São Paulo, quinta-feira, 10 de novembro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ HORA DAS PROVAS

Para Osmar Serraglio, publicitário citou dado falso ao justificar operação de sua antiga agência de publicidade com o banco BMG

Extrato derruba versão de Valério, diz relator

CHICO DE GOIS
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

A CPI dos Correios apresentou ontem cópias de extratos da conta da DNA no Banco do Brasil que sugerem que R$ 10 milhões de um suposto empréstimo do banco BMG contraído por uma empresa do publicitário Marcos Valério de Souza em favor do PT e de partidos aliados saíram do BB.
A acusação de que dinheiro público foi utilizado para pagar partidos da base do governo foi feita na semana passada pelo relator da CPI, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR). Na ocasião, Serraglio sustentou que os recursos do BB, adiantados à DNA por autorização do ex-diretor de Marketing da instituição Henrique Pizzolato, foram parar nos cofres do PT.
Valério contestou, afirmando que tinha R$ 16 milhões depositados em conta e que o suposto empréstimo ao PT não se valeu de repasses do BB a suas empresas.
Ontem, Serraglio apresentou extrato segundo o qual em fevereiro de 2004 a DNA não tinha saldo na conta do Banco do Brasil. O único depósito que recebeu foi de adiantamento da Visanet, que tem o Banco do Brasil como acionista, em 15 de março daquele ano, no valor de R$ 34,8 milhões.
De acordo com os documentos distribuídos à imprensa, no dia 31 de março de 2004 o saldo da DNA no Banco do Brasil somava R$ 35 milhões. Em 16 de abril, a empresa resgatou R$ 1,2 milhão e, em 22 de abril de 2004, fez outro débito, de R$ 10 milhões.
Depois de resgatar o dinheiro no BB, a DNA aplicou, no mesmo dia, os recursos em Certificados de Depósitos Bancários (CDBs) do banco BMG.
E, ainda na mesma data, uma deliberação do conselho de cotistas da DNA autorizou a Rogério Lanza Tolentino e Associados a contrair empréstimo bancário no BMG "até o valor principal de R$ 10 milhões". Esse empréstimo foi efetivamente obtido quatro dias depois, tendo como garantia os CDBs do BMG.
"Esta é a comprovação de que eu não precipitei os fatos na semana passada", afirmou Serraglio.

Fragilidade
Ontem, advogados do publicitário encaminharam à CPI cópias de documentos para contestar as afirmações do relator. "Os argumentos dele são muito frágeis para pretender desacreditar uma relatoria que tem feito um trabalho sério", afirmou Serraglio.
"O Marcos Valério disse que tinha dinheiro em outras contas, mas os R$ 10 milhões que engrossaram o suposto empréstimo ao PT saíram do Banco do Brasil", disse o sub-relator Eduardo Paes (PSDB-RJ). "O único dinheiro que entrou na conta foram R$ 34,8 milhões. E se de lá saíram R$ 10 milhões que depois foram para o PT é dinheiro público, sim."
Valério foi procurado pela Folha para falar sobre as acusações da CPI. Sua assessoria de imprensa disse que daria uma resposta, mas isso não ocorreu até o fechamento desta edição.
O vice-presidente do BMG, Roberto Rigotto, disse que o banco fez uma "operação normal" ao emprestar dinheiro para a Rogério Lanza Tolentino. "Fiz uma operação segura, uma vez que o tomador do empréstimo deu como garantia a aplicação que tinha no banco", disse Rigotto.
Ele afirmou que, quando o contrato venceu, executou a garantia. "O que eles fizeram com o dinheiro não é problema meu."
Contrariando a informação de Rigotto, o BMG entrou recentemente na Justiça para cobrar a dívida de Valério. Além disso, o BMG recebeu orientação do Banco Central para classificar o empréstimo como "H", correspondente ao mais alto risco de calote no sistema financeiro.


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