São Paulo, terça, 10 de novembro de 1998

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INVESTIGAÇÃO
Para ministro, correspondência tinha "chantagem implícita"
Serra e Covas afirmam que cartas não tinham ameaça

CLÁUDIA TREVISAN
da Reportagem Local

O ministro da Saúde, José Serra, e o governador de São Paulo, Mário Covas, afirmaram ontem que as cartas sem remetente que receberam antes da eleição não traziam ameaças nem chantagens.
As cartas motivaram um pedido de investigação de Serra ao general Alberto Cardoso, chefe da Casa Militar e responsável pelo serviço de inteligência do governo.
Segundo Serra e Covas, nenhuma das cartas fazia referência à suposta conta bancária no exterior que teria sido mantida por ambos, pelo ministro Sérgio Motta (morto em abril) e pelo presidente Fernando Henrique Cardoso.
"Eu não recebi nenhuma chantagem. Eu recebi uma carta que não pedia nada", disse Covas. Segundo ele, cópia da mesma carta foi enviada ao ministro da Saúde.
O governador afirmou que a carta era "incompreensível", não tinha remetente e foi enviada do exterior. Além disso, os nomes dos signatários eram desconhecidos.
O estranho, segundo ele, é que a correspondência utilizava uma linguagem "cifrada, na tentativa de dar a impressão de que se estava falando a respeito de assunto do qual não se podia falar". Ou seja, para criar a impressão de que o remetente e o governador tinham um relacionamento e estavam ligados a um negócio suspeito.
Serra disse que os textos das cartas eram construídos como se os destinatários "soubessem de algo" -e algo que não poderia ser partilhado com o público.
"A carta dava a nítida impressão de que foi feita para depois ser usada", observou o governador. Covas recebeu uma carta. Serra, duas e alguns fax.
O ministro disse que pediu investigação sobre o caso porque as cartas, mesmo não fazendo chantagem, foram enviadas em um momento eleitoral e chamaram sua atenção por falarem "em códigos, contas etc.". Serra interpretou o conteúdo da carta como uma "chantagem implícita". Segundo ele, as correspondências também não tinham remetente e traziam signatários "fictícios".
A conta no exterior (Ilhas Cayman), que teria saldo de R$ 368 milhões, é mencionada em cópias de supostos documentos de um dossiê contra os tucanos que algumas pessoas tentaram vender antes das eleições.
O mesmo dossiê foi oferecido por emissários do ex-prefeito Paulo Maluf (PPB) a Marta Suplicy, segundo relato da candidata derrotada do PT ao governo. Ela diz que decidiu não divulgá-lo depois de constatar que se tratava de cópias de supostos documentos.
Covas e Serra estão convencidos de que Maluf foi um dos responsáveis pela tentativa de divulgação do dossiê. Mas dizem não saber quem está por trás da confecção dos documentos forjados.
Os dois afirmaram que vão processar os autores das cartas e do dossiê, caso suas identidades sejam reveladas. Com relação a Maluf, Covas disse que pedirá que seus advogados vejam se cabe alguma medida judicial. Maluf não quis comentar ontem o caso.



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