São Paulo, domingo, 10 de agosto de 1997.



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REFORMA AGRÁRIA
Grupo saqueou caminhões e abateu bois no MS
Sem-terra passam fome no maior acampamento do país

RUBENS VALENTE
da Agência Folha, em Itaquiraí (MS)

A ameaça de fome ronda o maior acampamento de sem-terra do país, em Itaquiraí, a 360 km de Campo Grande (MS).
Com 2.163 famílias ou cerca de 7.500 pessoas, distribuídas entre as margens da rodovia BR-163 e parte da Fazenda Mestiço, o acampamento 8 de Março já saqueou seis caminhões e matou 42 cabeças de gado, segundo o MST, ou 120 animais, conforme o dono do rebanho, Orensy Rodrigues da Silva.
Mesmo com os saques e a matança, a comida no acampamento é escassa e de má qualidade. Faltam principalmente óleo, feijão e açúcar, segundo o coordenador de grupo, José Padilha dos Santos, 29.
O cardápio da maioria das famílias na semana passada foi arroz e a carne obtida com o abate.
Os 546 alunos matriculados na escola do acampamento nunca receberam merenda, segundo a professora Izabel Leite da Silva, 34.
Para atender cerca de 1.500 crianças, a prefeitura de Itaquiraí repassa 200 litros de leite diariamente, cedidos por um laticínio da região, o que rende uma ou duas xícaras por criança ao dia.
Doenças
A alimentação precária contribui para o surgimento de doenças. Os coordenadores da equipe de saúde contavam anteontem 110 pessoas com problemas respiratórios e intestinais, a maioria crianças.
O acampamento não recebe medicamentos desde a invasão da Fazenda Santo Antônio, em março, de onde as famílias foram transferidas em abril para a beira da rodovia. O tratamento é feito à base de xaropes caseiros, produzidos com cascas de árvore, limão e folhas.
O MST divulga que dez crianças teriam morrido por problemas decorrentes da desnutrição, mas não apresenta provas. "Os pais foram embora após as mortes", disse o coordenador Carlos da Silva, 26.
A má qualidade da água consumida é outro problema. Os sem-terra afirmam que o córrego Fala-Fina, usado para banhos e lavagem de roupa, está contaminado por agrotóxicos despejados numa plantação de cana-de-açúcar. "Dá uma coceira que demora dias", descreveu José Padilha.
A água para beber é retirada de poços abertos pelo acampamento, mas a maioria está poluída.



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