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REFORMA SOB PRESSÃO
Ministro prefere fundo privado, sem fins lucrativos, a ter União, Estados e municípios gerindo recursos
Berzoini vê risco de ingerência nos fundos
MARTA SALOMON
JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Caracterizados como "públicos" na atual versão da reforma
da Previdência, os futuros fundos
de pensão dos servidores civis
precisam de regras que impeçam
a ingerência dos governos federal,
estaduais ou municipais na sua
gestão. O risco de ingerência
preocupa o ministro Ricardo Berzoini (Previdência), que preferia
fundos privados e sem fins lucrativos, como os fundos das empresas estatais. Para ele, "onde há
muito dinheiro, há risco".
Uma análise do comportamento de fundos de previdência de
municípios indica o tamanho do
problema que poderá surgir em
decorrência do novo modelo de
aposentadoria e pensão dos servidores. Dos 2.145 fundos administrados por prefeituras, 451 estão
em situação irregular, ou seja, não
cumprem a legislação e podem
apresentar desequilíbrios. Segundo Berzoini, a ingerência política
é um dos fatores de desequilíbrio.
Esses fundos geridos por prefeituras não seguem exatamente o
modelo daqueles que serão criados após a reforma da Previdência. No caso das cidades, eles não
complementam o valor da aposentadoria acima do teto do INSS
(Instituto Nacional do Seguro Social), mas bancam toda a aposentadoria a partir de contribuições
dos servidores e das prefeituras.
Para evitar a ingerência política,
o ministro quer alterar a lei (complementar número 108) que trata
da relação entre os governos e os
fundos. Uma emenda definirá o
que significa um fundo público:
não terá fins lucrativos, embora
possa investir, por exemplo, no
processo de privatização ou em
ações de empresas privadas. Ficará claro que os fundos não serão
extensão dos governos, e seus administradores poderão ser responsabilizados por má gestão.
"Isso dará maior segurança política", argumenta.
Embora os detalhes de funcionamento dos futuros planos sigam indefinidos, Berzoini diz que
eles não correrão o risco de entrar
em colapso, como ocorre atualmente com fundos semelhantes
nos Estados Unidos. Lá, a crise foi
gerada pela excessiva concentração de investimentos em ações e
pelo modelo de benefício definido, descartado no próprio texto
da emenda constitucional. O dispositivo é tido no governo como o
principal avanço obtido na mais
recente versão da reforma.
Aplicações
Pelo modelo de contribuição
definida, o valor da aposentadoria
vai depender da rentabilidade das
aplicações do fundo. A principal
diferença é que, nesse modelo, a
União não terá de cobrir um
eventual rombo nos fundos para
bancar um certo valor de aposentadoria previamente definido.
Os futuros fundos de previdência complementar dos servidores
civis podem vir a ser os maiores
do país. Mas não há cálculos no
governo, por ora, de quantos bilhões esses fundos terão para movimentar investimentos.
O acúmulo de reservas vai demorar. Isso porque a adesão será
voluntária tanto para os atuais
servidores como para os futuros.
"A Previ (fundo do Banco do Brasil, o maior do país) demorou
muitos anos até chegar aos seus
primeiros R$ 10 bilhões", observa
Berzoini, do qual ele participa.
"No curto prazo, será muito pouco para sustentar uma política de
desenvolvimento do país."
Ele não tem dúvidas de que os
fundos, tão combatidos pelos servidores públicos, representarão
mecanismo importante de poupança interna no futuro. Esse é,
aliás, o principal argumento em
favor da criação da previdência
complementar, tão importante
quanto atenuar o peso das aposentadorias dos servidores nos
cofres públicos.
Paralelamente à votação da reforma no Congresso, o governo
prepara mudanças nas regras de
investimentos dos fundos de previdência complementar. A principal delas estimulará investimentos em obras de infra-estrutura,
que têm prazos de maturação
mais longos. "Podemos abrir para
investimentos em infra-estrutura
desde que sejam bem amarrados
e tenham retornos garantidos",
disse o ministro.
Atualmente, a resolução 2.829
do Banco Central fixa limites rígidos para investimentos em ações
e imóveis. A idéia é permitir investimentos de maior risco
(maior exposição, no jargão técnico) aos fundos que só pagarão
aposentadorias num futuro mais
distante.
Modelo indefinido
O governo ainda não definiu se,
após a aprovação da emenda
constitucional no Congresso, vai
criar um ou vários fundos de pensão dos servidores civis. As duas
alternativas têm vantagens e desvantagens, segundo Ricardo Berzoini, como ganhos de escala num
grande fundo único ou maior
controle em vários fundos.
O ministro sinaliza uma preferência pessoal por mais de um
fundo, separando integrantes de
carreiras, ou, por exemplo, reúna
as carreiras típicas de Estado. O
governo não abre mão, no entanto, de que a iniciativa dos projetos
de criação dos fundos seja do Executivo. Os juízes pressionam para
propor as regras do seu fundo, o
que é entendido como uma forma
de escapar do teto de R$ 2.400 dos
benefícios bancados pela União.
Segundo Berzoini, não há hipótese de a contribuição dos governos (União, Estados e municípios) para os fundos ultrapassar o
valor da contribuição do servidor.
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