São Paulo, quarta-feira, 10 de outubro de 2001

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JANIO DE FREITAS

O lugar da greve

O agravamento da greve dos professores e servidores de universidades e hospitais universitários, com a demonstração de força implícita na adesão crescente de mais setores, mudou o status do problema, que passou de assunto administrativo para questão política. Os líderes de todos os partidos na Câmara, sem restrição sequer do pouco sensível PSDB, subscreveram um pedido de audiência formal com Fernando Henrique Cardoso para examinar a solução da greve.
O problema, de fato, excede as possibilidades do ministro Paulo Renato Souza. Em qualquer lugar, quem manda é quem manda no dinheiro. E Paulo Renato só é ministro para os formalismos burocráticos do seu ministério: não ousou, jamais, pelo menos insistir por uma verbinha maior em nome das necessidades da Educação, como viu ser feito com êxito na Saúde.
Desse modo, terá que ser Fernando Henrique a falar, se falar, com Pedro Malan sobre a greve. O qual é o indicado para consultar o FMI sobre a possibilidade de serem deslocados uns caramingoles daqui para ali e atenuada a degradante situação dos quadros universitários. De onde se vê que, caso único no mundo, a greve de professores e servidores universitários é assunto internacional, a ser tratado nas instâncias que controlam as finanças mundiais.
As manifestações exacerbadas contra o ministro Paulo Renato são frutos de incompreensão. Se o ministro se recusa a negociar o que quer que seja (a referência não são as compras do seu ministério), é porque precisa, de algum modo, sentir-se autoridade, ainda que só no sentido fascistóide da palavra.

Via direta
O presidente do BankBoston, Henrique Meirelles, tem feito declarações curiosas. Por exemplo: "Entrei para o PSDB a pedido do presidente". E onde tinha que entrar um banqueiro senão no PSDB?
Quando os militares resolveram instalar o general Castello Branco na Presidência, Otto Lara Resende criou um slogan de sucesso: "Basta de intermediários, para presidente Lincoln Gordon". Era o embaixador americano. Como se vê ainda hoje, os intermediários foram mantidos.
Mas o presidente do BankBoston diz que pensa na possibilidade de ser candidato à sucessão de Fernando Henrique. Pelo visto, acham que nem intermediários são mais necessários.

Muito claro
Foi falar, aqui, na inverdade da precisão dos bombardeios americanos, em contestação à notícia oficial de inexistirem vítimas civis, e a nota ainda estava sendo impressa quando os americanos acertaram a agência da ONU no Afeganistão. Quatro mortos. Civis. Em vida, ocupados com a tarefa humanitária de desarmar minas deixadas pela guerra contra os soviéticos.
Bombas sobre a ONU: é simbólico.



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