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Contato com vírus da
AIDS foi há 14 anos
MÁRIO MOREIRA
da Sucursal do Rio
Betinho era portador do vírus
HIV, que causa a Aids, havia pelo
menos 14 anos.
A informação foi dada à Folha
pelo médico infectologista que tratou do sociólogo, Walber Vieira.
Na opinião de outros infectologistas ouvidos pela Folha, o engajamento em lutas políticas e sociais
foi fundamental para que Betinho
prolongasse seu tempo de vida.
De acordo com esses especialistas, os pacientes que se mantêm
ativos e não se deixam abater pelo
estigma da Aids, como Betinho,
conseguem resultados muito melhores no combate à doença.
Segundo Walber Vieira, pelos
cálculos feitos em conjunto com
Betinho, o contato com o vírus se
deu em 1983 ou antes.
Betinho, que era hemofílico,
soube que estava com o vírus em
1985. Naquele ano e no anterior,
porém, ele não recebeu nenhuma
transfusão de sangue.
O próprio Betinho acreditava,
inclusive, ter sido infectado numa
transfusão ocorrida fora do Brasil,
já que morava no exterior no período provável da contaminação.
Desejo de viver
"O que temos visto é uma relação quase imediata entre o desejo
de viver do paciente e sua sobrevida", afirmou Carlos Alberto Morais, médico do hospital Gaffrée
Guinle, na Tijuca (zona norte do
Rio), um dos mais importantes do
país no tratamento de aidéticos.
"Sem dúvida nenhuma, todos
os meus pacientes que tentam viver normalmente retardam em
muito a fase terminal", disse Saul
Bteshe, que tratou do cantor Renato Russo, também morto por Aids.
"Se a pessoa não estiver fazendo
aquilo de que gosta, tende a ficar
deprimida, o que aumenta a velocidade da doença."
Para Morais, Betinho pertencia
ao grupo dos sobreviventes de longa duração -aqueles que resistem
durante dez anos ou mais após o
desenvolvimento da Aids.
Junto com os não-progressores
(aqueles que não desenvolvem a
doença), eles representam cerca de
15% dos infectados.
"Os pacientes desses grupos têm
em comum uma enorme vontade
de viver. Isso desencadeia processos químicos que ajudam no combate à doença", disse Morais.
Bteshe concordou com essa avaliação. "Tenho dois pacientes que
estão com a doença há 11 e 9 anos e
que levam uma vida totalmente
normal. Isso é pela cabeça deles,
porque o tratamento é o mesmo
dos outros. O sucesso do Betinho
foi exatamente por isso."
Walber Vieira não quis falar sobre a evolução do estado de saúde
de Betinho.
Afirmou, porém, que não há um
fator único para a reação de um
paciente ao tratamento.
"O fator psicológico é importante, mas o biológico também
atua. É preciso que o organismo
seja mais resistente ao vírus."
Cerca de um ano atrás, Betinho
teve que ser internado em função
de uma forte sinusite.
A internação que precedeu sua
morte foi provocada por uma inflamação na mucosa da boca, uma
reação ao coquetel de medicamentos comum em pacientes de Aids.
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