São Paulo, quinta-feira, 10 de novembro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ HORA DAS PROVAS

Anderson Adauto (PL) admite ter recebido R$ 410 mil de Marcos Valério; tucanos ameaçam processá-lo por crime de responsabilidade

Ex-ministro diz que sempre usou caixa 2

Sérgio Lima/Folha Imagem
O ex-ministro Anderson Adauto, agora prefeito de Uberaba (PL-MG), depõe à CPI do Mensalão


ADRIANO CEOLIN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ex-ministro dos Transportes Anderson Adauto (PL) afirmou ontem em depoimento à CPI do Mensalão que usou caixa dois em todas campanhas eleitorais que disputou e que preferiu pedir dinheiro ao ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares em vez de usar recursos de fornecedores da pasta para pagar as dívidas do pleito de 2002, quando concorreu a uma vaga na Câmara dos Deputados.
"Sabia que poderia resolver [as dívidas de campanha] com os fornecedores [de serviços] do ministério, mas eu preferi procurar o Delúbio", disse Adauto, que atualmente é prefeito de Uberaba (MG). "Nas 11 campanhas que disputei sempre foi assim [com uso de caixa dois]. Nunca vi uma campanha se fechar da forma que é declarada no Tribunal Superior Eleitoral", afirmou Adauto.
Durante o depoimento, Adauto-que foi ministro entre janeiro de 2003 e março de 2004- confessou ter recebido R$ 410 mil do esquema de Marcos Valério de Souza depois de ter pedido ajuda a Delúbio Soares no começo de 2003. Valério, porém, diz que repassou R$ 1 milhão a Adauto.
"O Delúbio me disse que faria um empréstimo para me ajudar. Quem precisa dos recursos não entra nos detalhes. Não pergunta de onde vem", disse. Adauto afirmou que o fato de ser ministro não foi levado em conta. "E daí de eu ser ministro? Era um candidato recém-saído de uma campanha em que ficaram dívidas. Não vou me constranger por ser ministro."
O ex-ministro confirmou que os R$ 410 mil foram sacados numa conta de Valério no Banco Rural pelo ex-chefe de gabinete José Luiz Alves e por Edson Pereira de Almeida, irmão de Adauto. Contudo, ele nega ter recebido o dinheiro no gabinete do ministério, como havia dito Alves à CPI. "Posso ter recebido na rua, mas não no meu gabinete", disse.
O ex-ministro admitiu ter recebido Delúbio Soares "cinco ou seis vezes" no ministério. Ele contou ainda que realizou uma audiência com Valério enquanto era ministro. "Na época, a conta da agência de publicidade do ministério havia vencido", disse.
Os tucanos Júlio Redecker (RS) e Zulaiê Cobra (SP) afirmaram que Adauto poderá ser enquadrado em crime de responsabilidade e corrupção passiva, além de crime eleitoral. Os deputados se sustentam no fato de Adauto ter aceito recursos sem origem específica enquanto era ministro de Estado. "Ele vai para a cadeia", disse Zulaiê. "Adauto tenta nivelar por baixo e prostituir todos os políticos do Brasil", afirmou o deputado João Correia (PMDB-AC).

Petista
Ontem ainda, a CPI do Mensalão ouviu o depoimento de Marcelino Pies, ex-tesoureiro do PT no Rio Grande do Sul. Na lista de Marcos Valério, ele aparece como beneficiário de R$ 1,2 milhão.
Pies, porém, admite ter recebido R$ 1,05 milhão. Ele contou que os recursos foram usados para financiar projetos do PT no Estado, entre eles, a participação do partido no Fórum Social Mundial.
Ele afirmou que, no fim de 2002, o partido devia R$ 500 mil referentes à campanha de Tarso Genro ao governo. Segundo ele, as dívidas foram pagas com recursos do PT, que tiveram de ser repostos com dinheiro do esquema de Valério. Ele disse que recebeu o dinheiro em cinco parcelas. "Na primeira vez, eu mesmo fui à sede da SMPB em Belo Horizonte para pegar os cheques."


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