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A PRIMEIRA CRÍTICA
Candido comenta texto em que fez a descoberta de Cabral
ANTONIO CANDIDO
especial para a Folha
João Cabral é um dos grandes
poetas do século, e sua obra será
pelos tempos afora alimento e
conforto. A idéia que teve este jornal de reproduzir um velho artigo
meu traz de volta a quadra em
que eu era "crítico titular" (espécie extinta) da "Folha da Manhã"
(um dos jornais que originaram a
Folha) e tive, por acaso, a oportunidade de ler seu primeiro livro.
Um colega meu, que fora trabalhar em Recife, veio em 1942 junto
com ele para o Rio, por terra, para
evitar possíveis submarinos alemães. Esse amigo sugeriu a João
Cabral que mandasse para mim
um exemplar autografado do recente "Pedra do Sono", que entregou tempos depois, dizendo mais
ou menos que o autor era um rapaz cujos versos não saberia avaliar, mas que se caracterizava por
uma dor de cabeça terrível.
Li e fiquei surpreso com a qualidade daquele texto que fazia pressentir aonde chegaria o tal rapaz,
então completamente desconhecido por aqui. Registrei a impressão neste artigo, publicado em 13
de junho de 1943, e João Cabral
me contou mais tarde que tomou
conhecimento dele por intermédio de Carlos Drummond de Andrade. Em 1954 fiz parte, com
Drummond e Paulo Mendes de
Almeida, da comissão que lhe deu
o prêmio José de Anchieta, no
quadro das comemorações do
quarto centenário da cidade de
São Paulo, pelo livro "o Rio",
apresentado com pseudônimo,
como exigia o regulamento.
Naquele ano eu o conheci no
Congresso Internacional de Escritores e ele me disse uma coisa singular: "Gostaria de fazer em verso
o que Jorge Amado fazia em prosa". Entendi que se tratava do desejo de participação política pela
poesia, o que não falta em sua
obra, embora de maneira oposta à
do escritor baiano. Agora que ele
se foi e não teremos novas criações do seu gênio exato, severo e
certeiro, resta voltar sempre aos
seus livros, que são de uma altura
raramente alcançada na língua
portuguesa.
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