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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ PT X PT
Agravamento da crise provoca afastamento; Campo Majoritário aponta sucessor
Genoino deixa presidência do PT; Tarso Genro assume
FÁBIO ZANINI
EM SÃO PAULO
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
Apesar do esforço do Campo
Majoritário, ala que comanda o
partido, José Genoino deixou ontem a presidência do PT.
A detenção de José Adalberto
Vieira da Silva, assessor do deputado estadual José Nobre Guimarães (PT-CE), irmão de Genoino,
com R$ 437 mil em notas, anteontem, foi o estopim da renúncia.
Mas o ex-presidente já estava desgastado com as denúncias de seu
suposto envolvimento no escândalo do "mensalão".
Em seu lugar, assume o atual
ministro da Educação, Tarso
Genro. Seu nome foi apresentado
pelo Campo Majoritário (ala que
domina o partido, com cerca de
60% dos votos), ontem, durante
reunião do Diretório Nacional,
em São Paulo. Foi considerado
"inegociável".
Tarso deverá deixar o Ministério para assumir o partido. O mais
cotado para assumir a pasta é o
atual secretário-executivo, Fernando Haddad.
Outras modificações anunciadas ontem à noite são as escolhas
do ministro demissionário do
Trabalho, Ricardo Berzoini, para
a Secretaria-Geral, do deputado
federal José Pimentel (CE) para a
tesouraria e do ex-ministro da
Saúde Humberto Costa para a Secretaria de Comunicação.
Costa deve substituir Marcelo
Sereno, que ontem à tarde também se afastou, tornando-se o
quarto petista da cúpula partidária a cair em razão do escândalo
do "mensalão".
Os novos integrantes da Executiva petista foram referendados
pelo diretório -uma mera formalidade, uma vez que foram
apontados pela ala majoritária.
Genoino pediu seu afastamento
do cargo logo no início da reunião, o que foi imediatamente
acatado. Houve choro e palavras
de solidariedade ao agora ex-presidente da legenda.
"Dever cumprido"
"Deixo o partido com o sentido
de dever cumprido", afirmou Genoino, olhos marejados, em um
depoimento de oito minutos à
imprensa, depois de anunciar sua
decisão ao diretório.
Estava cercado pela cúpula do
partido, como os líderes do governo no Senado, Aloizio Mercadante (SP), e na Câmara, Arlindo Chinaglia (SP) e o ex-ministro José
Dirceu (Casa Civil).
"Vamos dar a volta por cima",
declarou, esclarecendo que sua
saída poderia fortalecer a unidade
do partido e preservar a governabilidade do presidente Lula. Genoino disse que estes "valores" estariam acima de sua carreira.
"Temos que colocar minhas
pretensões e minhas opções em
segundo plano e em segundo lugar", declarou.
Ele presidia o PT havia 30 meses, desde que Dirceu licenciou-se
do cargo para ser ministro da Casa Civil. Era um dirigente próximo ao presidente Luiz Inácio Lula
da Silva e sofreu críticas por atrelar excessivamente o partido ao
Palácio do Planalto.
Imagem forte
A prisão do assessor parlamentar do irmão foi o que precipitou a
saída. A imagem de notas de reais
e dólares divulgadas pela imprensa foi avaliada como muito forte,
independentemente da falta de
responsabilidade pessoal de Genoino no episódio. Antes da prisão, a intenção era permanecer no
cargo, mesmo debilitado.
Curiosamente, ele não citou o
fato no discurso aos companheiros de partido. Emocionado, declarou que encarava a presidência
do PT como uma "missão", que
lhe teria sido confiada por Lula.
"Meu projeto político era outro."
Também reconheceu que deveria ter feito do PT um partido
mais presente no dia a dia do governo, uma crítica sobretudo da
esquerda partidária, que diz que
Lula virou refém de partidos da
direita. "Talvez eu não tenha exercido o protagonismo necessário
junto ao governo", afirmou.
Em um momento particularmente emotivo, declarou que sentia-se ontem como se sentiu em
1972, ao ser preso durante a guerrilha do Araguaia.
Os afastamentos de Genoino e
Sereno seguem as renúncias de
Delúbio Soares e Silvio Pereira,
que ocupavam os respectivos cargos de tesoureiro e secretário-geral do partido.
Todos tiveram seus nomes envolvidos com o escândalo do
"mensalão", suposto pagamento
de mesada a parlamentares da base aliada em troca de apoio ao governo. As denúncias foram feitas
pelo deputado Roberto Jefferson
(PTB-RJ), que apontou o publicitário Marcos Valério como operador do pagamento.
Recentemente, descobriu-se
que Valério tinha sido avalista de
dois empréstimos para o PT, estabelecendo um elo entre a legenda
e o publicitário.
Genoino assinou os empréstimos obtidos pelo partido nos
bancos Rural e BMG, tendo Valério como avalista.
"Certamente cometemos erros,
mas não praticamos atos ilícitos.
O PT não paga nem compra deputados", afirmou Genoino.
Uma questão em aberto é o futuro do próprio Genoino.
Ele é candidato a presidente do
partido no processo de eleição interna, marcado para setembro, no
qual votam 840 mil filiados. A decisão de permanecer ou não candidato terá de ser feita nesta semana, mas a tendência é que o
nome escolhido para seu lugar o
substitua também na eleição.
Ontem, o presidente demissionário respondeu a apenas uma
pergunta a respeito de seu futuro.
"A partir de agora serei José Genoino, ex-deputado federal, e tenho de cuidar da minha sobrevivência", disse ele, que está sem mandato e agora sem emprego.
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