|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
USO DA MÁQUINA
Casa Civil escondeu nome de filho de Dirceu
RUBENS VALENTE
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Casa Civil da Presidência
omitiu ao Ministério Público Federal, em ofício encaminhado pelo ex-ministro José Dirceu, a existência de planilhas produzidas
pelo órgão que traziam as iniciais
do filho do então ministro como
um "parlamentar" interessado na
liberação de emendas para municípios do interior do Paraná.
Segundo as investigações do
Ministério Público Federal, entre
2003 e o início de 2004, José Carlos
Becker, o Zeca Dirceu, teve apoio
da Casa Civil para empenhar em
seu nome recursos relativos a
emendas ao Orçamento. Na época servidor do terceiro escalão do
governo do Paraná, Zeca foi eleito
pelo PT, em 2004, prefeito de Cruzeiro d'Oeste (PR).
A negativa da Casa Civil só foi
desmontada no mês passado. Servidores do Planalto confirmaram
a existência e o objetivos das planilhas, que permitiam ao governo
Lula monitorar o andamento de
cada emenda, estabelecendo a ordem de liberação dos recursos.
Aos procuradores, além de ter
se recusado a falar sobre o caso e
negado a existência de documentos, Dirceu omitiu que planilhas
com o nome do filho poderiam
ser localizadas na Secretaria de
Coordenação Política, criada em
2004, que abrigou a Subchefia de
Assuntos Parlamentares. Ontem,
procurado pela reportagem, Dirceu não quis se manifestar.
O acesso a esses documentos
era uma prioridade do Ministério
Público, que investigou suposto
benefício da Casa Civil ao filho de
Dirceu, entre março de 2004 e a
semana passada, a partir de reportagens publicadas pela Folha.
O procurador Luciano Rolim
pediu por ofício à Casa Civil, em
maio de 2004, que se manifestasse. Em 20 de julho, José Dirceu enviou ao então procurador-geral
da República, Claudio Fonteles,
ofício assinado pelo seu assessor
imediato, Swedenberger Barbosa,
secretário-executivo do órgão.
"Os referidos documentos não
constam dos arquivos da Casa Civil da Presidência", dizia o ofício.
No entanto, Gisele Tona Soares,
ex-assessora do Planalto, indicada por Waldomiro Diniz (ex-assessor de Dirceu), contou que em
2003 houve uma reformulação do
Saap (Sistema de Apoio a Assuntos Parlamentares). Segundo ela,
se trata de um "sistema de informática com informações de dados cadastrais de parlamentares e
projetos de interesses destes".
Gisele recebeu de Waldomiro
"demandas relacionadas a relatórios do Orçamento da União de
2002 e 2003". Ela chegou a "pesquisar junto ao ministérios e órgãos federais, a pedido de Waldomiro, sobre o andamento de processos de repasses de verbas".
Waldomiro também deu à ex-assessora a orientação de acompanhar o andamento de "seis ou
sete processos de interesse de Zeca Dirceu".
Em 2003, Gisele foi orientada
por Waldomiro a elaborar, com
Júlio César de Araújo Nogueira
(assessor da subchefia de Assuntos Parlamentares da Casa Civil),
planilhas com dados das emendas, separando-as por político,
Estado e partido.
Texto Anterior: Voto discreto: Deputado vota antes de urnas serem abertas Próximo Texto: Escândalo do "mensalão"/ PTxPT: Baixa votação no PT prejudica Berzoini Índice
|