Delegacia de Combate aos Crimes Financeiros.
Em novembro do ano passado, o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, o diretor-geral da Polícia Federal, Paulo Lacerda, e o presidente do BNDES, Carlos Lessa, decidiram, por meio de um convênio, que os serviços de inteligência da PF passariam a investigar contratos de financiamento do BNDES com empresas supostamente fantasmas.
Na época, ficou decidido que a operação seria comandada pela delegacia da PF no Rio de Janeiro. "Se necessário, as investigações poderão ser feitas em qualquer parte do Brasil e até no exterior", informava, na época, a assessoria do governo federal.
A assessoria da PF informou que a investigação em Mato Grosso do Sul encontra-se em "fase embrionária", apesar do cumprimento de pelo menos um mandado de busca e apreensão. Segundo a PF, a análise do material apreendido "dará a real dimensão de tudo o que está sendo investigado" e indicará os próximos passos.


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