São Paulo, quarta-feira, 10 de agosto de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ O PRESIDENTE

Ex-tesoureiro, que trabalhou na campanha de 1989 e dirige o Sebrae, afirmou ter quitado empréstimo; versão contradiz documento do BB

Okamotto diz ter pago dívida de Lula com PT

MARTA SALOMON
RUBENS VALENTE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Ex-tesoureiro da campanha eleitoral de 1989 do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e atual presidente do Sebrae nomeado por ele, Paulo Okamotto afirmou ontem ter providenciado o pagamento de uma dívida pessoal de Lula com o PT de R$ 29.436,26. A dívida foi quitada em quatro parcelas, entre dezembro de 2003 e fevereiro de 2004.
"Não contei, não comentei nada com ele [Lula]. (...) Não ia ficar enchendo o saco dele com uma coisa como essa", disse Okamotto, que no Sebrae controla um orçamento anual de R$ 900 milhões. Ex-sindicalista, Okamotto conhece Lula desde os anos 70. Em entrevista à Folha, o ex-tesoureiro disse que retirou o dinheiro de sua conta e o entregou ao PT, que fez os depósitos.
O autor dos pagamentos em favor de Lula foi revelado pela cúpula do PT, depois que documentos encaminhados pelo Banco do Brasil à CPI dos Correios apontaram Lula como a "origem" de depósitos feitos na conta 13.000-1 do Diretório Nacional do PT.
A CPI investiga se o dinheiro do caixa dois do PT, operado pelo publicitário Marcos Valério, foi usado na quitação do débito.
A versão apresentada pelo PT e confirmada por Okamotto contradiz a planilha encaminhada pelo BB, que indica nominalmente Lula como o responsável pelos pagamentos ao partido.
O documento do BB foi enviado em resposta a um requerimento do deputado federal Ônyx Lorenzoni (PFL-RS). Ontem, o parlamentar e o relator da CPI, Osmar Serraglio (PMDB-PR), cobraram mais detalhes do banco, como os documentos de depósito bancário e as fitas de caixa de três agências localizadas em São Paulo, onde os depósitos foram feitos.
Durante mais de duas semanas, Lula evitou o assunto. Por meio da assessoria do Planalto, se limitou a comentar que desconhecia a dívida e os pagamentos e que caberia ao PT esclarecer o assunto. O PT tampouco prestava informações -até ontem.
Em nota assinada pelo tesoureiro, José Pimentel, e pelo secretário-geral da sigla, Ricardo Berzoini, o PT informou que Okamotto, na qualidade de "procurador legal" de Lula, primeiro se recusou a reconhecer a dívida. Depois, parcelou-a em quatro vezes. Os pagamentos informados pelo BB ocorreram em 30 de dezembro de 2003 (R$ 12 mil), em 29 de janeiro de 2004 (R$ 6.000) e em 27 de fevereiro de 2004 (R$ 6.000). A data de depósito dos R$ 5.436,26 restantes não foi informada à CPI.

"Viagens"
A dívida de Lula veio a público durante a análise, feita pela oposição, das contas do PT de 2003 entregues ao Tribunal Superior Eleitoral. Os débitos apareciam em desfavor de "Luiz I. L. Silva".
Na nota divulgada ontem, o PT afirma que há três origens distintas da dívida do presidente: gastos com viagens, pagamento de passagem aérea da primeira-dama, Marisa Letícia, e "adiantamentos". O partido não informou as datas de tais viagens e os valores corretos de cada tipo de dívida.
A dívida, segundo o PT, surgiu no decorrer do processo de desligamento de Lula do quadro de empregados do PT, em dezembro de 2002, antes de ele assumir a Presidência. Segundo o PT e a versão de Okamotto, o ex-tesoureiro era "procurador legal" de Lula na discussão sobre a dívida.
A dívida de Lula, inicialmente revelada pelo senador Álvaro Dias (PSDB-PR), foi alvo de perguntas da oposição durante o depoimento à CPI dos Correios do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, há duas semanas. O deputado Ônyx Lorenzoni quis saber se foi usado dinheiro de Marcos Valério para o pagamento da dívida. Delúbio recorreu a uma resposta-padrão, que usou durante todo o depoimento: "Não vou me pronunciar sobre esse assunto".
Na prestação de contas do PT, também apareciam como tomadores de adiantamentos, pelo partido, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu (PT-SP) e o senador Aloizio Mercadante (PT-SP).


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