São Paulo, segunda-feira, 10 de outubro de 2005

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USO DA MÁQUINA

Casa Civil escondeu nome de filho de Dirceu

RUBENS VALENTE
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A Casa Civil da Presidência omitiu ao Ministério Público Federal, em ofício encaminhado pelo ex-ministro José Dirceu, a existência de planilhas produzidas pelo órgão que traziam as iniciais do filho do então ministro como um "parlamentar" interessado na liberação de emendas para municípios do interior do Paraná.
Segundo as investigações do Ministério Público Federal, entre 2003 e o início de 2004, José Carlos Becker, o Zeca Dirceu, teve apoio da Casa Civil para empenhar em seu nome recursos relativos a emendas ao Orçamento. Na época servidor do terceiro escalão do governo do Paraná, Zeca foi eleito pelo PT, em 2004, prefeito de Cruzeiro d'Oeste (PR).
A negativa da Casa Civil só foi desmontada no mês passado. Servidores do Planalto confirmaram a existência e o objetivos das planilhas, que permitiam ao governo Lula monitorar o andamento de cada emenda, estabelecendo a ordem de liberação dos recursos.
Aos procuradores, além de ter se recusado a falar sobre o caso e negado a existência de documentos, Dirceu omitiu que planilhas com o nome do filho poderiam ser localizadas na Secretaria de Coordenação Política, criada em 2004, que abrigou a Subchefia de Assuntos Parlamentares. Ontem, procurado pela reportagem, Dirceu não quis se manifestar.
O acesso a esses documentos era uma prioridade do Ministério Público, que investigou suposto benefício da Casa Civil ao filho de Dirceu, entre março de 2004 e a semana passada, a partir de reportagens publicadas pela Folha.
O procurador Luciano Rolim pediu por ofício à Casa Civil, em maio de 2004, que se manifestasse. Em 20 de julho, José Dirceu enviou ao então procurador-geral da República, Claudio Fonteles, ofício assinado pelo seu assessor imediato, Swedenberger Barbosa, secretário-executivo do órgão. "Os referidos documentos não constam dos arquivos da Casa Civil da Presidência", dizia o ofício.
No entanto, Gisele Tona Soares, ex-assessora do Planalto, indicada por Waldomiro Diniz (ex-assessor de Dirceu), contou que em 2003 houve uma reformulação do Saap (Sistema de Apoio a Assuntos Parlamentares). Segundo ela, se trata de um "sistema de informática com informações de dados cadastrais de parlamentares e projetos de interesses destes".
Gisele recebeu de Waldomiro "demandas relacionadas a relatórios do Orçamento da União de 2002 e 2003". Ela chegou a "pesquisar junto ao ministérios e órgãos federais, a pedido de Waldomiro, sobre o andamento de processos de repasses de verbas".
Waldomiro também deu à ex-assessora a orientação de acompanhar o andamento de "seis ou sete processos de interesse de Zeca Dirceu".
Em 2003, Gisele foi orientada por Waldomiro a elaborar, com Júlio César de Araújo Nogueira (assessor da subchefia de Assuntos Parlamentares da Casa Civil), planilhas com dados das emendas, separando-as por político, Estado e partido.

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