|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CELSO PINTO
O ajuste fiscal e as reformas
A aprovação das chamadas "reformas estruturais" é necessária,
mas não suficiente para garantir o
equilíbrio fiscal futuro. Foi a falta
de controle de gastos, mais do que
o impacto de um desequilíbrio estrutural, por exemplo, que levou
ao salto nos gastos com a Previdência nos últimos anos.
As teses são de Fábio Giambiagi
e Ana Cláudia Além, gerentes do
Departamento Econômico do
BNDES, e fazem parte de um artigo do livro "A Economia Brasileira nos anos 90", que está sendo
lançado. O artigo pergunta como
seria possível manter estável, ou
declinante, a relação entre dívida
líquida do setor público e PIB depois de 2001, quando acaba o
acordo com o FMI.
A resposta convencional tem sido: se forem feitas as reformas estruturais, especialmente a da Previdência. A tese do artigo, ao contrário, é que, sem um esforço de
controle de gastos isso não será
possível, mesmo com as reformas
aprovadas.
As contas fiscais do governo pioraram de 94 a 98, principalmente
pelo pior resultado primário (receitas menos despesas, exceto juros), que passou de um superávit
de 5,21% do PIB para 0,01%. As
despesas não-financeiras subiram
de 13,95% do PIB para 16,73%,
um vigoroso salto de 2,78% do
PIB.
Dois itens explicam a maior parte do salto. Os benefícios previdenciários subiram 1,11% do PIB, de
4,85% para 5,96%, e as despesas
com custeio e capital subiram
1,46% do PIB, de 3,26% para
4,72%.
Culpa do déficit estrutural da
Previdência? O desequilíbrio estrutural existe, mas a culpa do salto foi a decisão do governo FHC de
aumentar os benefícios muito acima da inflação ocorrida. De julho
de 94 a junho de 98 os benefícios
subiram 99%, enquanto a inflação, medida pelo IGP, subiu 52%.
Se o governo tivesse mantido o
critério tradicional de reajustar os
benefícios corrigindo a inflação
passada durante todo o período,
os gastos da Previdência teriam
caído e não subido, de 4,85% do
PIB em 94 para 4,54% em 98.
No caso das despesas com custeio e investimentos, foram quatro
os grandes ganhadores: Judiciário, educação, reforma agrária e
transportes. Além disso, o pagamento da renda mínima para idosos e inválidos (no Loas) saiu de
zero, em 94, para 0,3% do PIB em
98 e está subindo à média de 2,5%
ao mês.
Tirando os gastos com o Judiciário, que saltaram de 0,14% do PIB
em 94 para 0,24% em 98, um salto
quase tão grande quanto o da
educação (0,17% do PIB) e muito
maior do que o da saúde (0,01%
do PIB), outros gastos têm claras
justificativas sociais. O fato, como
lembra o artigo, é que não se pode
dizer que esses gastos estiveram
tão arrochados quanto alguns alegam.
A conclusão é que o déficit piorou não só por razões estruturais,
mas também porque decidiu-se
ampliar gastos. A melhora recente, por outro lado, se deu através
de receitas extraordinárias (equivalentes a 2% do PIB em 98 e a
2,5% do PIB no Orçamento de
2000). Para manter sob controle
as contas fiscais além de 2001, portanto, será preciso tornar perenes
receitas extraordinárias e/ou controlar mais duramente os gastos.
Mas qual o tamanho do esforço
necessário depois de 2001? O estudo faz várias simulações sobre como manter estável a relação dívida líquida/PIB, o indicador básico
fiscal.
O estudo exclui da dívida líquida os 4% do PIB da base monetária, que entram na estatística oficial. Supondo uma dívida líquida
de 45% do PIB no final do acordo
com o FMI (equivalente a 49% no
número do FMI) e uma inflação
de 2%, o superávit primário necessário para estabilizar a relação
dependerá do crescimento do PIB
e dos juros.
Imaginando juros nominais de
12% (ou reais de 10%) e um crescimento de 3% do PIB, o superávit
primário teria que ser de 2,9% do
PIB. Crescendo a 4%, o superávit
teria que ser de 2,4%.
É claro que, conforme as hipóteses de juros e de crescimento, a necessidade de superávit primário
sobe enormemente (4,6% do PIB,
com juros de 16% e crescimento de
3%), ou cai (pode ser déficit de
0,15% do PIB com crescimento de
6% e juros de 8%). É provável,
contudo, que o esforço exigido fique entre 1,5% e 2,5% do PIB de
superávit primário, mesmo num
cenário razoável. É menos do que
os mais de 3% exigidos hoje pelo
FMI, mas indica que o esforço fiscal vai continuar bem além de
2001.
O déficit nominal, com 45% de
dívida líquida/PIB (ou 49% no
número do FMI) e com o PIB crescendo 3%, teria que ser contido
em 2,27% do PIB. Crescendo a
4%, poderia ir a 2,68% do PIB. É
ainda menor do que o teto de 3%
fixado para os países da União
Européia.
Giambiagi acha que a melhor
forma de garantir a disciplina fiscal necessária seria fazer como a
Argentina e incluir, numa Lei de
Responsabilidade Fiscal, as metas
fiscais futuras.
Texto Anterior: "Se cometi um erro, devo ser punido", afirma Ciro Próximo Texto: Seca: Agropecuária tem perda de R$ 16,45 bi Índice
|