São Paulo, Sexta-feira, 10 de Setembro de 1999
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CELSO PINTO
Brasil volta ao mercado

O Brasil colocou ontem, com sucesso, 300 milhões de euros em bônus, equivalentes a US$ 315 milhões. Se o mercado continuar favorável, poderá colocar mais US$ 1,5 bilhão a US$ 2 bilhões em bônus até o final do ano.
Neste segundo semestre, estão vencendo US$ 2,953 bilhões em dívidas externas do setor público (excluído o pacote de emergência do FMI e do G-7). Isso inclui bônus da República, títulos da dívida externa ("bradies"), empréstimos do Banco Mundial e do Banco Interamericano de Desenvolvimento.
O Brasil já colocou US$ 1,1 bilhão em bônus neste segundo semestre. Além dos bônus de ontem, havia feito uma emissão em euros de 600 milhões, em julho, depois aumentada para 800 milhões de euros (US$ 840 milhões).
A idéia do Banco Central é, se as condições internacionais permitirem, emitir o equivalente às amortizações dessas dívidas, ou seja, mais US$ 1,8 bilhão. Não é uma meta rígida, explica o diretor da Área Externa do BC, Daniel Gleizer, porque o Brasil pode, sem dificuldade, fechar as contas externas deste ano sem essas rolagens.
A intenção, a médio prazo, é usar as rolagens do setor público como parâmetro para as novas colocações externas do governo brasileiro. A lógica é emitir no limite da rolagem, para melhorar as condições e o perfil da dívida, sem elevar o estoque. O objetivo final, na verdade, é reduzir o endividamento externo do setor público e abrir espaço para o setor privado.
A Argentina anuncia, com grande antecedência, quanto pretende levantar no mercado internacional. Talvez o Brasil também passe a anunciar, no futuro, seu objetivo de colocação. A diferença é que a Argentina depende do financiamento externo para financiar suas contas, enquanto o Brasil vai querer, no máximo, rolar a dívida que já possui, melhorando prazo e custo.
A colocação dos bônus em euros, ontem, foi feita por cinco anos, com 11,53% de rendimento. Ele equivale a um prêmio ("spread") acima do melhor papel europeu (alemão), de prazo idêntico, de 6,95 pontos percentuais.
Na colocação de julho, de 800 milhões de euros, o prazo foi de três anos e o prêmio de 6 pontos percentuais. O papel de ontem, portanto, custou mais caro, em termos absolutos e relativos. Gleizer explica o "spread" maior tanto pelo prazo maior quanto pela condição menos favorável do mercado internacional.
De todo modo, o papel saiu mais barato do que custaria se fosse emitido nos Estados Unidos. Um papel brasileiro com o mesmo vencimento (2004) está sendo negociado com um "spread" de 8,5 pontos percentuais acima do título do Tesouro americano. Se o papel em euro emitido ontem fosse trocado por um papel em dólar, seu prêmio seria de 7,75 pontos.
Quer dizer: a emissão em euros saiu pelo menos 0,8 ponto mais barata do que custaria nos Estados Unidos. O mercado europeu, contudo, piorou desde julho. Além de ter absorvido várias emissões latino-americanas, o aumento dos juros no Reino Unido diminuiu o atrativo relativo dos papéis de países emergentes.
Mesmo assim, a emissão de ontem pode, eventualmente, crescer, admite Gleizer. Com uma limitação: o ano de 2004 já concentra cerca de US$ 7 bilhões em vencimentos de títulos externos do governo, e o BC não quer engordar ainda mais as amortizações.
O ideal será fazer uma nova emissão em euro com um prazo um pouco maior, 6 a 8 anos, para preencher a chamada "curva de juros". Ou seja, ter papéis com diferentes vencimentos e custos, que sirvam de guia ("benchmark") para emissões privadas.
O mercado europeu ainda não está saturado de papéis brasileiros, lembra Gleizer. Outra opção seria fazer emissões no mercado americano, que tem apresentado sinais de melhora nas últimas semanas.
Existem, contudo, dúvidas sobre as condições do mercado internacional neste final de ano, admite Gleizer. Com medo do "bug do milênio", prevê-se que haja uma forte retração na liquidez, o que tornaria muito mais difícil emissões de países emergentes.
A outra dúvida é sobre o efeito da moratória dos "bradies" do Equador, com a bênção do FMI e do governo americano, como uma forma de repartir o custo da renegociação da dívida com os investidores privados. A dúvida é saber se o precedente valerá para todos os casos futuros de renegociação, o que afetaria todos os emergentes, ou apenas para países menores. O BC aposta que ficará limitado aos menores, mas isso ainda não está claro.


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