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DISCURSO
"Dá pena", diz presidente, para quem "quase todos os assentamentos dependem do governo federal até hoje"
Assentado é 'funcionário público', diz FHC
OTÁVIO DIAS
enviado especial a Santa Fé do Sul
O presidente Fernando Henrique Cardoso disse ontem a estudantes de primeiro grau no interior de São Paulo que os agricultores assentados pela reforma agrária são "funcionários públicos do
campo" porque continuam dependendo de recursos do governo.
"Eu mandei fazer um levantamento dos assentamentos. Dá pena. Não resolveu nada", afirmou o
presidente. "Quase todos os assentamentos dependem do governo federal até hoje. São os funcionários públicos do campo."
Segundo FHC, os assentamentos
dos sem-terra não conseguem sobreviver sem recursos federais
porque não tiveram acesso à educação e apoio técnico.
"Não adianta só dar terra. Todo
lugar que eu vou tem gente querendo terra. Mas tem de ter muito
mais do que terra. Tem de ter condição de trabalhar a terra. E pra isso precisa de educação", afirmou.
A declaração foi feita ontem em
Santa Fé do Sul, a cerca de 630 km
de São Paulo, durante visita a uma
escola de primeiro grau que faz
parte do programa TV Escola, do
Ministério da Educação.
Pouco antes, cerca de 30 manifestantes com bandeiras do MST
(Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra) e da CUT (Central Única dos Trabalhadores)
protestaram à passagem do ônibus
que levava o presidente.
Segundo o ministro da Educação, Paulo Renato Souza, o programa de ensino à distância TV Escola já atinge cerca de 44 mil colégios no país.
O objetivo é retreinar professores e oferecer subsídios para o ensino básico.
Em seu discurso, o presidente
FHC voltou a prometer que, até o
final de seu mandato, em 98, o governo pretende colocar todas as
crianças de sete a 14 anos na escola.
"O número de crianças na escola aumentou muito desde 94. E não
é milagre. É o Plano Real", afirmou
FHC. "Não é o Plano Real em si,
não é a moeda. É o Brasil ter confiança, é a organização, é a estabilidade, é um governo que trabalha,
que é decente."
Ele também afirmou que, no
próximo ano, o salário mínimo do
professor de ensino básico no Brasil subirá para algo em torno de R$
300,00 a R$ 320,00.
Antes de visitar Santa Fé do Sul,
FHC esteve no município de Rubinéia, à beira do rio Paraná, na divisa de São Paulo com Mato Grosso
do Sul, onde está sendo construída
uma ponte rodoferroviária (para
automóveis e trens) que ligará os
dois Estados.
A ponte, que deverá tornar mais
barato o escoamento da produção
de grãos (soja, milho etc.) da região Centro-Oeste até os portos da
região Sudeste, deve ficar pronta
em dezembro.
Dos cerca de US$ 550 milhões
que serão gastos na construção,
cerca de US$ 231 milhões estão
sendo pagos pela União. O restante vem do governo de São Paulo.
FHC também esteve na cidade de
Aparecida do Tabuado, do outro
lado da ponte, já em Mato Grosso
do Sul, onde visitou as obras da
ferrovia Ferronorte, que está sendo construída por um grupo privado liderado pelo grupo Itamaraty, do empresário Olacyr de Moraes.
A Ferronorte -que, em uma
primeira fase, terá cerca de 400 km
de extensão- permitirá o transporte da produção agrícola do
Centro-Oeste até a divisa com São
Paulo, onde estará integrada à rede
ferroviária da Fepasa.
Antes de viajar para São Paulo, o
presidente FHC negou já estar em
campanha pela reeleição em 98.
"Uma pessoa que é candidata à
Presidência da República não vai
se eleger por causa de obras. Obras
são coisas do correr da vida. Tem
que fazer porque o Brasil precisa.
Mas não é para campanha", disse.
FHC disse que "não se incomoda" se a nova lei eleitoral impedir
governantes candidatos à reeleição de participar de inaugurações.
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