São Paulo, Domingo, 10 de Outubro de 1999
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SÃO PAULO
Pré-candidato tucano a prefeito diz ter mais capacidade gerencial que o PT, mas poupa Marta Suplicy
Alckmin vê corrupção na gestão Pitta

KENNEDY ALENCAR
Editor do Painel

Virtual candidato a prefeito de São Paulo pelo PSDB em 2000, Geraldo Alckmin diz que a corrupção está ""em todas as áreas" da gestão de Celso Pitta (PTN). Se eleito, afirma que reverá todos os contratos de terceirização.
""A corrupção está na prefeitura e na relação incestuosa com a Câmara. Em todas as áreas percebe-se isso. Em obras, em contratos de terceirização. Houve um loteamento da cidade", diz o tucano.
Para Alckmin, que é vice-governador de São Paulo, o PSDB tem mais capacidade gerencial do que o PT. ""Enfatizarei a capacidade gerencial, mas não personalizarei na Marta Suplicy (candidata petista). Está provado que o governo Mário Covas é um exemplo de recuperação", diz.
Médico anestesiologista, 46 anos, casado, três filhos, Alckmin transferiu o título de eleitor do interior para a capital a fim de ser candidato. Toma o cuidado de dizer que o PSDB ainda escolherá o nome, mas, nos bastidores, já foi ungido por Covas. A seguir, os principais trechos de entrevista à Folha, concedida na quarta:

Folha - O sr. fez a carreira no interior. Não é estranho se candidatar a prefeito de São Paulo?
Geraldo Alckmin -
Adquiri uma experiência cumulativa. Fui prefeito de uma cidade média do interior, que é Pindamonhangaba, e duas vezes deputado federal. Como vice, assumi o governo no segundo semestre do ano passado, num momento muito difícil, com queda de arrecadação e com eleição, que é sempre um fato complicador. Terminamos o ano com as finanças públicas equilibradas. Estou convencido que a questão da Prefeitura de São Paulo é gerencial. Cinco anos atrás a prefeitura estava muito bem em termos financeiros e o Estado estava quebrado. Cinco anos depois, temos o Estado recuperado.

Folha - Por que o sr. quer ser prefeito?
Alckmin -
Podemos fazer na prefeitura o que nós fizemos no Estado, que é recuperar a cidade. Podemos varrer a corrupção. Varrer com "V" de vassoura.

Folha - É um mote personalista e lembra as vassourinhas de Jânio Quadros...
Alckmin -
Não acredito em personalismo. A cidade só melhorará se tivermos parceria com a sociedade para enfrentar a corrupção.

Folha - Onde está a corrupção na cidade de São Paulo?
Alckmin -
A corrupção está na prefeitura e na relação incestuosa com a Câmara. Em todas as áreas percebe-se isso. Em obras, em contratos de terceirização. Houve um loteamento da cidade, e o modelo de Administrações Regionais está totalmente esgotado.

Folha - Como enfrentar isso?
Alckmin -
Não existe esse loteamento no governo do Estado. Não tem deputado estadual dono de feudo, como tem vereador dono de Regional. Quem imprime a regra do relacionamento é o Executivo. A proposta do PSDB é descentralização. Uma cidade com mais de 10 milhões de habitantes precisa de subprefeituras. A idéia é ter um número menor de Administrações Regionais. Hoje são 27. Podem ficar em torno de 15. Mas não é importante apenas se vai ter 10, vai ter 20. Aprendi que, quando a comunidade participa, o governo erra menos. O dinheiro nunca vai ser suficiente para tudo.

Folha - Qual seria a sua primeira medida?
Alckmin -
Fechar todas as torneiras do desperdício do dinheiro público. Na terceirização de serviços pode se fazer uma grande economia, revendo contrato por contrato.

Folha - O sr. sabe que a dívida total de São Paulo já supera os R$ 15 bilhões e que a renegociação que Pitta faz com o governo federal deixará cerca de R$ 2 bilhões para o próximo prefeito?
Alckmin -
O novo prefeito terá dificuldade porque a dívida é grande, mas o acordo precisa ser feito para ela não explodir. Feito o acordo, precisa começar a pagar ou amortizar essa dívida, pois a capacidade de investimento, na atual situação, é quase zero.

Folha - No PSDB, dizem que é bom ser candidato a prefeito porque a cidade está tão mal administrada que, se se fizer algo, as pessoas sentem na hora.
Alckmin -
É parcialmente verdadeiro. Não há dúvida de que só o fato de estabelecer a moralização haverá um ganho de qualidade. Mas não podemos esquecer que os problemas financeiros não serão resolvidos em 24 horas.

Folha - O sr. aparece com 2% de intenção de voto na última pesquisa Datafolha. Covas vive um momento ruim. FHC nunca esteve tão mal. Não é o pior momento para um tucano ser candidato a prefeito?
Alckmin -
Concordo que vai ser difícil, mas escreva: menos impossível do que muita gente acha.

Folha - Por quê?
Alckmin -
Quem quiser nacionalizar a campanha, que é local, vai se dar mal. Isso pode ser truque de marketeiro.

Folha - Mas a degradação da qualidade de vida em São Paulo tem tudo a ver com o crescimento do desemprego. Para dizer o menos, ele aumentou bastante em função da política econômica do seu partido.
Alckmin -
Claro, mas o prefeito vai administrar uma cidade. Não adianta ele querer prometer coisas que não possa cumprir.

Folha - É justa ou injusta a péssima avaliação de FHC?
Alckmin -
Não é questão de justa ou injusta. É real e traduz uma sensação de descontentamento.

Folha - Por que Covas fracassou na segurança pública?
Alckmin -
É uma dificuldade, reconheço. Mas a segurança pública não fracassou. Está melhorando, o que está piorando é a violência. O governador comprou 7.000 viaturas, fez 21 penitenciárias fechadas, três penitenciárias semi-abertas, tem 9.000 policiais militares a mais do que tinha no início do governo. São Paulo tem mais de 80 mil presos. Quando o governador assumiu tinha 50 e poucos mil. Isso dá a média de 240 presos por 100 mil habitantes. Se São Paulo fosse um país, seria um dos países do mundo com maior número de presos.

Folha - E por que a violência aumenta?
Alckmin -
O problema da violência envolve a crise social, as famílias desestruturadas, os meios de comunicação, a banalização da vida. No cinema ou na TV, mata-se gente como se apaga luz.

Folha - O sr. que crê que a TV é culpada? Não parece que o governo quer se eximir de culpa?
Alckmin -
Não. A segurança pública é responsabilidade integral do Estado. E que é uma área na qual o governo tem dificuldade, mas está trabalhando.

Folha - Em São Paulo, sempre houve uma polarização entre o malufismo e o PT. Agora, a candidata do PT, Marta Suplicy, atrai uma fatia do eleitorado tucano. Qual o seu espaço?
Alckmin -
Sempre houve essa polarização. Isso foi bom para a cidade? Não. É hora de nós termos uma terceira opção. O PSDB não teve ainda a oportunidade de implementar a sua política no município. Pela gravidade da situação da prefeitura, o PSDB é o mais recomendado para recuperar as finanças e, por consequência, a cidade. Existe espaço na linha da seriedade, do trabalho.

Folha - Mas a Marta também fala que é séria e trabalha.
Alckmin -
Pode falar. Eu vou falar da capacidade gerencial.

Folha - O sr. acha que ela não tem capacidade gerencial?
Alckmin -
Aprendi que defeitos ou erros dos adversários não aumentam nossas qualidades. Enfatizarei a capacidade gerencial, mas não personalizarei na Marta. Está provado que o governo Covas é exemplo de recuperação.

Folha - O Pitta se reelege?
Alckmin -
Acho muito difícil a reeleição. Ela significa um reconhecimento durante o próprio mandato.

Folha - Se disputar, o Maluf tem chance ou vai passar a campanha inteira explicando o naufrágio de Pitta?
Alckmin -
Imagine a hipótese de eleito. Como é que o Maluf vai corrigir os problemas se foi ele mesmo que os criou?



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