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REFORMA AGRÁRIA
Grupo saqueou caminhões e abateu bois no MS
Sem-terra passam fome no
maior acampamento do país
RUBENS VALENTE
da Agência Folha, em Itaquiraí (MS)
A ameaça de fome ronda o maior
acampamento de sem-terra do
país, em Itaquiraí, a 360 km de
Campo Grande (MS).
Com 2.163 famílias ou cerca de
7.500 pessoas, distribuídas entre as
margens da rodovia BR-163 e parte
da Fazenda Mestiço, o acampamento 8 de Março já saqueou seis
caminhões e matou 42 cabeças de
gado, segundo o MST, ou 120 animais, conforme o dono do rebanho, Orensy Rodrigues da Silva.
Mesmo com os saques e a matança, a comida no acampamento é
escassa e de má qualidade. Faltam
principalmente óleo, feijão e açúcar, segundo o coordenador de
grupo, José Padilha dos Santos, 29.
O cardápio da maioria das famílias na semana passada foi arroz e a
carne obtida com o abate.
Os 546 alunos matriculados na
escola do acampamento nunca receberam merenda, segundo a professora Izabel Leite da Silva, 34.
Para atender cerca de 1.500
crianças, a prefeitura de Itaquiraí
repassa 200 litros de leite diariamente, cedidos por um laticínio da
região, o que rende uma ou duas
xícaras por criança ao dia.
Doenças
A alimentação precária contribui
para o surgimento de doenças. Os
coordenadores da equipe de saúde
contavam anteontem 110 pessoas
com problemas respiratórios e intestinais, a maioria crianças.
O acampamento não recebe medicamentos desde a invasão da Fazenda Santo Antônio, em março,
de onde as famílias foram transferidas em abril para a beira da rodovia. O tratamento é feito à base de
xaropes caseiros, produzidos com
cascas de árvore, limão e folhas.
O MST divulga que dez crianças
teriam morrido por problemas decorrentes da desnutrição, mas não
apresenta provas. "Os pais foram
embora após as mortes", disse o
coordenador Carlos da Silva, 26.
A má qualidade da água consumida é outro problema. Os
sem-terra afirmam que o córrego
Fala-Fina, usado para banhos e lavagem de roupa, está contaminado por agrotóxicos despejados numa plantação de cana-de-açúcar.
"Dá uma coceira que demora
dias", descreveu José Padilha.
A água para beber é retirada de
poços abertos pelo acampamento,
mas a maioria está poluída.
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