São Paulo, Sexta-feira, 10 de Setembro de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

JUSTIÇA
Arcada dentária e digitais confirmam identidade de Amaral
Corpo no Paraguai é de juiz; PF prende suspeito

JAIRO MARQUES
MARCELO TEIXEIRA
da Agência Folha

O corpo encontrado na manhã de terça-feira em Concepción, no Paraguai, é mesmo do juiz Leopoldino Marques do Amaral, 55, da 2ª Vara de Família e Sucessões de Cuiabá (MT).
A confirmação foi feita ontem pela Secretaria da Segurança Pública do Mato Grosso, após reconhecimento da arcada dentária e das impressões digitais do juiz.
O superintendente interino da Polícia Federal em Cuiabá, Jorge Luiz Bezerra, afirmou ontem à noite que a polícia prendeu um homem suspeito que pode estar envolvido na morte. Ele não soube informar a identidade do suspeito, que estava ontem preso em Ponta Porã (MS).
O porta-voz do Planalto, Georges Lamazière, disse que o presidente Fernando Henrique Cardoso lamentou a morte do juiz e manifestou sua repulsa ao crime.
O juiz Amaral havia acusado, em documento entregue à CPI do Judiciário, desembargadores do TJ (Tribunal de Justiça) de Mato Grosso de várias irregularidades, como contratações ilegais, "venda" de sentenças e nepotismo.
As denúncias foram negadas pelos acusados. O juiz também era investigado pela Procuradoria de Justiça no Estado por suposto peculato (apropriação por funcionário público de dinheiro ou objeto que estava sob seu poder).
Amaral recebeu um tiro na nuca e um no ouvido esquerdo, em uma estrada de terra a cerca de 40 km de Concepción (a 250 km da divisa com o Brasil). O corpo estava parcialmente carbonizado e o rosto, desfigurado. Segundo o superintendente da PF, foi encontrado um cartucho de bala dentro da picape do juiz.
Segundo Célio Spadacio, do IML (Instituto Médico Legal) de Cuiabá, a impressão é que alguém teria jogado líquido inflamável sobre o corpo, provavelmente depois dos tiros, e ateado fogo. O perito disse que será feito um exame de DNA, a pedido do TJ.
Para o secretário da Segurança Pública de Mato Grosso, Hilário Mozer Neto, "o crime tem características de execução".
O carro do juiz, uma camionete S10 prata, foi encontrado longe do corpo, a cerca de 40 km da fronteira com o Brasil, no município paraguaio de Cerro Corá.
O vice-consul do Brasil no Paraguai, Gabriel Roriz Flores, disse à Agência Folha, por telefone, acreditar que Amaral não tenha sido morto em Concepción. "O juiz não foi visto no Paraguai antes do crime, e ninguém nas redondezas ouviu barulho de tiro", disse.
Segundo a PF, Amaral estava evitando dormir em um mesmo local, devido a ameaças de morte. Foi divulgado retrato falado de um homem que foi visto com o juiz em um hotel de Cuiabá.


Texto Anterior: Celso Pinto: Brasil volta ao mercado
Próximo Texto: Presidente do TJ-MT diz que quer rigor na apuração
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.