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SECA
Desempenho do setor contrasta com os números gerais da economia da região Nordeste na década de 90
Agropecuária tem perda de R$ 16,45 bi
PATRÍCIA ANDRADE
da Reportagem Local
Os anos 90 foram praticamente
uma década perdida para a agricultura e a pecuária do Nordeste
brasileiro. Os longos períodos de
estiagem têm feito com que o PIB
(Produto Interno Bruto) do setor
apresente quedas sucessivas.
O prejuízo entre 90 e 98, segundo dados da Sudene (Superintendência do Desenvolvimento do
Nordeste), foi de cerca de R$ 16,45
bilhões -quase o mesmo montante do PIB agropecuário do ano
passado. Os valores foram atualizados a preços médios de 98.
Por causa da seca de 98, o ano
passado foi um dos piores para a
atividade. A agropecuária registrou o terceiro menor nível de
produção desde 80: R$ 16,5 bilhões. As perdas em relação a 97
foram de R$ 4,9 bilhões, o que significou um recuo do PIB do setor
de aproximadamente 23%.
O desempenho da atividade
agropecuária contrasta com os
números gerais da economia nordestina. Foi na década de 90, principalmente no período pós-real,
que a performance econômica da
região deu um salto.
Entre 94 e 98, por exemplo, a taxa média anual de crescimento do
PIB do Nordeste foi de 3,9%. Nesse mesmo período, o setor industrial teve incremento médio de
6% por ano e o de serviços, de
4,4%. Em compensação, o PIB
agropecuário decresceu, em média, anualmente, 6,3%.
O período mais crítico para
agricultores e pecuaristas nesta
década, porém, foi em 93. A produção agropecuária teve um decréscimo de 29,7% em comparação com 92. Em termos absolutos,
isso representou um prejuízo de
R$ 6,5 bilhões, em valores de 98.
"A década de 90 foi a pior deste
século para o setor agropecuário
do Nordeste. A principal causa é
que houve cinco anos de fortes estiagens (90, 92, 93,97 e 98)", constata o economista Herôdoto Moreira, coordenador da área de estudos e pesquisas da Sudene.
As perspectivas para 99 não são
das melhores. Segundo Moreira,
agricultura e pecuária devem
apresentar aumento de cerca de
18% no seu PIB em relação a 98.
Mas isso só vai ocorrer porque o
ano passado foi desastroso.
Os prejuízos da atividade agropecuária acontecem sobretudo
no semi-árido. Na avaliação da
Fetape (Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de
Pernambuco), além da seca, a
agropecuária da região tem sido
prejudicada porque o volume de
financiamento está diminuindo.
Em 98, o valor financiado para
produtores rurais do Nordeste foi
de R$ 677 milhões, com 174,6 mil
beneficiados. Até agora, o número de contratos assinados foi de
31,8 mil, e o total emprestado pelo
governo federal por meio do Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar) foi de R$ 140 milhões.
De acordo com dados consolidados pela Fetape, quase todos os
Estados nordestinos tiveram quebras de safra neste ano.
No Rio Grande do Norte, nas
áreas secas, a perda de safra foi de
98%. No sertão de Pernambuco,
houve queda de 85% e 83% nas
culturas de milho e feijão, respectivamente. E na Paraíba, a perda
média da safra foi de 70%.
Os prejuízos na agricultura, entretanto, não são realidade nas regiões onde foram introduzidas as
culturas irrigadas e no cerrado
nordestino, local de plantio de soja. Entre 90 e 97, a produção de soja aumentou 487%, a de uva,
288,3%, e a de laranja, 42,3%.
"A solução seria investir mais
na fruticultura irrigada porque a
região tem ciclos afetados por
questões climáticas e isso reduz
drasticamente a produção agrícola", diz o economista Getúlio Pernambuco, da CNA (Confederação Nacional da Agricultura).
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