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SÃO PAULO
Pré-candidato tucano a prefeito diz ter mais capacidade gerencial que o PT, mas poupa Marta Suplicy
Alckmin vê corrupção na gestão Pitta
KENNEDY ALENCAR
Editor do Painel
Virtual candidato a prefeito de
São Paulo pelo PSDB em 2000,
Geraldo Alckmin diz que a corrupção está ""em todas as áreas"
da gestão de Celso Pitta (PTN). Se
eleito, afirma que reverá todos os
contratos de terceirização.
""A corrupção está na prefeitura
e na relação incestuosa com a Câmara. Em todas as áreas percebe-se isso. Em obras, em contratos de
terceirização. Houve um loteamento da cidade", diz o tucano.
Para Alckmin, que é vice-governador de São Paulo, o PSDB tem
mais capacidade gerencial do que
o PT. ""Enfatizarei a capacidade
gerencial, mas não personalizarei
na Marta Suplicy (candidata petista). Está provado que o governo
Mário Covas é um exemplo de recuperação", diz.
Médico anestesiologista, 46
anos, casado, três filhos, Alckmin
transferiu o título de eleitor do interior para a capital a fim de ser
candidato. Toma o cuidado de dizer que o PSDB ainda escolherá o
nome, mas, nos bastidores, já foi
ungido por Covas. A seguir, os
principais trechos de entrevista à
Folha, concedida na quarta:
Folha - O sr. fez a carreira no
interior. Não é estranho se candidatar a prefeito de São Paulo?
Geraldo Alckmin - Adquiri uma
experiência cumulativa. Fui prefeito de uma cidade média do interior, que é Pindamonhangaba, e
duas vezes deputado federal. Como vice, assumi o governo no segundo semestre do ano passado,
num momento muito difícil, com
queda de arrecadação e com eleição, que é sempre um fato complicador. Terminamos o ano com
as finanças públicas equilibradas.
Estou convencido que a questão
da Prefeitura de São Paulo é gerencial. Cinco anos atrás a prefeitura estava muito bem em termos
financeiros e o Estado estava quebrado. Cinco anos depois, temos
o Estado recuperado.
Folha - Por que o sr. quer ser
prefeito?
Alckmin - Podemos fazer na
prefeitura o que nós fizemos no
Estado, que é recuperar a cidade.
Podemos varrer a corrupção.
Varrer com "V" de vassoura.
Folha - É um mote personalista e lembra as vassourinhas de
Jânio Quadros...
Alckmin - Não acredito em personalismo. A cidade só melhorará
se tivermos parceria com a sociedade para enfrentar a corrupção.
Folha - Onde está a corrupção
na cidade de São Paulo?
Alckmin - A corrupção está na
prefeitura e na relação incestuosa
com a Câmara. Em todas as áreas
percebe-se isso. Em obras, em
contratos de terceirização. Houve
um loteamento da cidade, e o modelo de Administrações Regionais
está totalmente esgotado.
Folha - Como enfrentar isso?
Alckmin - Não existe esse loteamento no governo do Estado.
Não tem deputado estadual dono
de feudo, como tem vereador dono de Regional. Quem imprime a
regra do relacionamento é o Executivo. A proposta do PSDB é descentralização. Uma cidade com
mais de 10 milhões de habitantes
precisa de subprefeituras. A idéia
é ter um número menor de Administrações Regionais. Hoje são 27.
Podem ficar em torno de 15. Mas
não é importante apenas se vai ter
10, vai ter 20. Aprendi que, quando a comunidade participa, o governo erra menos. O dinheiro
nunca vai ser suficiente para tudo.
Folha - Qual seria a sua primeira medida?
Alckmin - Fechar todas as torneiras do desperdício do dinheiro
público. Na terceirização de serviços pode se fazer uma grande economia, revendo contrato por contrato.
Folha - O sr. sabe que a dívida
total de São Paulo já supera os
R$ 15 bilhões e que a renegociação que Pitta faz com o governo
federal deixará cerca de R$ 2 bilhões para o próximo prefeito?
Alckmin - O novo prefeito terá
dificuldade porque a dívida é
grande, mas o acordo precisa ser
feito para ela não explodir. Feito o
acordo, precisa começar a pagar
ou amortizar essa dívida, pois a
capacidade de investimento, na
atual situação, é quase zero.
Folha - No PSDB, dizem que é
bom ser candidato a prefeito
porque a cidade está tão mal
administrada que, se se fizer algo, as pessoas sentem na hora.
Alckmin - É parcialmente verdadeiro. Não há dúvida de que só
o fato de estabelecer a moralização haverá um ganho de qualidade. Mas não podemos esquecer
que os problemas financeiros não
serão resolvidos em 24 horas.
Folha - O sr. aparece com 2%
de intenção de voto na última
pesquisa Datafolha. Covas vive
um momento ruim. FHC nunca
esteve tão mal. Não é o pior momento para um tucano ser candidato a prefeito?
Alckmin - Concordo que vai ser
difícil, mas escreva: menos impossível do que muita gente acha.
Folha - Por quê?
Alckmin - Quem quiser nacionalizar a campanha, que é local,
vai se dar mal. Isso pode ser truque de marketeiro.
Folha - Mas a degradação da
qualidade de vida em São Paulo
tem tudo a ver com o crescimento do desemprego. Para dizer o menos, ele aumentou bastante em função da política econômica do seu partido.
Alckmin - Claro, mas o prefeito
vai administrar uma cidade. Não
adianta ele querer prometer coisas que não possa cumprir.
Folha - É justa ou injusta a péssima avaliação de FHC?
Alckmin - Não é questão de justa ou injusta. É real e traduz uma
sensação de descontentamento.
Folha - Por que Covas fracassou na segurança pública?
Alckmin - É uma dificuldade, reconheço. Mas a segurança pública
não fracassou. Está melhorando,
o que está piorando é a violência.
O governador comprou 7.000 viaturas, fez 21 penitenciárias fechadas, três penitenciárias semi-abertas, tem 9.000 policiais militares a mais do que tinha no início
do governo. São Paulo tem mais
de 80 mil presos. Quando o governador assumiu tinha 50 e poucos
mil. Isso dá a média de 240 presos
por 100 mil habitantes. Se São
Paulo fosse um país, seria um dos
países do mundo com maior número de presos.
Folha - E por que a violência
aumenta?
Alckmin - O problema da violência envolve a crise social, as famílias desestruturadas, os meios
de comunicação, a banalização da
vida. No cinema ou na TV, mata-se gente como se apaga luz.
Folha - O sr. que crê que a TV é
culpada? Não parece que o governo quer se eximir de culpa?
Alckmin - Não. A segurança pública é responsabilidade integral
do Estado. E que é uma área na
qual o governo tem dificuldade,
mas está trabalhando.
Folha - Em São Paulo, sempre
houve uma polarização entre o
malufismo e o PT. Agora, a candidata do PT, Marta Suplicy,
atrai uma fatia do eleitorado tucano. Qual o seu espaço?
Alckmin - Sempre houve essa
polarização. Isso foi bom para a
cidade? Não. É hora de nós termos uma terceira opção. O PSDB
não teve ainda a oportunidade de
implementar a sua política no
município. Pela gravidade da situação da prefeitura, o PSDB é o
mais recomendado para recuperar as finanças e, por consequência, a cidade. Existe espaço na linha da seriedade, do trabalho.
Folha - Mas a Marta também
fala que é séria e trabalha.
Alckmin - Pode falar. Eu vou falar da capacidade gerencial.
Folha - O sr. acha que ela não
tem capacidade gerencial?
Alckmin - Aprendi que defeitos
ou erros dos adversários não aumentam nossas qualidades. Enfatizarei a capacidade gerencial,
mas não personalizarei na Marta.
Está provado que o governo Covas é exemplo de recuperação.
Folha - O Pitta se reelege?
Alckmin - Acho muito difícil a
reeleição. Ela significa um reconhecimento durante o próprio
mandato.
Folha - Se disputar, o Maluf
tem chance ou vai passar a campanha inteira explicando o naufrágio de Pitta?
Alckmin - Imagine a hipótese de
eleito. Como é que o Maluf vai
corrigir os problemas se foi ele
mesmo que os criou?
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