São Paulo, quinta-feira, 10 de outubro de 2002 |
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GOVERNO Presidente convoca cúpula econômica para discutir "clima de desconfiança" Em dia de articulações, FHC aciona ministros e aliados
ELIANE CANTANHÊDE DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA LEILA SUWWAN DA SUCURSAL DE BRASÍLIA Três dias depois do primeiro turno, o presidente Fernando Henrique Cardoso teve vários encontros políticos ontem e convocou a própria cúpula econômica para discutir a questão eleitoral e seus efeitos sobre o dólar e o risco-Brasil. Em pauta, conforme a Folha apurou, "o clima preocupante" na economia e "de desconfiança" em relação ao favoritismo do candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, no segundo turno. Um discurso, portanto, com forte conotação eleitoral e que pode ser interpretado como contra Lula. FHC, que, desde a segunda-feira, entrou firme na conquista de apoios para o candidato José Serra (PSDB), passou o dia no Alvorada para articulações políticas. Recebeu, inclusive, o governador eleito Aécio Neves (PSDB), considerado fundamental para atrair votos para Serra em Minas Gerais. Só à noite viajou para São Paulo. Simultaneamente, o governo liberava R$ 1,577 bilhão para diferentes ministérios, em plena fase de rearrumação do quadro político para o segundo turno eleitoral. Agenda intensa Na reunião "econômica" -na verdade um almoço- o presidente, quatro ministros e o presidente do Banco Central, Armínio Fraga, analisaram que a possibilidade de vitória de Lula foi bem-recebida politicamente pela comunidade internacional, mas não acalma os mercados. Em resumo, eles decidiram alardear que nem os governos, nem os investidores nem a imprensa internacional questionam a legitimidade de Lula e a evolução do processo político brasileiro, mas que a lógica dos investidores é diferente: investimentos não têm fronteiras e são cada vez menores. Insegurança significa mudar de endereço. FHC convocou a reunião ao ver, pelos canais de notícia em tempo real, que o dólar estava disparando. E foi ele quem pediu a Armínio para dar entrevista coletiva à imprensa às 16h. O tom da entrevista foi acertado no almoço: Armínio deveria dar "um quadro real da situação econômica", mas passando "uma mensagem de tranquilidade". Um tom evidentemente político. Tanto que ele não falou de medidas técnicas e econômicas. Ninguém no governo admite isso, mas a reunião e a própria entrevista do presidente do Banco Central foram interpretadas como um gesto de campanha pró-Serra e contra Lula. Principalmente depois que o próprio Armínio, no meio da entrevista, reclamou das perguntas e teve uma espécie de ato falho. Segundo ele, os jornalistas estavam "atirando no mensageiro". Participaram do almoço com FHC Armínio e os ministros Pedro Malan (Fazenda), Sergio Amaral (Desenvolvimento), Guilherme Dias (Planejamento) e Euclides Scalco (Secretaria Geral da Presidência), ministro político. Pela manhã, FHC recebeu o senador Romeu Tuma (PFL-SP) e os deputados Arthur Virgílio (PSDB-AM) e Raul Jungmann (PMDB-PE), recém-eleito. Além de Aécio, também recebeu, à tarde, o empresário João Carlos Di Gênio e o prefeito do Rio César Maia (PFL). Segundo Maia, FHC trabalha para que "as questões básicas, que geram estabilidade financeira, fiscal e social, sejam imprudentemente afetadas por voluntarismos, como no caso do PT". Arthur Virgílio avisou: "Voltamos à velha rotina: nada fica sem resposta. Nem agora nem depois, seja qual for o presidente", disse sobre seu papel na campanha de Serra no segundo turno. Já Aécio disse que o governo não está usando a máquina ao liberar recursos. Senão, disse, teriam sido liberados no primeiro turno. Ele garantiu que está empenhado em melhorar o fraco desempenho de Serra em Minas e acrescentou que a participação do próprio FHC depende do candidato. O presidente Fernando Henrique está "à disposição". Texto Anterior: Painel Próximo Texto: Rombo amazônico: Tourinho nega ligação com desvios Índice |
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