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ANÁLISE
Só Lula escapa da artilharia no "Jornal da Globo"
RENATA LO PRETE
DA REPORTAGEM LOCAL
Não bastassem as evidências
oferecidas pelo "Jornal Nacional",
a segunda rodada rodada de entrevistas dos candidatos à Presidência na emissora líder de audiência nada apresentou que pudesse caracterizar favorecimento
a algum dos convidados.
É verdade que uma avaliação
definitiva da cobertura -da Globo e dos outros- terá de aguardar o teste da reta final da campanha, quando cresce o nervosismo.
Feita a ressalva, cumpre notar
que a série exibida de segunda a
quinta no "Jornal da Globo" manteve, em linhas gerais, a orientação de perguntar a cada um o que
precisava ser perguntado.
Talvez ninguém tenha sido mais
apertado ali do que o candidato
oficial. Do insolúvel dilema "ser
ou não ser governo" à perda de
apoio nos Estados, José Serra se
viu obrigado a passar em revista
praticamente todos os tormentos
de sua campanha.
E se alguém conseguiu escapar à
artilharia de Ana Paula Padrão e
Franklin Martins foi Lula, não por
falta de perguntas e sim pela disposição do candidato em só respondê-las com generalidades,
evitando todo terreno perigoso.
Começou por homenagear a
mulher da bancada, como havia
feito com Fátima Bernardes no
"JN" e Márcia Peltier no debate da
Bandeirantes (Duda Mendonça
deve saber o que faz, mas é difícil
acreditar que essa conversa, datada como um biquíni dos anos 60,
resolva o problema de Lula com o
eleitorado feminino em 2002).
Daí seguiu tranquilo. Haverá dinheiro para implantar seus projetos? "Uma criança para nascer demora nove meses. Ninguém espera milagre." O compromisso do
PT com aumento para o funcionalismo? "Adoro meus filhos,
mas nem tudo o que eles pedem
eu posso dar." E a perda de arrecadação em 2003? "Se eu fosse
acreditar em matemática, teria de
dizer que o país não tem jeito."
Ainda que o conteúdo das respostas tenda a zero, pesquisas do
PT e de adversários mostram que
a estratégia não tem feito mal a
Lula. Aparência segura e nada de
se meter em encrencas. É esperar
para ver se a tática funcionará
também no segundo turno.
De volta ao "JG", os melhores
momentos da série ficaram por
conta de Franklin Martins, firme
ao conter o ímpeto de Serra contra Ciro -"o sr. não vai dizer que
as dificuldades atuais do país se
devem aos 116 dias dele como ministro da Fazenda"- e ao rebater
a ginástica verbal de Ciro sobre
ACM - "sua contundência nos
juízos sobre as pessoas torna difícil entender quando o sr. faz as
pazes por conveniência eleitoral".
Os momentos desnecessários
foram as "pegadinhas" de Ana
Paula Padrão. De Garotinho quis
saber o volume do comércio entre
Brasil e China. Ele ignorava. O
candidato deu o troco perguntando a ela qual é a população da Coréia do Sul. Sorriso amarelo. É o
que dá debater o "Almanaque
Abril" com um esperto.
A Serra perguntou os preços
dos quilos do arroz e do feijão. Ele
não sabia. Aparentemente, ela
também não, pois teve de pegar o
bloco para ler os valores. O lapso
não desqualifica a apresentadora.
O problema é que também nada
diz contra o candidato.
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