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JANIO DE FREITAS
A engrenagem
A avalanche de descobertas indiciadoras e de mentiras desfeitas, dia após dia, dificulta a compreensão dos mecanismos e do alcance da engrenagem
de corrupção que vazou a partir
de um vídeo sobre apenas R$
3.000. Uma certeza, porém, pode-se ter: o que vem por aí, se houver
investigações de fato, é muito
maior como extensão da engrenagem, como envolvimentos
(pessoais e de entidades) e como
volume financeiro. É assustador,
mas é isso mesmo.
Note-se que as descobertas jorram e nem há, até agora, investigações propriamente. O trabalho
da CPI dos Correios consistiu em
tomar os primeiros depoimentos e
requerer informações documentais que mal começam a ser apreciadas. A CPI nem mesmo se
adaptou, ainda, para a tarefa que
vai crescendo à sua frente.
Ao que se pode saber, os auditores e outros técnicos requisitados
são muito poucos para a documentação já recebida e ainda intacta; faltam providências de segurança para evitar que a corrupção possa contaminar, por interessados, algum dos pontos de
trabalho técnico; e, pela variedade de assuntos e linhas investigatórias evidenciados, parlamentares da CPI já deveriam estar divididos em grupos temáticos para
acelerar as apurações.
É provável que nos próximos
dias cresça a discussão sobre a
conveniência de unir, em uma só,
as CPIs dos Correios, do Mensalão e dos Bingos. A proposta é defensável considerando-se o funcionamento de Senado e Câmara.
Mas também é criticável, pela dificuldade de seu controle, considerando-se o altíssimo poder político concentrado em uma CPI da
Corrupção em geral.
E o poder que deve se impor é o
da limpeza administrativa, da
moralização partidária e da punição. O excesso de poder político
se volta, sempre, contra as instituições democráticas e o Estado
de Direito. O que seria facilitado,
nas circunstâncias atuais, pela
fragilidade do governo Lula.
O governo está minado. O fato,
por exemplo, de que Lula reafirme sua confiança no ministro
Luiz Gushiken não dispensa a necessária e promissora investigação das relações entre governo e
fundos de pensão.
Daí até o que aparenta ser, mas
não é, o outro extremo em montantes financeiros -os cartões de
crédito bancados pelo governo-,
as improbidades puxam-se umas
às outras, no caso de investigação
ampla e séria.
Contratações, compras, fiscalização: não há ministério onde a
colheita fosse frustrante.
Só por falar em improbidades, o
IRB surgiu na onda ao lado dos
Correios, mas o ministro Antonio
Palocci, que por lá mantinha pelo
menos um indicado seu, produziu
o milagre do esquecimento geral.
E no IRB não foram R$ 3.000.
Quanto à parte que já está sob
exibição pela CPI, a engrenagem
começa a mostrar extensão e conexões que lembram aquelas organizações clandestinas celebrizadas em Chicago na década de
1920.
São fortunas que se movem mas
não se explicam, avais contestados e logo confirmados, empréstimos inconvincentes, contratos de
publicidade incabíveis, presença
na fiscalização financeira -tudo
isso é típico de uma imensa cobertura para arrecadação, inclusive
por meios criminosos, de grandes
somas, com propósitos ainda não
esclarecidos.
Aliados
Ao fazer a nomeação de Luiz Marinho para o Ministério do Trabalho, Lula estará oficializando a
CUT como instrumento do governo, ou seja, da política econômica
em vigor.
Logo, com a CUT no atual Ministério do Trabalho, os trabalhadores
nunca estiveram tão longe do governo.
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