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JANIO DE FREITAS
O avesso da CPI
Provável origem de algumas das suspeitas e acusações que atingem integrantes
do governo Lula, a CPI do Banestado reúne-se hoje em condições originais: seus integrantes é que estão postos sob suspeita e a própria CPI passa de
investigadora a investigada.
A inversão de papéis resulta
de pesadas pressões que os petistas do governo e do Congresso jamais exerceram em defesa
da possível inocência de outros
investigados de CPIs passadas.
Hoje na liderança às acusações
e pressões sobre a CPI do Banestado, contra a qual propõe
uma investigação formal, o senador Aloizio Mercadante foi,
entre sua primeira eleição para
deputado e o início do governo
petista, um dos mais audaciosos e persistentes atiradores de
acusações, nem precisando de
CPIs para tal disposição.
A ira do governo e da cúpula
petista, portanto, não se alimenta de princípios. Começa
no compreensível incômodo de
se ver como alvo de acusações
semelhantes às que o petismo
tanto fez. E ganha tamanho e
força na constatação de que várias das suspeitas e acusações
não têm respostas que as invalidem. A ira do governo tem
muito mais de admissão que de
negação.
Daí não decorre que se justifique a priori o vazamento de
dados e fatos sob sigilo legal de
investigação, como é o caso de
grande parte do que interessa à
CPI do Banestado. Mas, de saída, é o sigilo de investigação
que se pode questionar em uma
CPI. Mesmo se admitido o sigilo, o vazamento de um dado ou
fato pode ser necessário à defesa do interesse público, à moralidade administrativa e a outras razões assim maiores. Nesse sentido, é muito significativo
que magistrados, com freqüência, têm reconhecido como justificadas pelo bem público muitas notícias que geram ações judiciais.
Outro motivo para questionar-se o sigilo está na necessidade de lisura das iniciativas e
conclusões de uma CPI. São conhecidos casos de parlamentares, em CPIs passadas, que usaram de convocações e de ameaças investigativas (de Imposto
de Renda, contas pessoais, patrimônio) para vinditas e para
extorsão. Motivos menos graves e mais numerosos são, por
exemplo, conchavos parlamentares e operações do gênero "é
dando que se recebe".
A pretexto de proteger a possível inocência de uns poucos
investigados, o sigilo facilita o
caminho a numerosas improbidades, talvez maiores e piores
que o alvo da CPI. Com ou sem
sigilo, o que governo e comando petista precisam é dar resposta convincente, se puderem
fazê-lo, às suspeições e acusações, que não procedem só da
CPI do Banestado.
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