São Paulo, segunda, 10 de agosto de 1998 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice CAMPANHA ELEITORAL Setores mais desgastados substituem doadores tradicionais Com recursos escassos, tesoureiros mudam alvos
XICO SÁ da Reportagem Local Os tesoureiros de campanhas, que buscam cerca de R$ 4 bilhões em todo o país para seus candidatos, segundo orçamentos encaminhados à Justiça Eleitoral, já encontraram os alvos mais vulneráveis, em tempos de "choradeira" e de falta de recursos. O "mapa da mina" aponta os setores que sofrem desgaste, como a indústria farmacêutica, e empresários que dependem de proteção para a sobrevivência de negócios como faculdades particulares. Segundo apurou a Folha, junto a candidatos e "caixas" eleitorais, essas são as empresas mais generosas até o momento. A maioria dos tradicionais doadores está cautelosa e deve reduzir o volume de recursos em até 50%, como o caso das empreiteiras. Na eleição de 1994, o setor da construção civil liderou as doações para candidatos. Em 13 Estados, conforme levantamento feito a partir de dados oficiais, doou R$ 26,3 milhões. Algumas empreiteiras, como a CBPO, por exemplo, pretendem reduzir significativamente -ainda não foi decidido o percentual- as doações, conforme contou à Folha um executivo da empresa. A diretoria da construtora também planeja encolher a lista de candidatos beneficiados. Em 94, houve doação para político sem chance eleitoral e pertencente a partidos que não têm a simpatia da casa, como o caso de José Dirceu (PT), candidato derrotado ao governo de São Paulo. O petista, que teve a maior parte da campanha financiada por empreiteiras, ganhou R$ 309 mil da CBPO. Um volume de recurso como este, tido como insignificante em eleições passadas, agora é considerado alto até para os tesoureiros de candidatos favoritos. Além da indústria farmacêutica, desgastada com o escândalos dos remédios falsos, e dos donos de faculdades particulares, que dependem de registros do governo e de aprovação de reajustes de mensalidades, outro setor receptivo tem sido o dos planos de saúde. Estas empresas, segundo um candidato a deputado federal do PPB de São Paulo, são classificadas como "dependentes" de lobby e tendem a ampliar suas doações este ano. Cuidado empresarial "Pelo que tenho sentido, anda todo mundo realmente muito cauteloso", diz Ruy Martins Altenfelder Silva, diretor-geral do Instituto Roberto Simonsen, da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). A maioria das empresas, segundo Silva, passou por uma "política de enxugamento" e readequação à nova conjuntura econômica, da última eleição presidencial, em 1994, para cá. Por este motivo, mudou também o pensamento sobre as doações. Até mesmo Luiz Carlos Bresser Pereira, tesoureiro da campanha que conta com a maior simpatia das empresas, a do presidente Fernando Henrique Cardoso à reeleição, tem reclamado da má vontade de possíveis doadores. No PT, a escassez de recursos atrasou até a impressão do primeiro lote de material de campanha, mas a tesoureira Clara Ant, que conta até agora com cerca de R$ 700 mil, está otimista com o resultado de promoções que o partido fará, como o serviço telefônico 0900 de coleta de fundos. Outro motivo de entusiasmo dos petistas: o candidato Luiz Inácio Lula da Silva começou a viajar de jatinho alugado, na última quarta-feira, quando foi a Minas lançar seu programa de emprego. Sem dinheiro, Lula havia feito viagens anteriores em vôos comerciais. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice |
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