KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA

O candidato derrotado à Presidência da República Ciro Gomes (PPS) será a arma dos tucanos para, ao mesmo tempo, tentar tirar proveito da "onda Lula" no segundo turno ao governo no Ceará e evitar que o fenômeno alavanque o concorrente petista.
Apoiador da candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à Presidência e de Lúcio Alcântara (PSDB) ao governo do Estado, Ciro terá o papel de barrar a principal estratégia da campanha do petista José Airton Cirilo, que é vincular o seu nome ao de Lula para conquistar votos. No primeiro turno, essa estratégia deu certo e foi a responsável por levar a disputa ao segundo turno.
Em eventos, Ciro irá apoiar a chapa "Lu-Lu" (Lúcio e Lula), integrada por dois partidos adversários seus no primeiro turno. O tucano, candidato apoiado pelas duas maiores lideranças políticas no Estado, Tasso Jereissati e Ciro, teve 49,79% dos votos, enquanto José Airton conseguiu 28,33%.
A forma como Ciro vai aparecer na TV ainda está sendo estudada pela área jurídica da campanha de Lúcio, porque a legislação não é muito clara quanto ao segundo turno -no primeiro turno, Ciro não pôde aparecer, pois a lei proíbe que candidatos de outros partidos participem da propaganda.
Para fortalecer a chapa "Lu-Lu", o local onde funcionou o comitê da campanha presidencial do PPS em Fortaleza será agora comitê da campanha Lúcio-Lula.
Ainda no primeiro turno, para tentar conter a "onda Lula", chegou a ser produzido um manifesto e material de propaganda com o slogan "Quero Lula, quero Lúcio", até com a distribuição de adesivos de carro.
O prefeito de Sobral, Cid Gomes (PPS), irmão de Ciro, confirmou ontem o convite feito a Lula para um comício no município, que é administrado em parceria com o PT. "Vamos trabalhar lá para dar 90% dos votos de Sobral a Lula e pelo menos 80% a Lúcio." No primeiro turno, Ciro teve 77,27% dos votos do município e Lúcio teve 69,72% -Lula ficou com 12,9% e José Airton, com 11,20%.
Ciro também foi o campeão de votos em todo o Estado, com 44,49% dos votos, seguido de Lula, que teve 39,36%.
A campanha do PT vai manter a estratégia de vincular José Airton a Lula, mas vai ganhar um reforço de pessoal para conseguir produzir os programas no rádio e na TV. No primeiro turno, o partido tinha só 2 minutos no programa eleitoral; agora são 10 minutos.
"Temos o apoio nacional da equipe do [marqueteiro] Duda Mendonça, que analisa as produções para dar uma unidade na linguagem do partido", disse Fátima Bandeira, coordenadora da propaganda da campanha de Airton.
Em análises internas, o partido avalia que a estratégia de tentar vincular Lula a Lúcio pode ser prejudicial ao próprio tucano.
"É uma situação tão paradoxal, porque o Lúcio é o candidato apoiado pelo Fernando Henrique Cardoso e pelo Tasso Jereissati, que fica difícil para o eleitor acreditar que é verdadeira a chapa Lula-Lúcio", disse Fátima. "Além disso, com o reforço à candidatura de Lula, Airton vai ser beneficiado porque é número 13. Fica difícil 13 com 45", afirmou.


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