São Paulo, Domingo, 10 de Outubro de 1999
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SECA
Desempenho do setor contrasta com os números gerais da economia da região Nordeste na década de 90
Agropecuária tem perda de R$ 16,45 bi

PATRÍCIA ANDRADE
da Reportagem Local

Os anos 90 foram praticamente uma década perdida para a agricultura e a pecuária do Nordeste brasileiro. Os longos períodos de estiagem têm feito com que o PIB (Produto Interno Bruto) do setor apresente quedas sucessivas.
O prejuízo entre 90 e 98, segundo dados da Sudene (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste), foi de cerca de R$ 16,45 bilhões -quase o mesmo montante do PIB agropecuário do ano passado. Os valores foram atualizados a preços médios de 98.
Por causa da seca de 98, o ano passado foi um dos piores para a atividade. A agropecuária registrou o terceiro menor nível de produção desde 80: R$ 16,5 bilhões. As perdas em relação a 97 foram de R$ 4,9 bilhões, o que significou um recuo do PIB do setor de aproximadamente 23%.
O desempenho da atividade agropecuária contrasta com os números gerais da economia nordestina. Foi na década de 90, principalmente no período pós-real, que a performance econômica da região deu um salto.
Entre 94 e 98, por exemplo, a taxa média anual de crescimento do PIB do Nordeste foi de 3,9%. Nesse mesmo período, o setor industrial teve incremento médio de 6% por ano e o de serviços, de 4,4%. Em compensação, o PIB agropecuário decresceu, em média, anualmente, 6,3%.
O período mais crítico para agricultores e pecuaristas nesta década, porém, foi em 93. A produção agropecuária teve um decréscimo de 29,7% em comparação com 92. Em termos absolutos, isso representou um prejuízo de R$ 6,5 bilhões, em valores de 98.
"A década de 90 foi a pior deste século para o setor agropecuário do Nordeste. A principal causa é que houve cinco anos de fortes estiagens (90, 92, 93,97 e 98)", constata o economista Herôdoto Moreira, coordenador da área de estudos e pesquisas da Sudene.
As perspectivas para 99 não são das melhores. Segundo Moreira, agricultura e pecuária devem apresentar aumento de cerca de 18% no seu PIB em relação a 98. Mas isso só vai ocorrer porque o ano passado foi desastroso.
Os prejuízos da atividade agropecuária acontecem sobretudo no semi-árido. Na avaliação da Fetape (Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de Pernambuco), além da seca, a agropecuária da região tem sido prejudicada porque o volume de financiamento está diminuindo.
Em 98, o valor financiado para produtores rurais do Nordeste foi de R$ 677 milhões, com 174,6 mil beneficiados. Até agora, o número de contratos assinados foi de 31,8 mil, e o total emprestado pelo governo federal por meio do Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar) foi de R$ 140 milhões.
De acordo com dados consolidados pela Fetape, quase todos os Estados nordestinos tiveram quebras de safra neste ano.
No Rio Grande do Norte, nas áreas secas, a perda de safra foi de 98%. No sertão de Pernambuco, houve queda de 85% e 83% nas culturas de milho e feijão, respectivamente. E na Paraíba, a perda média da safra foi de 70%.
Os prejuízos na agricultura, entretanto, não são realidade nas regiões onde foram introduzidas as culturas irrigadas e no cerrado nordestino, local de plantio de soja. Entre 90 e 97, a produção de soja aumentou 487%, a de uva, 288,3%, e a de laranja, 42,3%.
"A solução seria investir mais na fruticultura irrigada porque a região tem ciclos afetados por questões climáticas e isso reduz drasticamente a produção agrícola", diz o economista Getúlio Pernambuco, da CNA (Confederação Nacional da Agricultura).


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