FLÁVIA DE LEON
FERNANDO RODRIGUES
da Sucursal de Brasília

O presidente do Congresso, senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), dedicou a quarta e a quinta-feira desta semana a mudar a estratégia para manter a fábrica da Ford na Bahia. No lugar da disputa pelo poder junto ao presidente Fernando Henrique Cardoso, ACM colocou as desigualdades regionais e conseguiu unir a oposição no Estado.
Aconselhado a submergir por integrantes do governo federal que apóiam a instalação da Ford em sua base eleitoral, ACM mandou que todos os parlamentares baianos fossem para suas casas ou evitassem falar sobre o assunto.
A ordem valeu especialmente para o deputado José Carlos Aleluia (PFL), autor do substitutivo da medida provisória que permite à Ford instalar-se com benefícios na Bahia. Só ficou em Brasília o deputado Manoel Castro (PFL), cujo gosto pela reclusão não poria em risco a estratégia de mudar o eixo da discussão.
A nova estratégia começou a ser desenhada na última quarta-feira, quando a Folha publicou o editorial "Sem se apequenar", em que defende veto ao "fartíssimo elenco de concessões" à instalação da fábrica. De Salvador, ACM passou a telefonar para integrantes do governo. Ouviu de todos que deveria calar-se e evitar a discussão no âmbito político.
Enquanto o assunto estivesse sendo abordado como uma disputa entre ACM e FHC, o senador corria riscos. O presidente poderia ser convencido a dar uma resposta aos adversários que dão a ACM o papel de vice-rei.
Já com a abordagem "técnica", o senador conseguiu até porta- voz. Desde anteontem, ACM passou a manifestar-se por meio de sindicalistas e de integrantes de partidos de esquerda. Do escritório no jornal "Correio da Bahia", de sua propriedade, ACM alimentou o PC do B, o PT e os sindicatos. O resultado foi uma nota oficial assinada pelo Sindicato dos Metalúrgicos da Bahia e pela Federação dos Metalúrgicos do Nordeste defendendo a instalação da fábrica.
A nota, enviada a FHC e aos ministros Pedro Malan (Fazenda), Francisco Dornelles (Trabalho) e Celso Lafer (Desenvolvimento), usa os argumentos arregimentados pelo senador: as regiões Sul e Sudeste receberam "estupendas isenções federais" para atrair montadoras. Ontem, o "Correio da Bahia" publicou um editorial na primeira página listando argumentos técnicos a favor da instalação da Ford na Bahia.


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