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CELSO PINTO
Brasil volta
ao mercado
O Brasil colocou ontem, com
sucesso, 300 milhões de euros
em bônus, equivalentes a US$
315 milhões. Se o mercado continuar favorável, poderá colocar mais US$ 1,5 bilhão a US$
2 bilhões em bônus até o final
do ano.
Neste segundo semestre, estão vencendo US$ 2,953 bilhões em dívidas externas do
setor público (excluído o pacote de emergência do FMI e do
G-7). Isso inclui bônus da República, títulos da dívida externa ("bradies"), empréstimos do Banco Mundial e do
Banco Interamericano de Desenvolvimento.
O Brasil já colocou US$ 1,1
bilhão em bônus neste segundo semestre. Além dos bônus
de ontem, havia feito uma
emissão em euros de 600 milhões, em julho, depois aumentada para 800 milhões de euros (US$ 840 milhões).
A idéia do Banco Central é,
se as condições internacionais
permitirem, emitir o equivalente às amortizações dessas
dívidas, ou seja, mais US$ 1,8
bilhão. Não é uma meta rígida, explica o diretor da Área
Externa do BC, Daniel Gleizer,
porque o Brasil pode, sem dificuldade, fechar as contas externas deste ano sem essas rolagens.
A intenção, a médio prazo, é
usar as rolagens do setor público como parâmetro para as
novas colocações externas do
governo brasileiro. A lógica é
emitir no limite da rolagem,
para melhorar as condições e o
perfil da dívida, sem elevar o
estoque. O objetivo final, na
verdade, é reduzir o endividamento externo do setor público e abrir espaço para o setor
privado.
A Argentina anuncia, com
grande antecedência, quanto
pretende levantar no mercado
internacional. Talvez o Brasil
também passe a anunciar, no
futuro, seu objetivo de colocação. A diferença é que a Argentina depende do financiamento externo para financiar
suas contas, enquanto o Brasil
vai querer, no máximo, rolar a
dívida que já possui, melhorando prazo e custo.
A colocação dos bônus em
euros, ontem, foi feita por cinco anos, com 11,53% de rendimento. Ele equivale a um prêmio ("spread") acima do melhor papel europeu (alemão),
de prazo idêntico, de 6,95 pontos percentuais.
Na colocação de julho, de
800 milhões de euros, o prazo
foi de três anos e o prêmio de 6
pontos percentuais. O papel de
ontem, portanto, custou mais
caro, em termos absolutos e relativos. Gleizer explica o
"spread" maior tanto pelo
prazo maior quanto pela condição menos favorável do
mercado internacional.
De todo modo, o papel saiu
mais barato do que custaria se
fosse emitido nos Estados Unidos. Um papel brasileiro com o
mesmo vencimento (2004) está sendo negociado com um
"spread" de 8,5 pontos percentuais acima do título do Tesouro americano. Se o papel
em euro emitido ontem fosse
trocado por um papel em dólar, seu prêmio seria de 7,75
pontos.
Quer dizer: a emissão em euros saiu pelo menos 0,8 ponto
mais barata do que custaria
nos Estados Unidos. O mercado europeu, contudo, piorou
desde julho. Além de ter absorvido várias emissões latino-americanas, o aumento dos
juros no Reino Unido diminuiu o atrativo relativo dos
papéis de países emergentes.
Mesmo assim, a emissão de
ontem pode, eventualmente,
crescer, admite Gleizer. Com
uma limitação: o ano de 2004
já concentra cerca de US$ 7 bilhões em vencimentos de títulos externos do governo, e o BC
não quer engordar ainda mais
as amortizações.
O ideal será fazer uma nova
emissão em euro com um prazo um pouco maior, 6 a 8 anos,
para preencher a chamada
"curva de juros". Ou seja, ter
papéis com diferentes vencimentos e custos, que sirvam de
guia ("benchmark") para
emissões privadas.
O mercado europeu ainda
não está saturado de papéis
brasileiros, lembra Gleizer.
Outra opção seria fazer emissões no mercado americano,
que tem apresentado sinais de
melhora nas últimas semanas.
Existem, contudo, dúvidas
sobre as condições do mercado
internacional neste final de
ano, admite Gleizer. Com medo do "bug do milênio", prevê-se que haja uma forte retração
na liquidez, o que tornaria
muito mais difícil emissões de
países emergentes.
A outra dúvida é sobre o
efeito da moratória dos "bradies" do Equador, com a bênção do FMI e do governo americano, como uma forma de
repartir o custo da renegociação da dívida com os investidores privados. A dúvida é saber se o precedente valerá para
todos os casos futuros de renegociação, o que afetaria todos
os emergentes, ou apenas para
países menores. O BC aposta
que ficará limitado aos menores, mas isso ainda não está
claro.
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