São Paulo, Domingo, 10 de Outubro de 1999
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REPERCUSSÃO

Fernando Henrique Cardoso, presidente da República - "João Cabral encantou toda uma geração de jovens que sonharam com um Brasil mais justo e solidário no final dos anos 60. Para lembrar sua memória, gostaria de citar uma frase do seu poema "Morte e Vida Severina': "E não há melhor resposta que o espetáculo da vida". João Cabral celebrou a vida em toda a sua poesia."

Augusto de Campos, escritor - "Foi o maior poeta da modernidade brasileira, o engenheiro preciso e conciso que plantou os alicerces da nova poesia a desenvolver-se na segunda metade do século. Na sua geração, não tem quem o iguale, mesmo em dimensão universal. Só o marginalismo da língua portuguesa e o desconhecimento da literatura brasileira impediram que fosse assim reconhecido. O Brasil perde muito e o mundo não sabe quem perdeu."

Ferreira Gullar, poeta -"A morte... o que a gente vai fazer? João Cabral é um dos nomes mais significativos da poesia contemporânea em todo o mundo. A sua poesia é um marco na literatura de língua portuguesa não só pela qualidade, extraordinária, mas pela originalidade. Não tem semelhança com poesia alguma. Toda a minha geração aprendeu demais com João Cabral. Minha poesia é resultado do convívio com sua obra, com Drummond, com Murilo Mendes, Manuel Bandeira e Jorge de Lima. Disse a ele uma vez: "Embora você não vá gostar, quero dizer que sou seu discípulo". Sempre andei mais com pintores, críticos de arte, gente de teatro, mas conheci bem João Cabral e tenho muitas boas lembranças do convívio com ele. Tínhamos discordâncias, é claro, mas apesar do seu jeito muito pessoal, muito discreto, era uma figura encantadora. Ele é um poeta incomparável".

Guillermo Cabrera Infante, escritor cubano - "Conhecia-o de nome, mas nunca li seus poemas. De todo modo, era uma pessoa importante no mundo literário."
José Mindlin, empresário e bibliófilo - "Alguém me perguntou o que eu achava do Prêmio Nobel de Literatura dado ao escritor alemão Gunther Grass e qual o brasileiro que eu achava que tinha condições de ganhar o prêmio. Respondi sem pestanejar: João Cabral. Éramos muito amigos e me lembro perfeitamente da última vez que nos falamos. Ele estava deprimido por causa de sua saúde debilitada, o que certamente afetou qualquer plano para uma nova obra."

Francisco Brennand, artistaplástico pernambucano - "É uma perda lastimável. João Cabral está certamente entre os três ou quatro maiores poetas brasileiros, ao lado de Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade e Jorge de Lima. Esperamos que outros poetas apareçam para preencher essa lacuna, mas creio que não vai aparecer ninguém igual."

Miguel Reale, jurista, filósofo e membro da Academia Brasileira de Letras - "É a morte do maior poeta vivo do Brasil. Ele foi o verdadeiro criador de um ritmo poético diferente. Fez uma poesia fria, mas, ao mesmo tempo, densa de sentimento, com um imenso valor de sensibilidade."

Fauzi Arap, diretor de teatro - "Um dos espetáculos teatrais mais bonitos que já vi foi "Morte e Vida Severina", com música de Chico Buarque e direção de Silnei Siqueira. João Cabral era tão contido, tão enxuto, que qualquer coisa que se possa falar parece excessiva."

Oscar Dias Corrêa, jurista e membro da Academia Brasileira de Letras - "O Brasil perde o seu maior poeta atual. João Cabral não era de muita conversa, era mais para fazer poesia do que para jogar conversa fora, mas era uma grande pessoa."

Arnaldo Niskier, presidente da Academia Brasileira de Letras - "É uma dor muito grande, porque ele era uma pessoa extremamente querida. Foi, sem dúvida, um dos maiores poetas brasileiros de todos os tempos, que merece não só o nosso, como o respeito internacional."

Luiz Costa Lima, crítico literário, professor de literatura comparada da PUC-RJ e da Uerj - "Embora soubesse que o estado de saúde de João Cabral era bastante delicado, a morte de uma pessoa querida e admirada sempre choca. Embora o julgue, sem comparação, nosso maior poeta, é antes de tudo no amigo que agora penso. No amigo e no mestre, pois João foi o meu grande mestre no ano em que convivemos em Madri. O mais lamentável é sua morte coincidir com o estado de apatia, desânimo e ceticismo em que o país está mergulhado."

João Alexandre Barbosa, professor titular aposentado de teoria literária e literatura comparada da USP, autor de "A Imitação da Forma" (Duas Cidades, 1975), sobre a poesia de João Cabral - "Muito difícil dizer alguma coisa. Recentemente, em entrevista ao "Diário de Pernambuco", não tive a menor hesitação em dizer que ele era o maior escritor vivo do país. Mudou profundamente não só a poesia, mas a cultura brasileira. Sua obra, nos anos 50 e 60, tem afinidade com tudo que de mais importante se fez na arquitetura e na música, Oscar Niemeyer e João Gilberto. João Cabral ombreia com os outros dois grandes poetas do século 20 no Brasil, Bandeira e Drummond. Na América Latina, dos anos 50 em diante, ele é de todos o poeta mais importante."

Tom Zé, cantor e compositor - "Esta semana, estava compondo e me lembrei de João Cabral porque fiz uma rima toante, à moda dele. Rimei "faina" com "humana". João me ensinou que o aparente descuido do poeta é, na verdade, a procura obsessiva que resulta em versos mais elegantes."



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