São Paulo, sexta, 10 de julho de 1998

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CRISE

Entidades acusam procuradores de forjar ameaças que levaram ao expurgo na PF e preparam dossiês no Rio

Policiais federais armam "contra-ataque"


SERGIO TORRES
da Sucursal do Rio

A reação das entidades representativas de policiais federais à "limpeza" na corporação anunciada pelo Ministério da Justiça passa por investigações detalhadas sobre as atividades pessoais e profissionais de procuradores da República.
Delegados e agentes buscam, em todo o país, informações que possam ajudar as entidades a montar dossiês desabonadores sobre as condutas de procuradores responsáveis por denúncias contra funcionários da PF (Polícia Federal).
Para dirigentes de federações, associações e sindicatos de servidores da corporação, procuradores forjaram estar sofrendo ameaças, dando início à crise que resultou no afastamento pelo governo de 24 agentes e delegados.
O diretor do Sindicato dos Servidores da PF no Rio, Hermínio Leite, afirmou ontem que não existem indícios de que as ameaças realmente ocorreram. "Duvido que tenham ocorrido. A coisa se transformou em um tribunal de exceção. Não vamos tolerar isso."
O diretor regional da Associação Nacional dos Delegados de PF, Nilton Massa, é outro líder sindical que duvida das ameaças.
"Todo policial, seja federal, civil ou militar, sabe que, se você tiver que fazer alguma coisa, não vai ficar ameaçando. Se tiver que fazer, faz logo. É tudo balela", disse ele.
No Rio, os alvos das investigações informais são os procuradores da República Artur Gueiros e Anaiva Cordovil.
Gueiros coordena o setor criminal do Ministério Público Federal no Rio. Cordovil é responsável pelas denúncias contra policiais federais. Segundo o procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, ela vem sofrendo ameaças.
A Folha tentou ouvir ontem os dois procuradores. Eles estão de férias e não foram encontrados.
Além de investigar a prática de supostas irregularidades pelos representantes do Ministério Público Federal, as entidades representativas dos policiais planejam iniciar uma batalha jurídica contra o Ministério Público.
"Não nos interessa o profissional ruim aqui dentro, mas queremos que a justiça seja feita caso por caso. Se o Ministério Público apontou alguém injustamente, vamos interpelar o Ministério Público na Justiça", disse Leite.
Licenciado do cargo de superintendente da PF no Rio, o delegado Jairo Kullmann foi substituído ontem pelo delegado Paulo Roberto Ornellas.
Kullmann é acusado de participar de um grupo de policiais federais que teria desviado verbas da Previdência Social. Ele não quis falar à Folha ontem.
O ex-superintendente Eleutério Parracho também não quis dar entrevista. Ele teve a demissão pedida pelo Ministério da Justiça.



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