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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ O PRESIDENTE
Ex-tesoureiro, que trabalhou na campanha de 1989 e dirige o Sebrae, afirmou ter quitado empréstimo; versão contradiz documento do BB
Okamotto diz ter pago dívida de Lula com PT
MARTA SALOMON
RUBENS VALENTE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Ex-tesoureiro da campanha
eleitoral de 1989 do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva e atual
presidente do Sebrae nomeado
por ele, Paulo Okamotto afirmou
ontem ter providenciado o pagamento de uma dívida pessoal de
Lula com o PT de R$ 29.436,26. A
dívida foi quitada em quatro parcelas, entre dezembro de 2003 e
fevereiro de 2004.
"Não contei, não comentei nada
com ele [Lula]. (...) Não ia ficar
enchendo o saco dele com uma
coisa como essa", disse Okamotto, que no Sebrae controla um orçamento anual de R$ 900 milhões.
Ex-sindicalista, Okamotto conhece Lula desde os anos 70. Em entrevista à Folha, o ex-tesoureiro
disse que retirou o dinheiro de
sua conta e o entregou ao PT, que
fez os depósitos.
O autor dos pagamentos em favor de Lula foi revelado pela cúpula do PT, depois que documentos encaminhados pelo Banco do
Brasil à CPI dos Correios apontaram Lula como a "origem" de depósitos feitos na conta 13.000-1 do
Diretório Nacional do PT.
A CPI investiga se o dinheiro do
caixa dois do PT, operado pelo
publicitário Marcos Valério, foi
usado na quitação do débito.
A versão apresentada pelo PT e
confirmada por Okamotto contradiz a planilha encaminhada pelo BB, que indica nominalmente
Lula como o responsável pelos
pagamentos ao partido.
O documento do BB foi enviado
em resposta a um requerimento
do deputado federal Ônyx Lorenzoni (PFL-RS). Ontem, o parlamentar e o relator da CPI, Osmar
Serraglio (PMDB-PR), cobraram
mais detalhes do banco, como os
documentos de depósito bancário e as fitas de caixa de três agências localizadas em São Paulo, onde os depósitos foram feitos.
Durante mais de duas semanas,
Lula evitou o assunto. Por meio
da assessoria do Planalto, se limitou a comentar que desconhecia a
dívida e os pagamentos e que caberia ao PT esclarecer o assunto.
O PT tampouco prestava informações -até ontem.
Em nota assinada pelo tesoureiro, José Pimentel, e pelo secretário-geral da sigla, Ricardo Berzoini, o PT informou que Okamotto,
na qualidade de "procurador legal" de Lula, primeiro se recusou
a reconhecer a dívida. Depois,
parcelou-a em quatro vezes. Os
pagamentos informados pelo BB
ocorreram em 30 de dezembro de
2003 (R$ 12 mil), em 29 de janeiro
de 2004 (R$ 6.000) e em 27 de fevereiro de 2004 (R$ 6.000). A data
de depósito dos R$ 5.436,26 restantes não foi informada à CPI.
"Viagens"
A dívida de Lula veio a público
durante a análise, feita pela oposição, das contas do PT de 2003 entregues ao Tribunal Superior Eleitoral. Os débitos apareciam em
desfavor de "Luiz I. L. Silva".
Na nota divulgada ontem, o PT
afirma que há três origens distintas da dívida do presidente: gastos
com viagens, pagamento de passagem aérea da primeira-dama,
Marisa Letícia, e "adiantamentos". O partido não informou as
datas de tais viagens e os valores
corretos de cada tipo de dívida.
A dívida, segundo o PT, surgiu
no decorrer do processo de desligamento de Lula do quadro de
empregados do PT, em dezembro
de 2002, antes de ele assumir a
Presidência. Segundo o PT e a
versão de Okamotto, o ex-tesoureiro era "procurador legal" de
Lula na discussão sobre a dívida.
A dívida de Lula, inicialmente
revelada pelo senador Álvaro
Dias (PSDB-PR), foi alvo de perguntas da oposição durante o depoimento à CPI dos Correios do
ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, há duas semanas. O deputado
Ônyx Lorenzoni quis saber se foi
usado dinheiro de Marcos Valério
para o pagamento da dívida. Delúbio recorreu a uma resposta-padrão, que usou durante todo o depoimento: "Não vou me pronunciar sobre esse assunto".
Na prestação de contas do PT,
também apareciam como tomadores de adiantamentos, pelo
partido, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu (PT-SP) e o senador Aloizio Mercadante (PT-SP).
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