São Paulo, terça-feira, 10 de agosto de 2004

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CASO BANESTADO

Planalto tenta desviar foco das denúncias, diz presidente de CPI

Aliados querem punir quem divulgou dados de Meirelles

FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Senadores da base aliada ao governo devem apresentar hoje requerimento à CPI do Banestado para identificar e punir o responsável pelo vazamento de dados fiscais e bancários de integrantes do governo, como os presidentes do Banco Central, Henrique Meirelles, e do Banco do Brasil, Cássio Casseb. Para os governistas, há interesse eleitoral motivando a divulgação das informações.
O presidente da CPI, senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT), acusa o governo de tentar desviar o foco das acusações de evasão de divisas e sonegação fiscal contra Meirelles e Casseb. "Vazamento de informação sigilosa é crime e deve ser punido. No caso do Meirelles essas informações nunca passaram pela CPI, porque ele não é foco de investigação. Esse governo deveria fazer o mesmo esforço para apurar o conteúdo das denúncias. Não dá para usar essa tática diversionista", disse Paes de Barros.
O clima desfavorável à comissão se acentuou ontem. O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), criticou o volume de sigilos fiscais e bancários quebrados pela CPI. "Não posso interferir no trabalho da comissão, mas na realidade acho que há um certo exagero em quebrar 1.400 sigilos bancários, até porque, materialmente, é impossível analisar todo esse material dentro do funcionamento do prazo da CPI", disse.
A sugestão do requerimento é de um dos vice-líderes do governo, Ney Suassuna (PMDB-PB), e deve ser assinado também pela líder do PT, senadora Ideli Salvatti (SC), com o apoio do líder do governo, senador Aloizio Mercadante (PT-SP). "Na CPI do Collor eu divulguei a movimentação pessoal dele [Collor] nas contas da Ana Accioly [secretária particular], mas abri mão da imunidade parlamentar para ser processado. Em todas as CPIs sérias o parlamentar assume a sua posição e não é isso que está acontecendo agora", afirmou Mercadante.
Segundo o requerimento, que terá que ser votado pela CPI, o vazamento de informações é quebra de decoro parlamentar: o responsável teria que ser levado ao Conselho de Ética do Senado, estando sujeito a perda do mandato.
Os governistas saíram em defesa do relator da comissão, deputado José Mentor (PT-SP), que pediu em bloco a quebra do sigilo fiscal das pessoas físicas e jurídicas que remeteram dinheiro para o exterior por meio de contas CC5, incluindo 29 banqueiros, sem indícios de irregularidades.
"Isso é um exagero, mas é um direito. O problema é divulgar antes de haver uma avaliação", disse Suassuna. Questionado se pediria explicações a Mentor, respondeu que os questionamentos serão feitos ao presidente da CPI, que é o responsável pelos trabalhos. Paes de Barros e Mentor têm travado uma queda-de-braço que tem emperrado o andamento da CPI.
"Seguramente não foi o Mentor que vazou isso. Conheço e confio nele, que é da base do governo e não faria isso há dois meses das eleições", disse Mercadante.
O presidente da CPI procurou ontem Sarney para dar explicações sobre o andamento dos trabalhos da comissão, que tem sido acusada pelo governo de fornecer informações sigilosas para a imprensa. Paes de Barros negou o vazamento de informações sigilosas. "Eu tranqüilizei o presidente do Senado porque não houve vazamento de informações sigilosas. O que foi divulgado pela CPI foi aprovado na comissão, é público", disse ele, que colocou os documentos da comissão em uma sala-cofre no Senado.
A CPI deve analisar hoje requerimento de convocação de Casseb e do ex-diretor de política monetária do BC Luiz Augusto Candiota, que pediu demissão depois de ser acusado de evasão de divisas.
A líder do PT defendeu ontem que os convites para Casseb e Meirelles darem explicações ao Senado fiquem apenas na Comissão de Fiscalização e Controle.


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