São Paulo, domingo, 10 de agosto de 1997.



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DISCURSO
"Dá pena", diz presidente, para quem "quase todos os assentamentos dependem do governo federal até hoje"
Assentado é 'funcionário público', diz FHC

OTÁVIO DIAS
enviado especial a Santa Fé do Sul

O presidente Fernando Henrique Cardoso disse ontem a estudantes de primeiro grau no interior de São Paulo que os agricultores assentados pela reforma agrária são "funcionários públicos do campo" porque continuam dependendo de recursos do governo.
"Eu mandei fazer um levantamento dos assentamentos. Dá pena. Não resolveu nada", afirmou o presidente. "Quase todos os assentamentos dependem do governo federal até hoje. São os funcionários públicos do campo."
Segundo FHC, os assentamentos dos sem-terra não conseguem sobreviver sem recursos federais porque não tiveram acesso à educação e apoio técnico.
"Não adianta só dar terra. Todo lugar que eu vou tem gente querendo terra. Mas tem de ter muito mais do que terra. Tem de ter condição de trabalhar a terra. E pra isso precisa de educação", afirmou.
A declaração foi feita ontem em Santa Fé do Sul, a cerca de 630 km de São Paulo, durante visita a uma escola de primeiro grau que faz parte do programa TV Escola, do Ministério da Educação.
Pouco antes, cerca de 30 manifestantes com bandeiras do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e da CUT (Central Única dos Trabalhadores) protestaram à passagem do ônibus que levava o presidente.
Segundo o ministro da Educação, Paulo Renato Souza, o programa de ensino à distância TV Escola já atinge cerca de 44 mil colégios no país.
O objetivo é retreinar professores e oferecer subsídios para o ensino básico.
Em seu discurso, o presidente FHC voltou a prometer que, até o final de seu mandato, em 98, o governo pretende colocar todas as crianças de sete a 14 anos na escola.
"O número de crianças na escola aumentou muito desde 94. E não é milagre. É o Plano Real", afirmou FHC. "Não é o Plano Real em si, não é a moeda. É o Brasil ter confiança, é a organização, é a estabilidade, é um governo que trabalha, que é decente."
Ele também afirmou que, no próximo ano, o salário mínimo do professor de ensino básico no Brasil subirá para algo em torno de R$ 300,00 a R$ 320,00.
Antes de visitar Santa Fé do Sul, FHC esteve no município de Rubinéia, à beira do rio Paraná, na divisa de São Paulo com Mato Grosso do Sul, onde está sendo construída uma ponte rodoferroviária (para automóveis e trens) que ligará os dois Estados.
A ponte, que deverá tornar mais barato o escoamento da produção de grãos (soja, milho etc.) da região Centro-Oeste até os portos da região Sudeste, deve ficar pronta em dezembro.
Dos cerca de US$ 550 milhões que serão gastos na construção, cerca de US$ 231 milhões estão sendo pagos pela União. O restante vem do governo de São Paulo.
FHC também esteve na cidade de Aparecida do Tabuado, do outro lado da ponte, já em Mato Grosso do Sul, onde visitou as obras da ferrovia Ferronorte, que está sendo construída por um grupo privado liderado pelo grupo Itamaraty, do empresário Olacyr de Moraes.
A Ferronorte -que, em uma primeira fase, terá cerca de 400 km de extensão- permitirá o transporte da produção agrícola do Centro-Oeste até a divisa com São Paulo, onde estará integrada à rede ferroviária da Fepasa.
Antes de viajar para São Paulo, o presidente FHC negou já estar em campanha pela reeleição em 98.
"Uma pessoa que é candidata à Presidência da República não vai se eleger por causa de obras. Obras são coisas do correr da vida. Tem que fazer porque o Brasil precisa. Mas não é para campanha", disse.
FHC disse que "não se incomoda" se a nova lei eleitoral impedir governantes candidatos à reeleição de participar de inaugurações.



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