São Paulo, sábado, 10 de agosto de 2002

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ANÁLISE

Só Lula escapa da artilharia no "Jornal da Globo"

RENATA LO PRETE
DA REPORTAGEM LOCAL

Não bastassem as evidências oferecidas pelo "Jornal Nacional", a segunda rodada rodada de entrevistas dos candidatos à Presidência na emissora líder de audiência nada apresentou que pudesse caracterizar favorecimento a algum dos convidados.
É verdade que uma avaliação definitiva da cobertura -da Globo e dos outros- terá de aguardar o teste da reta final da campanha, quando cresce o nervosismo.
Feita a ressalva, cumpre notar que a série exibida de segunda a quinta no "Jornal da Globo" manteve, em linhas gerais, a orientação de perguntar a cada um o que precisava ser perguntado.
Talvez ninguém tenha sido mais apertado ali do que o candidato oficial. Do insolúvel dilema "ser ou não ser governo" à perda de apoio nos Estados, José Serra se viu obrigado a passar em revista praticamente todos os tormentos de sua campanha.
E se alguém conseguiu escapar à artilharia de Ana Paula Padrão e Franklin Martins foi Lula, não por falta de perguntas e sim pela disposição do candidato em só respondê-las com generalidades, evitando todo terreno perigoso.
Começou por homenagear a mulher da bancada, como havia feito com Fátima Bernardes no "JN" e Márcia Peltier no debate da Bandeirantes (Duda Mendonça deve saber o que faz, mas é difícil acreditar que essa conversa, datada como um biquíni dos anos 60, resolva o problema de Lula com o eleitorado feminino em 2002).
Daí seguiu tranquilo. Haverá dinheiro para implantar seus projetos? "Uma criança para nascer demora nove meses. Ninguém espera milagre." O compromisso do PT com aumento para o funcionalismo? "Adoro meus filhos, mas nem tudo o que eles pedem eu posso dar." E a perda de arrecadação em 2003? "Se eu fosse acreditar em matemática, teria de dizer que o país não tem jeito."
Ainda que o conteúdo das respostas tenda a zero, pesquisas do PT e de adversários mostram que a estratégia não tem feito mal a Lula. Aparência segura e nada de se meter em encrencas. É esperar para ver se a tática funcionará também no segundo turno.
De volta ao "JG", os melhores momentos da série ficaram por conta de Franklin Martins, firme ao conter o ímpeto de Serra contra Ciro -"o sr. não vai dizer que as dificuldades atuais do país se devem aos 116 dias dele como ministro da Fazenda"- e ao rebater a ginástica verbal de Ciro sobre ACM - "sua contundência nos juízos sobre as pessoas torna difícil entender quando o sr. faz as pazes por conveniência eleitoral".
Os momentos desnecessários foram as "pegadinhas" de Ana Paula Padrão. De Garotinho quis saber o volume do comércio entre Brasil e China. Ele ignorava. O candidato deu o troco perguntando a ela qual é a população da Coréia do Sul. Sorriso amarelo. É o que dá debater o "Almanaque Abril" com um esperto.
A Serra perguntou os preços dos quilos do arroz e do feijão. Ele não sabia. Aparentemente, ela também não, pois teve de pegar o bloco para ler os valores. O lapso não desqualifica a apresentadora. O problema é que também nada diz contra o candidato.


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